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Teatro do Vestido: De Portugal para a Praça Roosevelt

Publicado em: 21/03/2013 |

Depois de a Cia. Balagan, da diretora Maria Thais, inaugurar o teatro da Sede Roosevelt da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, em outubro do ano passado, com a mostra “Recusa e Prometheus: Uma Simetria Invertida”, que contou com a montagem de duas peças, palestras, exibição de filmes e um show, agora chegou a vez de uma nova ocupação na Escola.

 

A partir desta sexta-feira (22), a trupe portuguesa Teatro do Vestido passa a cumprir uma temporada de residência na Instituição. 

 

A atividade tem início com a estreia da peça “Calamidade”, estrelada exclusivamente pela companhia, na sexta-feira (22), às 21h. Depois, na semana seguinte, o grupo leva ao palco o espetáculo “Hecatombe”, na terça-feira (26). Finalmente, na terça-feira (2 de abril), acontece a estreia de “Apocalipse”, que encerra a trilogia e traz, nas áreas técnicas, aprendizes da SP Escola de Teatro.

 

As três montagens fazem parte de um projeto da companhia chamado “Monstro”. As duas primeiras partes dele já estão estruturadas pela trupe, sendo que a terceira e última será concluída aqui no Brasil.

 

A entrada para os espetáculos tem preço único de R$ 10 e é aberta ao público (aprendizes e formadores da SP Escola de Teatro têm entrada gratuita).

 

“O projeto Monstro pretende responder às seguintes questões: ‘Onde estamos agora?’, ‘Como chegamos até aqui?’ e ‘Para onde depois disto?’. Trata-se de um trabalho que questiona diretamente a realidade, o estado das coisas, a situação política, econômica e social que atravessamos em Portugal e na Europa, e procura ligações disso com o mundo, especialmente com o Brasil”, explica a companhia, que deu um toque verde-amarelo à empreitada: “Hecatombe” e “Apocalipse”  foram construídas em colaboração com o dramaturgo, diretor e escritor brasileiro Maurício Paroni de Castro, que também é colaborador da SP Escola de Teatro. Os textos são dramaturgias originais dos membros da companhia.

Na manhã de ontem (20), um dia depois de terem chegado ao Brasil, três integrantes da trupe, Joana Craveiro, Gonçalo Alegria e Tânia Guerreiro se encontraram com os aprendizes da Escola, para apresentar um pouco do projeto “Monstro” e também para falar de sua metodologia de trabalho. “Nos baseamos muito numa técnica chamada Deriva, introduzida na nossa companhia pelo Maurício Paroni. Com ela, nós recebemos certas ‘missões’, como, por exemplo, ir ao aeroporto da cidade e ficar, por duas horas, observando os passageiros que ali chegam. Ou, ainda, subir em um ônibus e seguir até o seu ponto final, mesmo sem saber qual é. Depois, descer e ficar observando o que acontece”, contou Joana. “Daí que chamamos esse processo de colaborativo, porque sem que todos contribuam com suas experiências, não existe espetáculo. Tentamos, diariamente, sair da cama com olhares virgens sobre a cidade, sobre o mundo”, emendou ela.

E como o alicerce do Teatro do Vestido é a performatividade, eixo temático do Módulo Azul neste semestre, os aprendizes lançaram questões a respeito de como manter o frescor da primeira vez da performance durante o tempo em que o espetáculo permanece sendo encenado. “Chega um momento, que deixamos de apresentar e passamos a representar na performance. Isso não é ruim?”, questionou um dos muitos aprendizes presentes ao encontro. “Não. O que tentamos é fazer com que até o ensaio seja encarado como uma apresentação. Damos tudo de nós nos ensaios como damos no dia do espetáculo. As histórias, embora surjam de maneira espontânea nessas experiências de deriva, acabam se fixando na montagem (ao menos as que são boas histórias). O ensaio e a repetição são fundamentais para nós”, observou Gonçalo Alegria.

Diante de uma plateia repleta de aprendizes, o trio de atores da companhia portuguesa Teatro do Vestido falou sobre o projeto “Monstro” e sua metodologia de trabalho (Foto: Arquivo/SP Escola de Teatro)

 

Para compor o projeto “Monstro”, os atores contaram que lançaram mão de objetos que remetiam a memórias do passado, para debater a atual crise pela qual a Europa atravessa atualmente. “Daí, recorremos a lembranças autobiográficas, mas que muitas vezes são fictícias”, disse Tânia, arrancando risos da plateia. “Meu pai, por exemplo, ficou sem falar comigo meses porque, numa peça, minha personagem se referia a seu pai, mas não era o meu”, falou Joana. “Eu prefiro recorrer a memórias inventadas. Tenho aversão à autobiografia”, afirmou Gonçalo.

Então, cabe a nós, o público, descobrir o que é verdade e ficção nesse jogo cênico? “Acho que isso não tem de ser perguntado e muito menos respondido pelo ator. Perguntar se o que está sendo encenado aconteceu mesmo ou não é como perguntar se você está usando calcinha ou sutiã. Não tem sentido. Afinal, é teatro”, lançou Joana.
 

 

Sobre o Teatro do Vestido

Fundada em 2001, a companhia é constituída por uma equipe multidisciplinar, que aposta numa forte relação com os espaços de apresentação, valorizando-os, bem como numa relação de partilha com o público, o que a tem feito trabalhar em contextos diferenciados: rural, internacional e urbano.

 

Seu principal foco é a criação de trabalhos teatrais e de instalação, que explorem novos processos criativos e, principalmente, criem uma dramaturgia original. 

 

Atualmente, a trupe é composta por Gonçalo Alegria, Inês Rosado, Joana Craveiro, Lara Portela, Miguel Seabra Lopes, Pedro Caeiro, Rosinda Costa, Simon Frankel, Sandra Carneiro, Tânia Guerreiro.

 

Serviço

Peça: “Calamidade”

Direção: Joana Craveiro. Produção: Joana Vilela. Co-criação e interpretação: Gonçalo Alegria, Joana Craveiro, Tânia Guerreiro

Quando: Sexta e sábado (dias 22 e 23), às 21h

 

Peça: “Hecatombe”

Direção e dramaturgia: Maurício Paroni de Castro.  Produção: Joana Vilela. Co-criação e interpretação: Gonçalo Alegria, Joana Craveiro, Tânia Guerreiro

Quando: Terça e quarta-feira (dias 26 e 27), às 21h

 

Peça: “Apocalipse”

Direção e dramaturgia: Maurício Paroni de Castro.  Produção: Joana Vilela. Co-criação e interpretação: Gonçalo Alegria, Joana Craveiro, Tânia Guerreiro e Aprendizes da SP Escola de Teatro

Quando: Terça e quarta (dias 2 e 3 de abril), às 21h

 

Onde: SP Escola de Teatro – Sede Roosevelt

Praça Roosevelt, 210 – Consolação

Tel. (11) 3775-8600
R$ 10 (aprendizes e formadores da SP Escola de Teatro têm entrada gratuita)

Texto: Majô Levenstein

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