O TBT desta quinta-feira, 28, relembra as entrevistas cedidas por Brenda Oliver e Flávia de Araújo, colaboradoras transsexuais da SP Escola de Teatro, para o canal de Youtube da instituição em 2012. 10 anos depois, ambas continuam na equipe da instituição e se aperfeiçoaram profissionalmente, como é o caso de Flávia, que com o apoio da instituição, estudou muito e atualmente é bacharel em letras português/ inglês pela Uniesp, técnica em biblioteconomia pelo SENAC, e foi promovida à assistente de Biblioteca.
Entre 2000 e 2012, a praça Roosevelt, onde fica localizada uma das sedes da SP Escola de Teatro, passou por um intenso processo de revitalização cultural. Nesse contexto, a Instituição foi um dos expoentes desse movimento que mudou a lógica urbana desse espaço. A região que era cheia de prédios abandonados, focos de criminalidade e prostituição foi altamente valorizada, isso ocorreu principalmente por conta da ação dos grupos teatrais, com o Satyros e Parlapatões, que trouxeram segurança para o bairro. Nesse processo de ressignificação, o teatro recuperou a memória da praça, um espaço que, por volta da década de 1950 e 1960, era de grande efervescência cultural. Próximo ao famoso Teatro de Arena, foi o berço do Cinema Novo e da Bossa Nova paulistana.
No entanto, por conta da especulação imobiliária que acompanhou esse movimento artístico potente, muitas transsexuais e travestis que viviam na praça perderam seu espaço. O diretor executivo da escola, Ivam Cabral, em depoimento para o vídeo, conta que foi pensando nisso que a SP, por intermédio do programa Oportunidades, determinou a ação de oferecer vagas CLT na instituição para essa população:
“As portas da SP Escola de Teatro são sempre abertas para travestis e transsexuais, uma atitude cidadã, é assim que nós vemos o mundo, pois é nesse mundo que acreditamos.”
Há 10 anos , a escola celebrava a contratação de algumas das primeiras trans que passaram a integrar o quadro de colaboradores da escola, Brenda Oliver e Flávia de Araújo. Em função disso, a equipe de comunicação da escola preparou um vídeo especial, no qual elas contam um pouco mais sobre essa experiência, revelam a importância da iniciativa e agradecem pela oportunidade:
“Foi minha primeira oportunidade de trabalho com carteira assinada e benefícios. Esse foi meu primeiro emprego. Independentemente da minha área de conhecimento, eu procurava outras profissões aí fora, como telemarketing e tantos outros, e nunca tive portas abertas.” Comenta Flávia.
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Em meio a uma realidade de frequente preconceito e violência avassaladora, a SP é uma das instituições pioneiras na questão da empregabilidade trans, pois desde sua fundação criou vagas exclusivas para recepcionistas trans e, atualmente, ao menos 10% de seu quadro de colaboradores é formado por pessoas que não se identificam com a cisgeneridade, em setores como pedagogia, biblioteca e diretoria executiva. Brenda comenta a dificuldade que muitas transsexuais e travestis encontram no mercado de trabalho,:
“A maioria atua na área da beleza, muitas porque gostam, mas algumas porque não tiveram escolha, foram obrigadas a ingressarem na área. Eu não tenho nem palavras pra agradecer o carinho que essas pessoas têm por mim, o primeiro dia que eu vim pra cá, fui apresentada em todos os setores da escola, inclusive nas salas de aulas, e fomos muito bem recebidas, principalmente pelos profissionais da instituição.”
