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Oficina Olhares: “Mamões maduros e corpos notícias!” por Manfrin Manfrin

Publicado em: 06/12/2021 |


por Mandrin Manfrin, participante da oficina Olhares, especial para SP Escola de Teatro

 

Mamões maduros e corpos notícias!

A apresentação da versão digital de “Sapathos” desta sexta-feira foi permeada, a todo momento, por um tom nostálgico. Talvez pelo anúncio épico da tradução do espetáculo para a versão online, seguido por imagens de uma peça que já ocorreu. Corpos. Luzes. Foto. Fotos. A trilha toca um jazz. Sapatos. Eu tenho um sonho: que não existem apenas dois lados da moeda. Preto e Branco. Binário. Começa aí um pedido de mais ângulos da mesma vida. Eu tenho um sonho: bordar entre o preto e o branco. Bordar, como uma linha de costura. Que, aprisionado no próprio corpo, pisa na borda do sonho. Mas quando pisar, pise suave. Suave como se bate em tambores com luzes vermelhas; ou quando uma diva bota uma peruca.

Uma obra que se insere na tradição do chamado Teatro Digital, nos apresentando opiniões autorais, sempre através de quadros de solilóquios fragmentados, sobre diversos temas: boca. 2015. Brasil. 2019. Nova York. 2020. Adequação sexual. Fevereiro de 2020. 11 pessoas. Brumadinho. 1 bilhão de animais. 2020. Coronavírus. China. Setembro. 2011. Rinoceronte Negro. Extinto. 100 minutos. 2019. 500 mulheres e 24 homens. 132 anos em 2020. Se o racismo terminasse hoje eu ia ao shopping de chinelos.

Tela de Anderson. Brumadinho. Resposta de Anderson. Voz diz que é preciso evacuar o espaço com emergência, abandonar tudo e evacuar. Procure o local mais alto da cidade para se proteger. Correm. Pega o mamão. Pega na minha mão. Brumadinho é uma ferida nacional que nunca conseguiremos falar. Eu não consigo.

Inclusive essa ferida que é esse e outros genocídios no Brasil são escancarados com sequência de narrações e depoimentos acompanhados de jogos de imagens. Vejam “Baraka”, de Ron Fricke. A ferida e o mamão não me deixam cicatrizar. O mamão e o trauma da criança. Da criança adulta ou da criança húngara. O ataque sexual do adulto. O mamão ao cicatrizar quer obedecer e agradar quem lhe devora, ou, vulgo, seu agressor. Urgência novamente. Trauma de urgência. Na mesma cesta está o mamão maduro, o mamão adulto, a criança adulta, o fruto e a criança mamão. É muito fruto para um bico de pássaro só. O bico do pássaro ao machucar o fruto o obriga a crescer. O medo diante do adulto, ou da criança adulta… Cuidado: nessa história fiquei com vontade de ser mamão picado para ficar madura e mais gostosa. Será? Será que é bom mesmo e devemos naturalizar a bica dos pássaros?

Vocês já foram picados pelo pássaro? Como foi essa picada? Me diz. Me diz aqui se alguém amadureceu naturalmente?

*Manfrin Manfrin é mestra em Artes Cênicas pela USP na área de Teoria e Prática do Teatro. É dramaturga, performer, atriz, diretora, arteducadora e pedagoga de gênero. É formada em Artes Cênicas e Interpretação Teatral pela UnB e Direção Teatral pela UFBA. Defendeu este ano sua pesquisa de mestrado intitulada “Práxis Queer da cena: Percurso de corpos travestigêneres e trans não Binários nas artes cênicas contemporâneas brasileiras” sob orientação do estudioso de Teatro e Gênero Prof. Dr. Ferdinando Martins, professor da USP. É auto das obras autobiográfica “fRuTaS&tRaNs-GRESSÃO. Histórias para Tangerinas e Cavalas-Marinhos.”(2018); “COCO!” (2019); “FURA! ou um objeto de penetração!” (2020) e “Cartas Para(Ti)” (2021).




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