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Oficina Olhares: “Se algo de fato existe, ele é feito de carne e sangra”, por Clara Prado

Por Clara Prado, participante da oficina Olhares, especial para SP Escola de Teatro

Se algo de fato existe, ele é feito de carne e sangra

Reflexões a partir da peça/performance/testemunho “Capítulo IV: A Topografia do Carneiro” do coletivo A Ovelha

“Agnus Dei”, Francisco de Zurbarán (1635)

um carneiro de carne e osso é apenas exatamente isso. um quadro de um carneiro abatido, sacrificado e amarrado se torna símbolo passível de apreensão, interpretação, projeção.

o que vemos quando olhamos um carneiro?

alexandre marchesini, aos quarenta anos, viu, por 9 horas, algo que só se faz exprimível por meio da experiência teatral “Capítulo IV: A Topografia do Carneiro”. no limiar entre verdade e ficção, performance e narrativa, a imagem do carneiro, assim como da ovelha, circulam com as mais variadas significações.

o que vemos quando olhamos um carneiro?

é uma pergunta que se abre e abriga as mais diversas reflexões do espetáculo sobre o poder das imagens, a relação entre representação e realidade, o mundo natural e o mundo artificial.
o que é de verdade?

um quadro projetado; um microfone que não funciona; um saco cheio d’água no qual boia um bonequinho de ovelha, passado de mão em mão; sangue, pelos, uma cabeça, todos falsos; e as narrativas contadas com um tanto de absurdo.

todos os elementos da peça nos deixam o questionamento sobre o que, de fato, existe. o que podemos tocar, compreender, se apropriar. principalmente em momentos de crise.

a única coisa da qual não se duvida é o corpo que se faz presente, que encarna o vivido e o real, que é veículo de expressão e expressividade. todos os corpos em cena, nos momentos de dança mas também de profundo silêncio, são a única verdade da cena, conseguem ultrapassar as fronteiras entre verdade e mentira e, assim, comunicar. ou, melhor, fazer sentir.
saímos da peça sem saber na íntegra o que foi apresentado, o que suscitou a apresentação e quais serão seus desdobramentos mas saímos com a certeza de que, se algo existe, esse algo é de carne e sangra. este algo é um corpo, a única coisa que consegue se dizer sem palavra alguma.

* Clara Prado está cursando o primeiro ano de graduação em Letras na FFLCH-USP e tem um interesse especial por poesia, crítica e teatro. participou do Curso Livre de Preparação de Escritores (CLIPE Jovem) da Casa das Rosas no primeiro semestre de 2021, assim como de um grupo de estudos sobre dramaturgia promovido pelo Projeto Frestas. trabalhou voluntariamente como professora de português e redação em um cursinho voltado para jovens de escola pública, focado no preparo para provas de Ensino Médio. atualmente, faz um curso de teatro também do Projeto Frestas e é da equipe editorial de uma revista literária do curso de Letras que ainda está em formação.




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