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Andrea Luize Zanelato

Publicado em: 22/05/2013 |

É um dia tranquilo e até silencioso na Sede Roosevelt da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco e a recepcionista Andrea Luize Zanelato reserva um tempo para fazer o que mais gosta: confabular, conversar, falar. “Senta aí, meu amor”, diz, com o já conhecido sotaque interiorano, adquirido em Rancharia, município localizado a 520 km de São Paulo.

 

Andrea começou a trabalhar na Escola em setembro de 2012 – desde sua fundação, a Instituição reserva os cargos de suas recepcionistas a transexuais e travestis. Nascida em pleno Dia do Trabalho, em 1º de maio de 1982, ela nunca foi de fugir dos desafios. 

 

(Foto: Acervo pessoal)

 

Logo aos seis anos, na pré-escola, quando passou a perceber que eram os meninos que a atraíam mais, já se “descobriu Andrea Luize”. As questões relacionadas à sua sexualidade, então, brotaram. “Sempre fui muito aberta em relação a isso. Nunca tive problema em assumir quem eu sou de verdade, até porque meu corpo sempre foi feminino”, conta. E emenda: “A beleza de ser feminina é dádiva de poucas, pois não basta ser mulher, é necessário saber se fazer”.

 

Ao atingir a maioridade, começou a tomar hormônios femininos. Dois anos depois, deixou a casa da mãe e passou um tempo viajando por outras cidades. Chegou à capital paulista em 2009, quando ingressou em um curso de Enfermagem. Mas a empreitada durou pouco tempo. Por quê? Diz Andrea que não aguentou ver pessoas doentes sem poder, muitas vezes, reverter a situação. Na sequência, entrou na faculdade e estudou Administração de Empresas por dois anos. 

 

Naquela época, trabalhou como monitora na Acessa SP por um ano. Em 2010, ingressou no Banco do Brasil, onde, por dois meses, vendeu seguros residenciais. Com dificuldades para se manter em São Paulo, voltou para Rancharia até conseguir uma estabilidade maior. 

 

O retorno à metrópole aconteceria em 2011, quando foi chamada para dar prosseguimento ao seu pedido de alteração de nome. Frequentando a ONG Centro de Referência da Diversidade (CRD), conheceu Janaína Lima, que trabalhava como secretária na SP Escola de Teatro.

 

Andrea, então, se candidatou a uma vaga na recepção da Escola e, com vários cursos na área, passou pela entrevista e foi selecionada. “Amo comunicação. Recepcionar pessoas é um de meus maiores dons. Fui muito bem acolhida aqui. Eu me sinto feliz e honrada por fazer parte desse grande e fantástico projeto da Escola”, revela.

 

O telefone toca. “É da Finlândia”, diz ela, sorrindo, após transferir a ligação.

 

Recentemente, Andrea subiu ao palco do Theatro São Pedro, em São Paulo, na cerimônia de entrega do 13º Prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade, que reconheceu a Escola no quesito Ação Cultural, pela realização da 1ª edição da SP TransVisão – Semana da Visibilidade Trans, que aconteceu de 28 de janeiro a 1º de fevereiro deste ano. “Foi um momento único. Nunca me imaginei numa situação daquelas, em uma celebração tão bonita”, afirma.

 

Mesmo com toda a superação e as reviravoltas em sua vida, a recepcionista não se acomoda. Seus planos incluem cursar Rádio e TV e, um dia, tornar-se apresentadora. E, como está solteira, não hesita em dizer que continua na busca por um grande amor. “Amo viver a vida e digo que devemos fazer o bem e colher o dia. É isso que procuro fazer”, diz, em tom esperançoso.

 

Ah, em meio a tantas atividades, Andrea conta que mantém um blog, no endereço http://andrealuizesucesso.blogspot.com.br/, onde escreve, principalmente, sobre coisas positivas. Ali, ela posta fotos e textos de fatos relacionados ao seu dia a dia. E a sua jornada continua, afinal, como ela gosta de observar, “querer é poder e buscar é realizar”.

 

 

Texto: Felipe Del

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