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Ingrid Koudela: “O teatro vem cumprindo esta tarefa de resiliência e acompanhando os desafios atuais”

Publicado em: 01/10/2021 |

Ex-aluna de Paulo Freire, o patrono da educação brasileira, Ingrid Dormien Koudela também empreendeu no campo da pedagogia. Ela marcou a trajetória de centenas de professores, pesquisadores e artistas do ramo e das artes cênicas.

Sendo referência na área de didática do teatro, escreveu inúmeros títulos sobre o tema, tais como: Um Vôo Bretchiano (1992);“Heiner Muller – O Espanto no Teatro (2003) e Jogos Teatrais (2006). Além disso, ela é especialista em Brecht, professora livre-docente de didática e prática de ensino em artes cênicas da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP, e tradutora, ofício pelo qual recebeu o prêmio Jabuti, por seu trabalho com a obra “Buchner: Na Pena e na Cena”.

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Tendo vertido para o português toda a obra de Viola Spolin, a professora ganhou espaço como a principal desenvolvedora do sistema de jogos teatrais, os quais introduziu no Brasil na década de 1980. Baseado na proposta de Spolin, o jogo teatral possui atualmente um extenso escopo e pode ser amplamente utilizado no trabalho pedagógico com crianças e adolescentes. Em paralelo à prática do jogo teatral em escolas regulares e centros culturais, o método de Viola Spolin vem sendo adotado em escolas de teatro, além de contribuir para a formação de inúmeros atores e professores nas universidades ao redor do Brasil.

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Em entrevista  exclusiva à SP Escola de Teatro, Ingrid disserta sobre sua experiência como educadora frente aos desafios pedagógicos do ensino remoto e comenta suas expectativas acerca do rumo da educação artística brasileira neste cenário atual desafiador; confira a seguir:

2020 e 2021 têm sido anos desafiadores para o Teatro no mundo todo, principalmente no Brasil, em que a pandemia esteve por muito tempo descontrolada. Mas, o Teatro Digital foi fundamental para a arte resistir. Para você, uma grande pesquisadora da área, o que foi fundamental nesse período para o teatro resistir? Você acha que o teatro mudou para sempre nestes tempos de pandemia?

Estamos passando por um período de grandes transformações sociais. O teatro está acompanhando os desafios colocados em 2020 e 2021.  Temas relevantes e preconceitos de toda ordem vem sendo combatidos através de grupos de teatro que constituem ¨ilhas de desordem no mar de nossa ordem capitalista¨. Heiner Müller previu que ¨… no futuro, apenas pequenos grupos terão uma qualidade politica e estética¨. O teatro vem cumprindo esta tarefa de resiliência.

 Como você enxerga todas essas mudanças na pedagogia teatral nos últimos anos?
¨Teatral¨ é um adjetivo. Falamos hoje na forma substantiva em uma Pedagogia das Artes Cênicas. O conceito de teatro é assim ampliado, incorporando as Artes Cênicas da Dança, da Música e das Artes Visuais. São artes da cena.

Qual a diferença do processo pedagógico com esses  jovens tão tecnológicos de 2021?Esses jovens manejam, melhor do que eu, os recursos tecnológicos. Aprendo com eles!

Como foi sua experiência em  trabalhar no universo online?
Vem sendo um aprendizado! Estou dando aulas online, inicialmente no Curso de Especialização em Arte-Educação da ECA/USP. Eram 58 alunos. Foram 5 encontros de três horas e o resultado me animou a propor um Curso de Pós-Graduação online strictu sensu através do Curso de Pós-Graduação em Artes Cênicas na ECA/USP. Trabalho nestes cursos de maneira teórico-prática, em especial com a prática de jogos teatrais. Para minha surpresa e também de acordo com minhas expectativas os alunos tem respondido positivamente ao rompermos a telinha através do jogo teatral. Vimos trabalhando com performances e jogos. O jogo modifica o  quadradinho que aprisionava e torna possível a presença alegre!

Quais são as boas experiências do ensino online que podem ser adotados no ensino presencial agora nessa retomada?

Uma boa experiência está sendo o encontro, em especial no Curso de Pós-Graduação, com alunos distantes geograficamente. Tenho alunos da Bahia, de Mato Grosso, de Ribeirão Preto, de Santos entre outros. O encontro presencial vence distancias geográficas. Tenho participado de Lives na Alemanha e tantos outros lugares. Embora vá acontecer a tão apregoada retomada presencial, as crianças, os jovens, os adultos do futuro estarão sempre em contato com internet e o ensino online. A meu ver o aprendizado da tecnologia deveria ser levado a sério, em especial no Ensino Fundamental.

Em relação ao centenário de Paulo Freire, gostaria que você falasse um pouco a importância deste marco na educação brasileira, principalmente neste momento em que a pedagogia dele tem sido tão atacada, infelizmente.

A importância de Paulo Freire é inegável. Tanto no Brasil como a nível internacional nosso filósofo traz ensinamentos que além de serem marcos na Pedagogia e Didática são urgentes em nossos dias. A comemoração do centenário está propiciando uma ampla divulgação de sua obra entre leigos e especialistas.

Viva Paulo Freire!

Por Luiza Camargo, com colaboração de Letícia Polizelli.

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