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“Acervo da biblioteca da SP é fundamental para pesquisadores de dramaturgia brasileira”, afirma Luiz Campos, doutorando da Unesp

Luiz Campos. Foto: Acervo pessoal

A Biblioteca da SP Escola de Teatro possui um robusto acervo dedicado às artes cênicas e é aberta a pesquisadores, estudantes e qualquer interessado em estudar a história do teatro brasileiro e mundial. O ator, diretor, educador e pesquisador teatral Luiz Campos é seu frequentador assíduo. Ele considera de estrita importância o material disponibilizado ao público pela escola:

“A importância não é só para quem pesquisa sobre Antonio Abujamra – como no meu caso -, mas para quem pesquisa sobre o teatro paulista, carioca, sulista e brasileiro. O acervo possui catalogado registros importantes que certamente colaboram para diversos estudos em desenvolvimento no país. ”

São mais de 9 mil volumes disponíveis, entre eles estão coleções particulares de grandes nomes como o ator e dramaturgo Ivam Cabral, o ator e diretor Emílio Di Biasi, o crítico e dramaturgo Alberto Guzik e a atriz Christiane Riera. O Acervo da SP Escola de Teatro fica localizado na sede Brás e atua preservando a memória da dramaturgia brasileira. Ele é composto pelas coleções do Apoio Pedagógico das Obras Raras e por fundos especiais doados para a utilização do público, dentro das coleções estão disponíveis obras específicas de teatro e áreas semelhantes.

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Luiz atualmente têm utilizado o acervo com a finalidade de empreender sua pesquisa de doutorado pelo Instituto de Artes da UNESP, sob a orientação de Alexandre Mate. O material também serve de auxílio para seu estudo realizado na Universidade Presbiteriana Mackenzie para obtenção da mesma titulação em Educação, Arte e História da Cultura, sob orientação de Rosângela Patriota.

A relação do pesquisador com as artes cênicas se deu primeiramente por meio da atuação em Santos (SP); onde participou de inúmeros trabalhos teatrais. Depois entrou para o mundo da pesquisa; ainda na graduação desenvolveu com uma bolsa de Iniciação Cientifica financiada pela FAPESP, trabalho que rendeu a publicação de seu primeiro livro Ghigonetto, Um Homem de Teatro (2017). Em 2019, se tornou mestre em Teatro pela Universidade Federal de São João Del-Rei, e em 2021 publicou o livro Grupo Decisão: o grupo político teatral paulistano que estava entre o Teatro de Arena e o Teatro Oficina. Hoje, Luiz também é diretor teatral da Cia. Los Puercos em São Paulo, e fundador da produtora independente Poeta Filmes.

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Sua pesquisa têm um enfoque especial na relação entre Antonio Abujamra e Brecht: há evidências de que o autor nacional foi um dos responsáveis por introduzir o teatro brechtiano no Brasil. Para isso, têm sido fundamental  o acervo Antônio Abujamra incorporado a biblioteca da SP em 2019, que reúne mais de 10 mil objetos pessoais catalogados pelo diretor e dramaturgo Antônio Abujamra (1932-2015). Entre os arquivos estão cerca de 760 CDs, 720 DVDs, 5.400 livros e 3.100 peças de vários autores, além de raridades, como cartas, cartões-postais, programas de espetáculos e roteiros. Esse material está disponível para visitação e consulta, mediante agendamento na SP Escola de Teatro.

Abujamra foi um dos artistas que participou da revolução cênica das décadas de 1960 e 1970, seu trabalho era ousado, criativo e provocador. Nos anos 1980 e 1990, ele desenvolveu espetáculos em que crítica e lúdico se fundiam num ceticismo bem-humorado, que reflete a personalidade do próprio autor.

Confira a entrevista completa do doutorando dado a SP Escola de Teatro:

 Sua pesquisa relaciona Brecht e Abujamra; você poderia nos contar um pouco mais sobre ela? Porque essa relação despertou seu interesse?

R: “O interesse surge inicialmente na minha pesquisa de mestrado sobre o Grupo Decisão – o coletivo de teatro criado por Antonio Abujamra em 1963 -, nela percebi uma tentativa e liberdade maior do diretor para colocar em prática todas as suas experiências dos estágios que realizou na França com Jean Vilar, Roger Planchon e na Alemanha pelo Berliner Emsemble – grupo criado por Bertolt Brecht. Tais experiências estavam ligadas ao teatro popular, descentralizado da grande hegemonia teatral dominante do período e um teatro épico brechtiano, centralizado na conscientização de classes e rompendo com o realismo ilusório da época, ou seja, o movimento de não deixar o seu público passivo as obras, mas sim, ativo e reflexivo. O que os documentos apontam é que Brecht chega no Brasil através das suas dramaturgias, mas suas práxis ainda eram pouco exploradas no período e o que as evidências apontam é que Antônio Abujamra foi um dos responsáveis por introduzir e entender esse teatro de Bertolt Brecht. Os estudos sobre a história do teatro brasileiro paulista pouco citam o importante diretor teatral, e menos ainda o desenvolvimento realizado por ele deste teatro épico.”

Você utiliza com frequência a biblioteca e o acervo da SP, pode contar um pouco deste processo? Qual têm sido a importância do acervo da SP para a sua pesquisa? 

“A SP Escola de Teatro há anos tem sido uma instituição compromissada na seriedade e compromisso em diversas atividades teatrais que vão além dos cursos oferecidos. Ao acolher o acervo de Antonio Abujamra para dentro da escola, essa firma ainda mais seu compromisso com a cultura e história teatral da cidade, além da valorização e reconhecimento que o diretor necessita. O acervo é de suma importância para a aproximação minha – e de qualquer pesquisador – com a figura de Antonio Abujamra. No acervo tenho contato com grande parte do seu repertório cultural, suas leituras, dramaturgias, trajetória teatral, gostos musicais, fotos, pôsteres, programas, notas de estudos e muito mais. Por tratar-se de 2 doutorados sobre Abujamra, o acervo será fundamental para esse mergulho, condução e preenchimento de diversas lacunas destes 04 anos de estudos, acredito que será responsável por grande parte da pesquisa. A importância não é só para quem pesquisa sobre Antonio Abujamra – como no meu caso -, mas para quem pesquisa sobre o teatro paulista, carioca, sulista e brasileiro. O acervo possui catalogado registros importantes que certamente colaboram para diversos estudos em desenvolvimento no país.”

 Por que o Abujamra é uma figura importante dentro do seu projeto?

“Considero que Abujamra representa um coletivo de sujeitos que por vezes não são privilegiados dentro dos registros históricos. Independente dos nossos gostos pessoais com cada artista ou coletivo, existe a contribuição destes para fazer a engrenagem do teatro girar. E acredito que Abujamra foi um grande colaborador do nosso teatro, assim como tantos outros sujeitos que estão à margem de forma perversa e ideológica. Cada sujeito, querendo ou não, tem a sua importância. A que quero destacar são as colaborações de Antonio Abujamra com o desenvolvimento das práxis brechtianas para nossa cidade e país.”

Entrevista e texto: Leticia Polizelli

Edição: Luiza Camargo




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