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100 anos de Semana de 22: Mani Oca ou O Nascimento de Mani, de Vicente do Rego Monteiro

Publicado em: 14/02/2022 |

Um dos principais preceitos e objetivos dos artistas que participaram da Semana de Arte Moderna foi o de valorizar e incentivar a produção de uma arte verdadeiramente brasileira. Portanto, o evento foi realizado em comemoração aos cem anos de independência do país, nesse contexto, a produção de Vicente do Rego Monteiro se alinhou e ilustrou muito dessa proposta. Grande parte de suas pinturas desenvolveram a temática indigenistas e o autor buscou resgatar tal herança cultural do nosso povo.

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Mani Oca ou O Nascimento de Mani é uma pintura de 1921, fruto de um período que, segundo estudiosos, foi muito produtivo na carreira do artista. Nascido em Recife, Rego Monteiro morou muitos anos na França, onde frequentou os cursos livres da Academias Colarossi, Julian e de La Grande Chaumière. Além de ter participado do Salon des Indépendants [Salão dos Independentes], em 1913, do qual se torna membro societário.

Foi com o início da primeira Guerra Mundial que, em 1915, ele e sua família deixam a Europa e se estabelecem no Rio de Janeiro. Desde 1918, em suas exposições, Vicente já mostra grande interesse pela cultura amazônica e a referencia em suas obras. Mas é somente em 1920 que tal influência transparece de maneira predominante no trabalho do artista após significativos estudos empreendidos sobre a arte marajoara (produção artística dos antigos habitantes da Ilha de Marajó, no Pará), os quais foram realizados partir das coleções do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista. Em 1921, Vicente retorna a Paris e algumas de suas obras ficam com Ronald de Carvalho, poeta e crítico que decidiu incluir ‘O Nascimento de Mani’ e ‘O Boto’ (1921) na exposição da famosa Semana de Arte Moderna de 1922.

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Ambas as pinturas possuem inspiração em lendas indígenas que habitam o ideário brasileiro. Em Mani Oca o autor reproduz a cena de nascimento de Mani, a indígena que, segundo a narrativa dos povos originários, foi quem deu origem a hortaliça mandioca. A lenda conta a história de uma menina branca que nasce na aldeia Tupi, chocando seus habitantes, sem qualquer motivo a garota adoece aos poucos, no entanto, seu rosto carrega um sorriso que a acompanha até sua morte prematura. Seus pais decidem enterrá-la em uma oca, e constantemente vão visitar seu túmulo, ‘regando-o lágrimas’, certo dia surgem da terra que cobre o corpo de Mani uma raiz verde, essa seria a mandioca, alimento importante na cultura nacional.

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Assim, a tela apresenta a mãe da menina sentada em uma rede, com sua filha suspensa nos braços, a cor da criança, alva, contrasta com a cor dos demais indígenas que a observam estarrecidos. Mãe e filha se destacam e, ocupando o centro da pintura, são as únicas figuras que mostram o corpo por inteiro. O espaço representado reproduz o formato de uma oca, e no horizonte ao fundo é possível observar um campo azul esverdeado que representa a água, a qual pode configurar um mar ou um rio.

Pintada em aquarela e nanquim, estudiosos afirmam que a obra possui traços que lembram aos de gravuras japonesas dos séculos XVIII e XIX, a técnica escolhida para compô-la também seria cunhada pelo trabalho de Gauguin. Pesquisadores afirmam que a composição nos primeiros planos e a perspectiva aérea no fundo possuem ecos da pintura religiosa do Renascimento.

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Segundo a pesquisadora Gênese Andrade, Vicente do Rego Monteiro foi um dos principais artistas modernistas brasileiros. A densidade e o volumem de suas pinturas rompem com o caráter plano do quadro e aproximam-no da escultura, tal característica são atribuídas ao estudo e interesse do autor pela cerâmica marajoara. Tudo isso é banhado por uma sinuosidade e sensualidade características do artista, as quais lhe conferem grande originalidade. O pintor ficou conhecido como um dos principais artistas a promoverem uma refinada e inovadora estilização da temática indigenista brasileira. Outras importantes obras dele são Pietá (1924), A Crucifixão (1924), Os Calceteiros (1924) e o famoso Atirador de Arco (1925).

 




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