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Estudantes da SP Escola de Teatro se destacam no concurso de dramaturgia do Conservatório de Tatuí

Três estudantes do curso de Dramaturgia da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco se destacaram no 4º Concurso Estudantil de Dramaturgia do Conservatório de Tatuí.

Iça Simeão foi uma das premiadas do concurso, com sua peça “Me desculpe por ter estragado o jantar”.

Já Vitória Ricardo e Ana Bastos receberam menção honrosa, respectivamente com as peças “Disritmia” e “O que aconteceu na Linha Vermelha”.

Iça receberá um prêmio em dinheiro. Além disso, as dramaturgias das três escritoras serão publicadas ao lado dos outros escritores contemplados na Edição Extra nº 04 da Buli – Revista de Artes Cênicas do Conservatório de Tatuí, com lançamento previsto ainda para 2025.

“As estudantes selecionadas têm demonstrado muita aptidão para a escrita dramatúrgica, tanto quanto para o dramaturgismo, que requer, no primeiro caso, muita dedicação às várias versões de composição de um texto teatral, quanto aos estudos e pesquisa árdua sobre temas e conhecimentos gerais e específicos, que estão conectados à ideia de ser uma dramaturgista. Certamente essas qualidades atestam o vigor com que estão envolvidas em iniciativas tão relevantes, como a do Conservatório de Tatuí”, analisa Marici Salomão, coordenadora do curso de Dramaturgia da Escola.

O prêmio é uma iniciativa do Departamento de Artes Cênicas do Conservatório de Tatuí para fomentar o exercício dramatúrgico por estudantes vinculados(as) aos ensinos fundamental, médio, técnico e de graduação, a escolas e cursos livres, residentes em todo o estado de São Paulo.

+ Abertas as inscrições para o Prêmio Solano Trindade 2025 de dramaturgias de escritoras(es) negras(os). 

Confira mais sobre os trabalhos das estudantes premiadas

Iça Simeão

Iça Simeão é estudante de Dramaturgia na SP Escola de Teatro e formada em Artes Cênicas pelo Instituto de Artes da Unesp (2024). Estudou Dança Contemporânea da Escola Livre de Dança de Santo André, sua cidade natal. Entusiasta da música e da poesia, publica seus textos na newsletter “Novelos & Novelas”.

Sobre a peça “Me desculpe por ter estragado o jantar”: Um passeio por uma sala de jantar e membros familiares improváveis, com direito a guia turístico que apresenta detalhes imperceptíveis que escapam do olhar do público. Narrativa que tateia aspectos do Teatro do Absurdo com doses de bom humor, reflexões subjetivas e diálogos concentrados na simpatia. Na beira da palavra, uma investigadora das minúcias da vida, ora lúcida, ora esburacada. Um convite à quebra da lógica e um mergulho no real maravilhoso.

Conta Iça Simeão:

Li alguns contos da Clarice Lispector, do livro “Laços de Família”, e fui arrebatada por essas figuras contraditórias que pensam muito, que têm epifanias magistrais e que corrompem o seu cotidiano com o encadeamento absurdo de seus pensamentos. A imagem que havia capturado era a de uma toalha de mesa suja em um jantar à luz de velas. O processo foi sendo levado por essa vontade de escrever sobre alguém que sujaria a toalha da mesa, alguém que estragaria o jantar.

Este texto ressignifica para mim a ideia de obra acabada e de processo concluído, todas as ideias continuam se movimentando e girando engrenagens. Revisito a dramaturgia e não enxergo a imagem que iniciou tudo: a toalha suja e a vela acesa, o que me faz pensar que ela ainda pode vir à tona de outras maneiras — outro jantar terá que acontecer e outros escritos também. As imagens que ficam são as de uma mosca dentro de uma gaveta, as solas de sapatos sujas de amoras e uma taça de vinho quebrada. O jantar é uma refeição diária e ele sempre pode sofrer imprevistos, alguém sempre pode vir a estragá-lo. E uma dramaturga sempre terá uma ideia nova.

O reconhecimento do Conservatório de Tatuí é uma grande alegria, mas a felicidade maior é saber que espaços de trocas e fomentos à dramaturgia estão sendo promovidos por importantes instituições do teatro. Agradeço à SP Escola de Teatro por desenvolver um trabalho tão precioso para estimular nosso olhar crítico e nossa urgência pela escrita. Que as novas vozes sigam sendo encorajadas!

Vitória Ricardo 

Vitória Ricardo é estudante de Artes Cênicas na Universidade de São Paulo. Nascida em Ribeirão Preto e residente em São Paulo há 2 anos. Formada em técnico em Teatro pelo Senac Ribeirão Preto, em 2019, cursando atualmente o técnico em Dramaturgia pela SP Escola de Teatro. Uma pessoa preta não-binária que atua também como arte-educador em cursinho popular voltado para prova de habilidades da Fuvest.

Sobre a peça “Disritmia”: O texto mergulha em um clima de crescente apreensão. A trama acompanha um coletivo de ativistas à frente de um aplicativo para registrar denúncias contra a violência policial, confrontados pelo súbito desaparecimento de Mar, uma figura essencial em sua organização. A inclusão de personagens não-binários, explicitada na nota inicial, sinaliza uma intenção da autora de confrontar as estruturas sociais de gênero e raça, permeando a narrativa com discussões contemporâneas sobre identidade e poder.

Conta Vitória Ricardo:

A narrativa acompanha cinco personagens que desenvolveram um aplicativo voltado ao registro de denúncias contra a violência policial. Após o desaparecimento de um dos membros do grupo, os demais se veem diante de uma difícil decisão: excluir a plataforma pela qual tanto lutaram ou enfrentar as consequências de mantê-la ativa. A história é protagonizada por pessoas pretas e transexuais, destacando a urgência de pautas minoritárias em um país marcado pelo racismo e pela transfobia.

O texto surgiu a partir do incentivo dos coordenadores e artistas docentes da SP Escola de Teatro, por meio do projeto Singular, que estimula os estudantes a desenvolverem textos autorais. A proposta convida os alunos a explorarem suas próprias vontades e inquietações na escrita, criando obras pessoais que, posteriormente, são lidas e recebem retornos construtivos para aprimoramento.

Ana Bastos

Ana Clara Bianchi Bastos

Ana Bastos é atriz e escritora, criada em Americana, no interior do estado de São Paulo. Interessada pela escrita e pelo teatro desde os 12 anos, se mudou para a capital em 2022, onde se formou como atriz pela Oficina de Atores Nilton Travesso. Atualmente é estudante de dramaturgia pela SP Escola de Teatro e pesquisa a cidade de São Paulo e seus atravessamentos.

Sobre “O que aconteceu na Linha Vermelha”: Um retrato real e cruel da cidade São Paulo através do sistema de transporte metroviário e seus índices de pessoas levadas ao suicídio. O texto convoca um olhar a um cotidiano esmagador, aos recortes sociais atribuídos à metrópole e a corrida à cavalos do capitalismo em direção ao adoecimento. Com quebras épicas em uma estrutura dramática, as personagens compartilham com o público a dolorosa locomoção na maior cidade da América do Sul.

Conta Ana Bastos:

Essa dramaturgia nasceu dentro da SP Escola de Teatro, a partir de um exercício do projeto Singular nas aulas de Dramaturgia. Foi uma escrita despretensiosa, mas que foi de desdobrando. Como a Marici Salomão sempre nos fala que precisamos escrever sobre um tema que nos é muito caro, decidi falar de São Paulo. Sou do interior, moro aqui há três anos e ainda sou muito atravessada pela cidade. Quis falar desse caos da cidade, das coisas que vão acontecendo todos os dias e vão nos anestesiando, que vai virando o normal. Decidi colocar a peça na estação da Sé, na linha vermelha do metrô, pois acredito que o metrô determina muito o espaço geográfico da cidade. 

Na história, exploro a questão do suicídio no metrô. É um acontecimento muito comum e que costuma ser apagado. Falam que tem um passageiro na via, fecham a estação, retiram o corpo, e logo o fluxo é retomado. A cidade está em constante movimento e tudo rui quando o fluxo é interrompido. Também quis pensar no suicídio de uma perspectiva socioeconômica, pensando em como a vulnerabilidade social pode levar a pessoa a tomar essa decisão. 

A linha vermelha faz parte do meu cotidiano, eu a uso todo dia para ir para a Escola, para a Roosevelt ou para o Brás. Então quis escrever sobre ela para ampliar meu olhar, olhar para as pessoas, olhar para a cidade, fugindo de um olhar anestesiado. É um texto ainda em processo e quero achar o tom certo, mas que não tenha medo de abordar um tema tão pesado. É um texto realista, mas que em alguns momentos trabalha com uma linguagem mais surrealista. 




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