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Território Cultural – O Mundo em Estado de Devir

Publicado em: 29/10/2012 |

No sábado (27), foi dia de Território Cultural. Além das Sedes Brás e Roosevelt da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, o Módulo Vermelho também ocupou a escadaria que dá acesso ao Vale do Anhangabaú, na região central de São Paulo. Durante todo o dia, esses locais receberam o 2º Experimento dos núcleos.

 

Os nove grupos compartilharam suas investigações cênicas, acionadas pela epígrafe de Milton Santos: “O mundo é formado não apenas pelo que já existe, mas pelo que pode efetivamente existir”. A provocação seguinte aconteceu no início do semestre, quando cada núcleo se reuniu, em um debate, com um pensador de determinada área, como antropologia, sociologia e psicanálise, para nortear seus trabalhos.

 

Cena do Experimento do Núcleo 1 (Foto: Arquivo SP Escola de Teatro)

 

Na prática, os núcleos 6, 2, 5 e 9 abriram suas salas na Sede Roosevelt; o 4, 3, 1 e 8, na Sede Brás, e o grupo 7, sob um céu ensolarado, ocupou o entorno do Theatro Municipal.

 

Entre os assuntos encenados esteve a “gentrificação”, processo de higienização social, nos grandes centros urbanos; os bandeirantes na história do povoamento do Estado de São Paulo, e a profissão de atendente de call center, no tema globalização.

 

 

A atriz e diretora Cris Lozano acompanhou o Experimento e relatou suas impressões. Leia abaixo:

 

 

O Poder da Palavra

 

A rede de encontros entre os artistas-aprendizes e os artistas-formadores é algo de uma instância muito desafiadora. Essa rede se dá, como princípio, pelo falar e pelo escutar e, a partir daí, possibilita uma experiência – refinada e complexa – em busca de um processo vivo, dinâmico e em constante transformação, como aconteceu no último sábado (27), durante o Território Cultural, que apresentou o 2º Experimento dos nove núcleos do Módulo Vermelho da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco.

 

Os projetos partiram de um pressuposto comum: o de falar sensações, ideias, afetações e impressões, a partir de uma temática proposta sob vários olhares dos artistas envolvidos. Os pontos-de-vista gerados criaram mundos diversos (os que são observados, os que se vivem e os do devir), que buscam transformar todos esses sentidos em material poético, provocativo e cênico. O que vimos nessa perspectiva processual é que a prática do escutar deve estar aliada e afinada com a do falar, para que os experimentos continuem vivos.

 

Os nove núcleos que se apresentaram em espaços fechados, à exceção do de número sete, que tomou as escadarias do Vale do Anhangabaú, exibiram um elemento comum, a ser revisitado: o dizer a palavra tanto nxa escolha de seus sentidos e significados quanto na sua espacialização. Quando o texto ainda está no status de literatura e em constante mutação (devido à natureza dos experimentos) se constitui uma matéria difícil de ser apreendida, mas, por sua vez, quando ele se torna um dos veículos da cena, cabe um olhar mais apurado. As perguntas que surgiram, então, a partir disso, foram:

 

“- O que se diz? O que se ouve? Você se ouve?”

“- Para quem eu digo? Para o quê eu digo? Para onde eu dirijo minha fala?”

“- Quem me ouve? Eu quero ser ouvido?”

“- Por que eu digo? Quais os sentidos do que eu digo?” 

“- O que a palavra está dizendo? Quais as imagens que ela cria?”

“- Quais são as sonoridades possíveis da palavra?”

“- Qual o poder de alcance que a palavra tem? Ela pode atravessar paredes, desmoronar o teto, abrir portas? Ela acarinha, desvia, aterroriza?”

 

Quando pensamos o espaço cênico, naturalmente a arquitetura é incluída como campo de estudo de como os elementos agem, inclusive o da ação do texto. Texto também é forma e, assim, proporciona materialidade, presencialidade no corpo, nas várias possibilidades de seus sentidos, significados, texturas, sonoridades, projeções em distâncias etc. Nem sempre ele é o instrumento principal da cena, mas quando está presente, há que se pensar na sua concretude e, ao mesmo tempo, na sua permeabilidade, capaz de traduzir imagens. 

 

Essas constantes transformações do material de estudo inicial e as proporções que vão ganhando a cada novo olhar, a cada revisitação, nos dão a dimensão da importância do trato artesanal da cena e como isso reverbera nesses jovens artistas, que trarão outros modos do fazer para o teatro.

 

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