POR CLÉO DE PÁRIS
Especial para SP Escola de Teatro
Estamos vivendo tempos difíceis. Todos sabem, todos sentem… Difíceis não, dificílimos. Todos sabem, todos sentem.
Corações aflitos, ansiedade, medo, dor, insegurança, incerteza. Saudade e mais saudade. De familiares, de amigos, de amores, das ruas, dos palcos, das plateias, dos abraços, dos olhares. Saudade de um tempo sem medo. Sem tanto medo.
E, no meio de tudo isso, uma Escola de Teatro! Uma Escola de Teatro que completa 10 anos de existência, entrega e amor. Estamos em guerra, e eu penso como Ernest Hemingway, que diz que importa mais quem está nas trincheiras ao seu lado do que a própria guerra. No meio da maior pandemia sofrida por todos nós, um alento e um desafio: a SP Escola de Teatro.
Hoje, penso que não foi à toa que criamos lá em 2009, uma escola viva, pulsante, capaz de se reinventar a todo momento! Feliz por se reinventar a todo momento.
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É o que estamos fazendo agora, nesse instante, nesse período. Mais unidos do que nunca, mais próximos do que nunca e trabalhando como nunca! Se, por um lado, essa pandemia nos roubou a presença, posso dizer que ela nos deu a oportunidade de investigar nossas almas e corações e transbordar tudo que lá está. Também nos trouxe a oportunidade de encarar o novo, a queda. As quedas. Os afetos, os desejos. Os desafios, os desajeitos, as cordas bambas. Afinal, não é isso matéria bruta do fazer teatral?
Em entrevista recente a Miguel Arcanjo Prado, nosso coordenador pedagógico, Joaquim Gama, diz: “Quem de nós não redimensionou sua existência ao sair de uma sala de espetáculo? Quem não chorou um sentimento escondido, recolhido, ao se identificar com a trajetória de uma determinada personagem? Quem não alterou o curso da sua vida ao participar de uma experiência teatral? Seja como espectador ou como artista da cena ao vivo, é impossível passar impune pelo teatro.”
Também não deve ser por acaso que o tema escolhido para nortear os Experimentos da Escola nesse semestre é o Amor! O amor, tão fundamental nessa aridez, nessa solidão, será trabalhado, esmiuçado, talvez um pouco melhor compreendido, em sua imensidão pelos nossos cerca de 400 estudantes. À distância, separados por quilômetros, unidos por uma tela. Realmente unidos, eu acredito nisso, como acredito que essas minhas palavras estejam chegando a vocês com amor.
A atriz e coordenadora do Programa Kairós, Cléo De Páris
Então penso no significado e na importância da vasta pesquisa que tem feito nosso coordenador do Curso de Direção (e um dos fundadores da Adaap), Rodolfo García Vázquez, desde 2009, quando estreou o espetáculo Hipóteses para o Amor e a Verdade, com a precisa assistência de direção de Fábio Penna! Ele, Rodolfo, lançava uma proposta não somente nova, como instigante e até um pouco irritante [risos]. Ele permitia que os espectadores permanecessem com celulares ligados, durante todo o espetáculo. Mais do que isso! Ele insistia pra que deixassem seus aparelhos ligados e, pasmem, que atendessem às ligações, respondessem mensagens. Para ele, já em 2009, essas ferramentas eram tratadas como extensões do corpo humano, sem as quais, não seríamos mais capazes de existir. As chamadas próteses tecnológicas.
Em breve, a Cia Os Satyros irá estrear uma peça virtual! Estão ensaiando virtualmente e sei que será um marco. Ivam Cabral faz seu espetáculo “Todos os sonhos do mundo”, semanalmente, e, quando a vida virou esse caos, ele seguiu. Simplesmente seguiu! Do teatro veio para nossas telas! E segue fazendo um teatro lindo, de encantar mesmo.
Eu e o Fábio Penna, também ator do Satyros, fazemos um espetáculo teatral e cinematográfico todas as terças-feiras. Temos muito público e outro dia um conhecido e incentivador do meu trabalho, me escreveu dizendo que convidou sua melhor amiga pra assistir com ele minha peça. É de uma beleza isso… que ainda não sei direito como guardar na alma. É um tempo novo e as almas também terão que se adaptar. A arte já está no caminho, afinal, a arte se adapta a tudo. A arte pula obstáculos ou chafurda na lama, tanto faz. A arte pulsa e pulsa como um vulcão sempre.
Vocês percebem como os gemidos de dor e de prazer, geralmente, se parecem?
Vocês percebem que não podemos parar agora, porque, afinal, sempre resistimos?
Vocês percebem a nossa força e importância nesse momento?
Vocês percebem que é o momento mais especial pra existirem escolas de teatro?
Eu percebo! Ainda é tudo mato nesse novo universo. Mas o teatro está aqui. A SP Escola de Teatro está aqui. Um brinde virtual, portanto!
CULTURA EM CASA
Assim como outros equipamentos, a SP Escola de Teatro criou uma programação especial na internet para oferecer ao seus seguidores. Assim, está disponível uma série de conteúdos multimídia, como vídeos de espetáculos e de palestras e bate-papos de nomes como as atrizes Fernanda Montenegro, Nathalia Timberg e Denise Fraga, a monja Coen, a escritora Adélia Prado e o pastor Henrique Vieira, além de cursos gratuitos a distância.
O acervo ainda inclui filmes produzidos pela Escola Livre de Audiovisual (ELA) – iniciativa da Associação dos Artistas Amigos da Praça (Adaap), gestora da SP Escola de Teatro – em parceria com instituições internacionais, com a Universidade das Artes de Estocolmo (Suécia).
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CLÉO DE PÁRIS é atriz e coordenadora do Programa Kairós.
