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100 anos de Paulo Freire: saiba mais sobre o patrono da educação brasileira e grande referência da pedagogia mundial

Publicado em: 22/09/2021 |

Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997), o patrono da educação brasileira, completaria 100 anos no último domingo, dia 19 de setembro de 2021. Mundialmente reconhecido e respeitado, seu legado deixa uma marca não somente na educação nacional. Por meio da proposta de uma educação horizontalizada e com desenvolvimento de senso crítico, Freire revolucionou a prática pedagógica, representando a educação popular e libertadora.

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Vida e trajetória

“Me movo como educador, porque, primeiro, me movo como gente”.

Filho de Joaquim Temístocles Freire e Edeltrudes Neves Freire, Paulo Freire nasceu em Recife (PE), onde permaneceu até 1931 quando a família se mudou para o município vizinho, Jaboatão dos Guararapes (PE). Sua infância foi humilde e cresceu vivenciando uma realidade de intensa desigualdade social. Em sua obra A Importância do Ato de Ler (1989), revela que foi alfabetizado pela mãe, com gravetos e debaixo de mangueiras.

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Quando tinha 13 anos, em 1934, seu pai faleceu e por isso adiou seus estudos. Somente aos 16 anos ingressa no Colégio Oswaldo Cruz, em Recife, mesmo lugar onde mais tarde ministraria aulas de Língua Portuguesa. Formou-se na Faculdade de Direito em Recife, em 1946, e lá conheceu a educadora Elza Maria Costa de Oliveira, com quem se casou e teve cinco filhos.

Em 1955, Paulo Freire se manifesta pela primeira vez pelo o que hoje conhecemos como a educação popular, liderando a fundação Instituto Capibaribe, a qual tinha por objetivo contrapor a educação conservadora que imperava na época. Entre 1954 e 1957, além de assumir cargos públicos como membro do Conselho Consultivo de Educação de Recife, exerce a função de superintendente do SESI. Além disso, é convidado pelo II Congresso Nacional de Educação de Adultos no Rio de Janeiro, para apresentar a base da teoria que compõem seu sistema de alfabetização de adultos. Em 1959, Freire tornou-se Doutor em Filosofia e História da Educação na Escola de Belas Artes de Recife.

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O pós Golpe Militar

“A educação não transforma o mundo, a educação transforma as pessoas e as pessoas mudam o mundo.”

Após o golpe militar, Paulo Freire foi preso em Recife e confinado por cerca de 70 dias. Seu Plano Nacional de Alfabetização, inicialmente aprovado por João Goulart em 1964, foi vetado pelos militares. Freire foi exilado e obrigado a emigrar para o Chile onde permaneceu até 1969. O plano era constituído de títulos como Saber para Viver e Viver é Lutar, nos quais o processo de alfabetização era considerado principalmente como uma tomada de consciência e uma potencial transformação da realidade.

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Obras

Sendo também, além de educador, filósofo e pensador, muitas foram as obras de Freire; confira algumas!

Pedagogia do Oprimido

“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”

Nesta obra escrita em 1968, é analisada a contradição opressor-oprimido, examina-se a opressão a partir de ambas as percepções e chega-se à conclusão de que “os homens se libertam em comunhão”. Ao longo do livro, o autor faz um estudo de duas concepções, as bancárias e as que problematizam a educação, ele chega a conclusão referendada de que os homens se educam entre si, divulgados socialmente pelo mundo. Além disso, discute-se a relação entre a essência da educação como prática da liberdade e o diálogo, Freire trabalha as possibilidades que conscientizam a metodologia dos temas geradores dentro do conteúdo programático da educação.

Segundo o estudioso Alexsandro Medeiros, autor do artigo Humanização versus Desumanização: Reflexões em Torno da Pedagogia do Oprimido: “a Pedagogia do Oprimido pode ser entendida como uma Pedagogia Humanista que luta pela humanização, pelo trabalho livre, pela desalienação, pela afirmação dos homens como pessoas, como “seres para si””.

Educação como Prática de Liberdade

“A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa”

Escrita durante 1967 no período em que Paulo Freire esteve exilado, a obra Educação como Prática de Liberdade trata primordialmente da função libertadora da educação, que tira os seres humanos da condição de oprimido e os insere na sociedade como forças transformadoras, críticas e politizadas. Dividido em quatro partes, o autor primeiro manifesta sua opinião interpretando a situação das forças políticas que disputavam o poder no início de 1960, depois resgata momentos da história brasileira para argumentar contra o Golpe de Estado e define uma concepção pedagógica antagônica à pedagogia tradicional para, por fim, comentar suas experiências com o Método de Alfabetização de Adultos realizadas no período pré-golpe.

Pedagogia da Autonomia

“A autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, é processo, é vir a ser. Não ocorre em data marcada. É neste sentido que uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em experiência respeitosas da liberdade.”

Pedagogia da Autonomia, última obra escrita por Paulo Freire em vida e publicada em 1996, norteia os aspirantes a educadores, críticos e autores em seu processo de formação. No livro o autor aprofunda sua teoria-ética voltada para liberdade, a verdade e a autenticidade dos sujeitos e contra a lógica do capital.  A ideia de que a educação é um processo humanizador, político, ético, estético, histórico, social e cultural é a base da filosofia que Freire apresenta na obra. Tais saberes, por sua vez, revelam pressupostos acerca da figura do professor, tais como; a necessidade de ser curioso, humilde, competente, e além de tudo um ser pensante e generoso consigo mesmo e com seus educandos. É papel do professor adentrar a sala de aula disposto a conduzir o aluno a construção do conhecimento e não apenas transferir as informações. A obra também reflete acerca da quebra da exigência que pode envolver o ato de ensinar e beneficiar a relação entre professores e estudantes.

Sob essa lógica pedagógica é que se desenvolve a dinâmica escolar dentro da SP Escola de Teatro, é inclusive a ideia presente num trecho da obra Pedagogia da Autonomia que constitui um dos alicerces da instituição “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. Tal afirmação desprende professor e aluno de corresponderem aos papéis sociais pressupostos nas relações do professor/aluno, ou seja, possibilita uma maior emancipação do estudante/artista.

Em suma, ele é um dos grandes pensadores da pedagogia mundial e se eternizou nos muitos professores, diretores, alunos, críticos e pesquisadores que educou.

Não se pode falar de educação nacional sem Paulo Freire!

 Por Letícia Polizelli 

Edição e orientação Luiza Camargo




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