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Ponto | Nelson Rodrigues, 100

Publicado em: 21/08/2012 |

Em 23 de agosto de 1912, Maria Esther Falcão dava à luz um menino. Mulher sem pecado, sonhava em ter 12 filhos. No final, teve 14: sete meninas e sete gatinhos. O futuro jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues estava entre eles. Justamente o que nasceu quase no final daquele agosto.

 

Quando tinha 4 anos, a família saiu do Recife e mudou-se para o Rio de Janeiro. Álbum de família recheado de fotos. Aos 13 anos, o adolescente Nelson iniciava sua carreira no jornal A Manhã, na editoria de polícia. Na seção, ele escrevia relatos de amores trágicos, crimes e assassinatos passionais.

 

Torcedor do Fluminense, participou do programa “Grande Resenha Esportiva Facit”,o primeiro da TV brasileira em formato de mesa-redonda esportiva. Apaixonado por futebol, tinha Boca de Ouro: comentava com habilidade os lances e esquemas táticos. “Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola”, dizia.

 

O jornal A Manhã não continua e Nelson cria o diário A Crítica, ao lado do pai e dos irmãos. A publicação tem sucesso, até o dia em que uma matéria de capa desnuda a separação do casal Sylvia Serafim e João Thibau Jr. Como vingança, a mulher entra na redação com um revólver e atira no ilustrador Roberto Rodrigues, irmão de Nelson. Meses mais tarde, o pai do dramaturgo morre, vítima de uma depressão provocada pela perda do filho. Toda Nudez Será Castigada.

 

Nos anos 1930, o jornal A Crítica passa por dificuldades financeiras até ser fechado. Com a ajuda do irmão Mário Rodrigues Filho (que dá nome ao famoso Estádio de futebol Maracanã), Nelson vai trabalhar no jornal O Globo. Um dia, descobre que contraiu tuberculose. O medo da doença toma sua vida. Espalhou-se como veneno de serpente. A ajuda para custear o tratamento veio do empresário e dono das Organizações Globo, Roberto Marinho. 

 

Alguns anos depois, Nelson aguardava o seu grande amor no altar. Em 1940, a colega de trabalho Elza Bretanha caminhava em sua direção, vestida de noiva. Mais tarde, agora nos Diários Associados, alguns textos de Nelson passaram pela Censura Federal. Em 1949, lança “Dorotéia”, e, em 1951, sua irmã caçula, Dulce, estreia a “Valsa nº 6”.

 

O dramaturgo era grande apoiador do anjo negro da ditadura, já o filho foi anti-Nelson e tornou-se guerrilheiro, chegando a ser preso. Entre muitos amores, Nelson termina o casamento com Elza e tem uma filha com Lúcia Cruz Lima, chamada Daniela. Deixa Lúcia e fica por um tempo com a secretária Helena Maria, até reatar com Elza. 

 

Entre suas peças, estão “Senhora dos Afogados”, “Perdoa-me por me Traíres”, “Bonitinha, Mas Ordinária”, “A Falecida” e “O Beijo no Asfalto”. Não à toa, considerado um dos maiores dramaturgos do País.

 

O dramaturgo, jornalista e escritor Nelson Rodrigues morreu em 21 de dezembro de 1980 e foi enterrado no Cemitério São João Batista, em Botafogo. Dois meses depois, a viúva porém honesta, Elza, atende ao pedido de Nelson: o de escrever seu nome ao lado do dele, na lápide, com a frase “Unidos para além da vida e da morte. E é só”.

 

Texto: Leandro Nunes

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