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Pink Star reforça nossas possibilidades quanto sociedade e cultura, frente à decolonização de nossas estruturas

Por Celso Faria*

Pink Star, peça montada em 2017, volta em versão online, na primeira edição 1ª Mostra Aldir Blanc na SP Escola de Teatro. Criação d’Os Satyros, a montagem integra a Trilogia do Antipatriarcado que mergulha na fluidez da sexualidade, amparada nas reflexões de Judith Butler e Paul B. Preciado. Assim, Purpurinex Brilhante é assassinada e a dramaturgia propõe-se a investigar possíveis suspeitos, revelando as complexas relações entre família, amores e o universo queer.

Sem definição de gênero e já questionadora antes mesmo de nascer, Purpurinex poderia classificar-se como Macunaíma a la butler-preciado. E se a proposta é questionar o patriarcado, elx nasce pelo cu, reivindicando o protagonismo anal, proposto por autores como Javier Saez e Sejo Carrascosa. Logo, se é dado o fim da heroína nas primeiras cenas, cabe ao espectador compreender o motivo de tal sina.

Cena de Pink Star. Foto: Silvio Eduardo

Para isso, os dramaturgos Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez apresentam a família, amigos e amores. Enquanto propõe-se a viver um poliamor com quatro integrantes, sendo uma delas um robô, a parentada pode ter saído da avenida Paulista vestida de verde-amarelo, pedindo o fechamento do Congresso Nacional.

Depois de 5 séculos, em 2501, a distopia reforça que em tempos de abertura de costumes, a tradição – e o medo dela – subsiste e tem esse jeitão vigente: religião, arma e porrada ao diferente. Ou melhor, e não poderia ser mais hodierno, tem o feitio de Ricardo Salles levando seu assessor armado para falar na Polícia Federal. Enfim, o mundo real realmente virou uma grande distopia.

A direção de Vázquez propõe um universo próprio e verossímil à dramaturgia. Os elementos do teatro performático, próprios d’Os Satyros, é transposta para as telas do Zoom com inventividade. A estética borrada tanto da fricção entre personagens e intérpretes, tanto das muitas cores e estampas, levam o público imediatamente ao universo habitual do coletivo.

Depois de mais de um ano de teatros físicos fechados por causa da pandemia da Covid-19, vários grupos de teatro experimentam-se no teatro digital. Por sua vez, a companhia da Praça Roosevelt apropriou-se da linguagem sem reservas, inclusive criando o Espaço Satyros Digital. Então, o Zoom, suas caixas, delays e por aí vai não são aceitas enquanto o presencial não vem, muito pelo contrário, vem como propositura criativa.

‘Pink Star é o centésimo espetáculo da Cia. Os Satyros. Foto: Andre Steffano/Divulgação

O elenco diverso é composto por Alessandra Nassi, Alex de Felix, Anna Kuller, Beatriz Ferreira, Bruno de Paula, Cristian Silva, Diego Ribeiro, Dominique Puzzi, Elisa Barboza, Felipe Estevão, Guilherme Andrade, Heyde Sayama, Ícaro Gimenes, Ingrid Soares, Julia Francez, Karina Bastos, Luis Holiver, Maiara Cicutt, Marcia Dailyn, Roberto Francisco, Silvio Eduardo e Vitor Lins. Então, cantam, dançam, interpretam e jogam-se entre os limites da cena.

Cena realizada na cumplicidade dos intérpretes, isoladamente, a partir do seu quadrado próprio no Zoom, simultaneamente e ao vivo. Para isso, apoia o elenco e reforça a estética do encenador no trabalho de direção de arte de Adriana Vaz, ao lado de Letícia Gomide. A sonoplastia de Felipe Soares, operada por Silvio Eduardo. A preparação vocal de André Lu e assistência na produção de Gustavo Ferreira.

Pink Star, nessa versão online, reforça nossas possibilidades quanto sociedade e cultura, frente à decolonização de nossas estruturas, crenças e sexualidade. Os Satyros sempre propõem esse olhar para o além, como utopia, não na impossibilidade de realizá-lo, mas naquele que é preciso mirar.

E que daqui 5 séculos Bolsonaros, Salles e Damares sejam apenas um pedaço de uma história que se foi. Não que o contraditório deixe de existir, pois é necessário para que o novo venha. Mas que a destruição do outro diferente a mim não seja mais a tônica de uma fé (ora religiosa, ora de visão de mundo).

*Celso Faria é idealizador e produtor de conteúdo para o Canal de Cultura e-Urbanidade e o Podcast Rolê Urbano. Mestre em Educação pela UFG e Especialista em “Mídia, Informação e Cultura” pelo CELLAC/USP

O jornalista e crítico Celso Faria, do @blogeurbanidade, um dos 12 comunicadores convidados da Mostra Aldir Blanc na SP Escola de Teatro - Foto: Edson Lopes Jr.

O jornalista e crítico Celso Faria, do @blogeurbanidade, um dos 12 comunicadores convidados da Mostra Aldir Blanc na SP Escola de Teatro – Foto: Edson Lopes Jr.

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