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Teatro Não Existe Sem Educação

Publicado em: 19/03/2013 |

Por Marici Salomão*, especial para o Portal da SP Escola de Teatro

Como formadora de processos de nova escrita, não posso e jamais acreditarei que o teatro pode existir separadamente à formação educacional. Educação que é atravessada pela ética, por suposto; pela consciência da dimensão do que é ser humano num mundo complexo, tecido por diferenças e diversidades. Só a educação pode alicerçar o diálogo entre o teatro e a sociedade. E a sociedade e o teatro. Esta é toda a diferença entre o teatro socialmente imprescindível e o teatro de entretenimento. Agora, claro, que divertir-se e refletir sobre não são questões antagônicas.


Percebo pela segunda vez em que vou ao Reino Unido (UK), a convite do British Council, que não se fala em criação sem levar em consideração o público. Ao visitar importantes centros de fomento à nova escrita, deparei com questões que tornam teatro e sociedade inseparáveis. Essa história de escrever a despeito do público (tipo “escrevo pra mim mesmo”, “não me preocupo com o público”) é o mesmo que fadar o teatro à esterilidade que, em tese, deveria condenar por ofício.


Ao dar uma palestra na Universidade de Glasgow (Estudos Teatrais), fiquei meio atônita frente a uma questão simples de uma aluna: qual o público que você imagina ser importante às suas peças? Tive de ser muito sincera ao responder: Acho que eu nunca havia pensado nisso de maneira consistente.


***

As minhas leituras de “Teatro e Sociedade: Shakespeare”, de Guy Boquet; “Sobre Shakespeare”, de Northrop Frye, e “Shakespeare, Nosso Contemporâneo”, de Jan Kott, me fizeram refletir e compreender de forma segura que Shakespeare, de fato, foi, acima de tudo, um homem de seu tempo. Refletiu sobre tudo o que pensava e o que não pensava a respeito da nascente sociedade renascentista inglesa (ainda com muitos resquícios medievais e feudais). Inegável que o criador Shakespeare era completamente necessário à sociedade, uma vez que seus assuntos e formas dialogavam diretamente com os homens frequentadores de teatro.


Daí a importância da existência do dramaturgo em uma sociedade madura – não ele, o dramaturgo, em si, mas o que ele REPRESENTA em termos sociais: sua obra viva. Esse tipo de teatro no Brasil alcançou seu ápice nos anos 50 e parte dos 60. Hoje, o teatro volta a dialogar com as pessoas de seu tempo, refletindo sobre as questões atuais. E é pela educação que essa conexão – teatro e sociedade – pode acontecer.


Leituras, estudos, reflexão, vivências compartilhadas, disciplina, consciência de si e do outro – isso é tudo o que precisamos construir juntos, antes de impor técnicas e regras tolas para se escrever uma peça de teatro.

*A coluna de Marici Salomão é publicada mensalmente. Clique aqui para ler outras colunas.

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