A Gargarejo Cia. Teatral foi criada em 2014, em Campinas, por um grupo de artistas periféricos que trabalham sob a ótica étnica-racial, refletindo sobre colonização e identidade, e procurando sempre articular vivências marginalizadas na cena como protagonistas.
Seu repertório é destaque pela representação de muitos clássicos da literatura nacional, pois o grupo tem como objetivo tornar tal material acessível para o maior número de pessoas possível. Entre suas montagens estão releituras de A Cartomante, de Machado de Assis; Sonhos Roubados, de Anderson Claudir; Vidas Secas, de Graciliano Ramos; Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente; e Bertoleza, grande sucesso de 2020 que nasceu de um estudo do livro O Cortiço.
Os processos criativos da companhia perpassam os temas que são mote do coletivo; estética preta e periférica. No entanto, ao abordar tais tópicos há sempre uma preocupação com a não estereotipação. A Cia. busca construir narrativas visuais em um mundo onde há possibilidade de existência e resistência preta, propondo reflexões e ‘reimaginando’ futuros possíveis a partir de uma perspectiva afrofuturista. A partir disso, trabalha-se com uma forma que mescla elementos da atual cultura negra com os do passado, apontando para o futuro:
“Dessa vez, a antropofagia visual não seria das elites brasileira comendo referências pretas e ameríndias para vomitar “brasilidade” pasteurizada, e sim a própria comunidade preta e periférica tomando o que sempre foi seu.”
As fontes inspiradoras que guiam a pesquisa e o desenvolvimento das montagens são o teatro do oprimido e o teatro dialético. Nessa conjuntura, a composição é coletiva e a dramaturgia é um disparador para o ator que também é criador; já a direção investiga a forma, contrapondo-a com o texto. Assim, o grupo explica a importância desse processo na construção da crítica social das peças:
“Nesse contexto, a palavra surge como instrumento de atrito à realidade social e às experiências interpessoais dos intérpretes. É fundamental para a Companhia que o ficcionalizar sirva estritamente para confrontar a sociedade atual”.
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Por fim, em seu depoimento a Gargarejo Cia. Teatral explica que acredita que a função do teatro seja transformar pessoas em questionadoras de seu tempo, fabricadoras de novas possibilidades:
“[O teatro] Remonta vidas e relê histórias. Portanto, são construídos novos imaginários, e o imaginário é o campo fértil da mudança. Parafraseando a dramaturgia do espetáculo Bertoleza: “[…] teatro existe para adentrar, cortar, arrepiar e levantar poeira, amontoando sabedoria e assentando mistério!”.
Mais infos sobre a Gargarejo Cia. Teatral estão no livro Teatro de Grupo, uma publicação do Selo Lucias, braço editorial da ADAAP, associação que gere o projeto da SP Escola de Teatro.