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Teatro Infantil Levado a Sério

Publicado em: 05/09/2011 |

O tom era de completa informalidade. E, no instante em que a formadora do curso de Humor Bete Dorgam iniciou sua fala na Mesa de Discussão “Teatro Infantil: Formação de Plateia”, a impressão era de que todos naquela sala se conheciam e estavam reunidos para um encontro entre amigos.

 

Ao lado de Bete, outros grandes artistas do teatro infantil integravam a mesa, realizada durante a programação do Território Cultural, no último sábado (3): o dramaturgo Flávio de Souza, conhecido pela criação e roteiros para séries infantis “Cata-Vento”, “Lá Vem História”, “Rá-Tim-Bum” e “Mundo da Lua”; as diretoras e atrizes, fundadoras da Cia. Le Plat du Jour,  Alexandra Golik e Carla Candiotto; e a pesquisadora e diretora Mirtes Mesquita.

 

Da esquerda para a direita: Alexandra Golik, Carla Candiotto, Flávio de Souza, Mirtes Mesquita e Bete Dorgam (Foto: Renata Forato)

 

“Precisamos, como artistas que criam para o público infantil, entender que eles estão, a cada dia, mais exigentes. Muitos profissionais têm um despreparo enorme no olhar em relação a isso e, para que haja uma formação de público eficaz, precisamos mudar o foco das coisas”, observou Bete ao abrir a discussão.

 

Já para Mirtes Mesquita, a formação de público no teatro voltado para crianças se dá por um viés ideológico. “Trabalhar com arte é uma missão. Temos que pensar na educação e dialogar com os adultos”, revela. “Sempre conto uma história na qual a moral é a seguinte: ‘O sonho está dentro de nós e o nosso tesouro também’. Estimular o público a pensar em quem é, e o que está fazendo naquele local, transforma este tipo de teatro em algo além do entretenimento”, completou.

 

“Quando era mais atuante na cena teatral, sempre me deparava com outros artistas dizendo: “Ó, coitado! Você faz teatro infantil? Não conte para ninguém”, declarou Flávio de Sousa, enquanto explicava o tom pejorativo que o teatro para crianças carrega. 

 

“É indiscutível que nós somos formadores de público, quem vai assistir a espetáculos na infância e gosta do que vê, na vida adulta, com certeza, vai ficar atento à cena teatral”, completou.

 

À frente da Cia. Le Plat du Jour, coletivo atuante na criação de espetáculos para crianças, Carla Candiotto revela que a formação de público está diretamente relacionada à qualidade do espetáculo. “Quando a criança vê o seu pai rindo, ela cria um momento de cumplicidade com ele, que se reflete, inclusive, no convívio”, explicou.

 

Sua colega Alexandra, também a frente da Le Plat du Jour e do teatro Vira Da Lata, em Perdizes, observa que lidar com o texto de espetáculos infantis é muito trabalhoso. “Quando montamos uma nova peça, nós pensamos, lapidamos e transformamos o texto, a iluminação, os adereços de cena, o cenário e o figurino. Não adianta só falar. No teatro infantil, a gente precisa mostrar as coisas e, assim, afetar não só as crianças como os adultos”, relatou.

 

Para finalizar a mesa, Bete Dorgam retoma sua fala e faz um pedido. “Vamos acabar com essa mania de rotular a arte. Teatro é teatro, seja infantil ou adulto. E, também, não deixemos o fascismo tomar conta da nossa vida. Não podemos, de forma alguma, retirar os livros de Monteiro Lobato das prateleiras, por exemplo. É história. E o teatro conta história. A única diferença é que o infantil conta às 4 horas da tarde, já o adulto, às 9 da noite”, conclui.

 

 

Texto: Renata Forato

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