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Retomada do teatro presencial em SP é impulsionada pelo avanço da vacinação

Carol Hubner, Eduardo Martini e Diego Summer: pioneiros na retomada do teatro presencial – Fotos: Edson Lopes Jr. e Bob Sousa

Com o avanço da vacinação no estado de São Paulo, que já atinge mais de 75% da população adulta imunizada pelo menos com a primeira dose, o teatro presencial ganha cada vez mais força. Os artistas do palco e o público se sentem mais seguros em retomar as atividades de forma progressiva, conforme apurou a reportagem da SP Escola de Teatro.

Os espaços que reabrem se comprometem a seguir todos os protocolos de segurança sanitária e com público reduzido para 60% da capacidade total, com distanciamento e uso de máscara. 

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Durante quase um ano, o campo digital foi o principal meio para a classe artística se manter ativa e atuante, além de uma fonte de renda, já que o setor foi fortemente afetado pela pandemia. Mesmo com público reduzido, diversos espaços estão retomando os seus serviços na maior metrópole e principal polo teatral do país, e alguns ainda operam de forma híbrida, com transmissões online para quem ainda prefere ficar em casa.

“O teatro digital foi a grande forma de manifestação das artes cênicas em 2020 e no primeiro semestre de 2021. Contudo, o teatro presencial não está morto, muito pelo contrário, está mais vivo do que nunca, com público ávido por ver artistas de perto. É preciso ressaltar nesta retomada a peça A Banheira, em cartaz desde outubro de 2020, e também o ator Eduardo Martini com o monólogo Simplesmente Clô, desde novembro do ano passado e atualmente em cartaz no Rio e em São Paulo. Agora, vemos também a retomada dos musicais como Sertão Encantado, que já voltou ao Teatro Gazeta, e superproduções que estreiam em agosto e setembro, como O Som e a Sílaba e Donna Summer, O Musical, no Teatro Santander, e Cinderella, O Musical, de Charles Möeller e Claudio Botelho, no Teatro Liberdade”, afirma o jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado, coordenador de Extensão Cultural e Projetos Especiais da SP Escola de Teatro.

Comédia A Banheira retomou teatro presencial em outubro de 2020 no Teatro Maria Della Costa – Foto: Edson Lopes Jr.

A Banheira foi primeira peça a voltar ao presencial

Primeira produtora a voltar ao presencial em 24 de outubro de 2020 com a comédia A Banheira no Teatro Maria Della Costa (r. Paim, 72), na Bela Vista, Valéria Keller celebra a importância da retomada para o setor. Após precisar suspender a temporada na segunda onda, a comédia está de volta de pode ser vista aos sábados às 19h.

A profissional lembra que havia uma saudade imensa do trabalho e do teatro, além de reforçar a importância dos cuidados sanitários necessários nesta retomada, bem como paciência para entender que trata-se de um processo gradual. Keller lembra que o encontro proporcionado pelo teatro devolve a alegria às pessoas, depois de um período de muita tristeza.

“Tínhamos que voltar, é nosso trabalho. A importância da volta está no primeiro passo. Sabia que seria devagarzinho, não só pelas restrições da retomada, pela segurança de todos, mas também do público ir se sentido seguro para sair de casa, ir se divertir”, pontua. 

O grande desafio neste momento foi manter os padrões sanitários mais rígidos possíveis. Higienização de ambientes, como sala de espetáculo, banheiros, camarins, foyer, bilheteria e salas de operações, foi seguida à risca; além da medição de temperatura na entrada, uso de álcool em gel, uso de máscara, protocolos que são seguidos com rigor. 

Keller reforça a importância do respeito à capacidade reduzida, distanciamento de duas poltronas e ninguém na frente de ninguém.

“O grande desafio era reconquistar o público. Cada pessoa que chegava, que chega ao Teatro, é tratada com todo o carinho e disponibilidade para sentir que está segura ali e o quanto somos agradecidos pela presença dela”, explica.

Simplesmente Clô com Eduardo Martini foi primeira grande estreia no teatro presencial pós-pandemia, em novembro de 2020 – Foto: Bob Sousa

Simplesmente Clô foi primeira grande estreia no pós-pandemia

O primeiro lançamento de um grande espetáculo inédito em São Paulo pós-pandemia foi Simplesmente Clô. No solo que estreou em 20 de novembro de 2020, o ator Eduardo Martini vive o estilista Clodovil Hernandes (1937-2009). Com idas e vindas por conta da segunda onda, a obra segue em cartaz no Teatro União Cultural (r. Mário Amaral, 209), no Paraíso, aos sábados e domingos, às 18h.

Além disso, a peça foi a primeira no pós-pandemia a estar em cartaz no Rio e em São Paulo, cumprindo temporada carioca no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, sempre às quintas, às 20h.

Para Martini, mesmo com a flexibilização, é importante manter todos os cuidados necessários. Ele revela que pretende manter o público reduzido até o controle total da doença, mesmo que isso custe a redução dos custos na vida profissional e pessoal. Mesmo em cenário tão adverso, ele celebra a repercussão do solo.

 “Ser ator e produtor nesses tempos é matar um leão por dia. Mesmo com a flexibilidade, vamos manter os 60% e com uma sanitização rigorosa. O sucesso é humanitário, em não ser infectado e não infectar ninguém. É um sucesso pessoal, para além do espetáculo, que também tem uma boa repercussão e acolhida por onde passa”, afirma o ator, que também se apresentou em 16 de julho no Teatro Colinas, em São José dos Campos, no interior paulista.

Martini reflete sobre a importância da retomada como um momento de “resistência da cultura, da vida, da arte e da educação no país”. E lembra que a arte tem impacto positivo na saúde mental e financeira dos brasileiros.  

“É a retomada da cultura, da vida cultural, da arte e da educação de um país. A sociedade é um espelho e nós refletimos o que é feito. A pandemia desestruturou emocionalmente e financeiramente as pessoas. A retomada dá um certo alento para todo mundo, pois artistas e técnicos estavam sem emprego e sofreram nesse momento. É de uma importância muito grande salvar a arte, a cultura e a educação”, analisa.

Sertão Encantado, no Teatro Gazeta, marca retomada do teatro presencial na sala da Avenida Paulista – Foto: Divulgação

Sertão Encantado marca volta do teatro à Avenida Paulista

Um dos palcos que reabriu recentemente foi o Teatro Gazeta, localizado na prestigiada Avenida Paulista, 900, cartão-postal da metrópole, com a estreia do musical Sertão Encantado, em cartaz de 25 de julho a 22 de agosto, com sessões gratuitas aos domingos, às 15h, e sessão extra no sábado, 4/9, no mesmo horário. A Cia. Contraste realiza ainda arrecadação solidária de 1 kg de alimento não perecível para as pessoas em vulnerabilidade social.

Diego Summer, dramaturgo, ator e diretor do espetáculo, relata de forma poética que a retomada dos eventos culturais são a volta da luz, depois de um período de escuridão vivido pela sociedade.

“A volta do teatro é uma pérola brilhante de energia e de garra. O retorno da plateia, mesmo se adaptando aos cuidados, com distanciamento, uso de máscaras e álcool em gel, mostra que a arte é vida, é encontro. E a cultura é o remédio para um povo pensante, saudável e presente”, filosofa.

Para Summer, uma das grandes dificuldades na adaptação foi retomar os ensaios com atores de máscara, o que o obrigou a adaptar seu modo de dirigir e de atuar. 

“Foi muito difícil dialogar e não ver a expressão dos atores por baixo das máscaras, somente com os olhos do lado de fora. Foi uma experiência bacana de saber que todos estariam no palco, testando novos meios e voltando à ativa”.

O dramaturgo tocantinense celebra a importância da Lei Aldir Blanc na produção do espetáculo. A lei nacional foi criada para socorrer a classe artística durante a pandemia e possibilitou uma produção cultural em larga escala, se ocupando majoritariamente do campo digital e refletindo na retomada do presencial. Ele finaliza o seu relato com um pedido de apoio à arte e aos artistas.

“Como ator, negro, produtor, diretor, cenógrafo e dramaturgo, sei das dificuldades de se fazer teatro no Brasil. Somos operários e aprendemos de tudo para tirar nossas ideias e sonhos do papel. Peço que todos acreditem em seu potencial e corram atrás. Com muito suor, muita batalha e muita luta. Pois a arte é luz e vem para iluminar esse momento sombrio que vivemos”, conclui.
Por Rodrigo Barros
Edição Miguel Arcanjo Prado




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