Criar um texto que partisse de um ponto de vista e gerasse outros, periféricos. Esse era o objetivo de uma das aulas do curso de Dramaturgia da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, ministrada pelo formador Alessandro Toller, no final do semestre passado.
Na hora de colocar em prática suas ideias, Heloísa Cardoso, uma das aprendizes que participavam da atividade, logo pensou em reunir duas de suas pesquisas em um único texto. Uma delas, mais antiga, era sobre o universo feminino. A outra, na qual estava envolvida naquele momento, tinha como objeto o suicídio. Nesse tema, adotou como referência o sociólogo francês Émile Durkheim, que no livro “O Suicídio” (1897), desenvolveu um profundo estudo indicando como o ato suicida está relacionado com o meio social que cerca o indivíduo.
Passados alguns meses, o resultado dessa proposta, que levou o título “MANUAL doispontos Insaciável barra Mórbida”, agradou a comissão julgadora do 2º Concurso Jovens Dramaturgos, do Espaço Cultural Escola SESC, e fez com que o nome de Heloísa figurasse entre os vencedores.
“Foi uma criação muito livre, tanto que utilizei como personagens alguns objetos e animais. Fiquei muito interessada pelo tema, por pensar em um corpo vivo envolvido em uma situação de suicídio”, comenta a autora, sobre o processo criativo do texto que a premiou logo em sua primeira participação em um concurso de dramaturgia. Os ganhadores serão contemplados com a publicação das obras e com uma leitura dramatizada delas, entre outras recompensas.
A aprendiz em ensaio de “O Quarto Ausente”, peça de sua autoria (Foto: Divulgação)
Mesmo com a felicidade e surpresa de ter seu trabalho reconhecido pelo prêmio, a aprendiz não se acomoda e revela que tem, ainda, dois projetos paralelos. O primeiro é feito ao lado de seu grupo, o Chá das Cinco de Teatro, que está em processo com uma peça de sua autoria, “O Quarto Ausente”, na qual também desempenha o papel de atriz. A previsão de estreia da montagem é para o primeiro semestre de 2013. “É esquizofrênico ocupar as duas funções ao mesmo tempo, de dramaturga e atriz, pois preciso me apropriar de mim mesma”, observa.
Enquanto isso, Heloísa está escrevendo uma adaptação teatral de “Notas de Subsolo”, obra de Fiódor Dostoiévski, que deve ser levada aos palcos ainda neste ano.
Ao que parece, o sonho de infância da aprendiz vai se concretizando a cada dia. Apaixonada pelo teatro desde os seis anos, ela testemunha agora, aos 20, o despontar de seu potencial dramatúrgico. “Comecei a fazer teatro porque era uma criança muito tímida, introvertida, e me encontrei”, lembra, comentando que, desde então, atuou em várias montagens amadoras e na Escola Superior de Artes Celia Helena, onde estudava antes de entrar para a SP Escola de Teatro.
“Em uma aula de dramaturgia, senti que meu texto repercutiu. A partir disso, o interesse pela área tomou conta de mim. Foi então que conheci o curso da SP e, hoje, apesar de gostar de atuar, sinto que essa é a posição em que fico mais à vontade, que gosto de ocupar. Então, quero me aprofundar nela”, diz.
Texto: Felipe Del
