Não é só por saber “tocar em sentimentos profundos da alma” – como já disse o diretor Eduardo Tolentino – que o dramaturgo August Strindberg é lembrado. Suas obras atravessam séculos de existência carregando uma boa dose de contemporaneidade. Os assuntos tratados por ele em suas peças, ainda hoje, conversam com o público de igual para igual.
No mês em que o dramaturgo completaria 162 anos, uma boa oportunidade para conhecer um pouco de sua obra é assistir a “Os Credores”. Montada pelo Grupo Tapa, a peça está em cartaz no Viga Espaço Cênico e tem direção de Tolentino.
Para contar a trama, escrita em 1888, o diretor escalou Chris Couto, que vive a personagem Tekla. Sergio Mastropasqua interpreta Gustavo, o marido de Tekla, e José Roberto Jardim, o desconhecido Adolfo que chega em um hotel e acomete a relação do casal.
Este é o segundo contato da companhia com a obra de Strindberg. Em 2006, o coletivo apresentou “Camaradagem”, espetáculo no qual a história gira em torno de um casal de pintores que vive um casamento de aparência, mas que, em certo momento, é comprometido por uma disputa artística.
Os atores José Roberto Jardim e Chris Couto em cena no espetáculo “Credores” (Foto: Divulgação)
Uma Salva de Palmas a Strindberg!
Tendo exercido grande influência sobre o teatro moderno, se ainda estivesse vivo, Strindberg teria completado, dia 22 de janeiro, 162 anos. Reconhecido mundialmente como o maior dramaturgo e escritor sueco, é autor de obras como “O Quarto Vermelho” (1879), “A Menina Júlia” (1888), “Inferno” (1897) e “A Dança da Morte” (1900), entre outras.
Nascido em Estocolmo, Suécia, o filho de Carl Oscar Strindberg e Ulrika Eleanora Norling teve uma infância marcada pela pobreza. Destacava-se dos demais garotos por sua timidez, sensibilidade e rebeldia precoce.
Iniciou seus estudos em Química na Universidade de Uppsala, no entanto, teve que abandonar o curso. Na época, afundou-se em uma pesada depressão e tentou o suicídio com uma pílula de ópio. Não morreu, porém acordou imerso em memórias infantis, que deram origem à sua primeira peça.
Em 1874, foi nomeado bibliotecário da Real Biblioteca de Estocolmo, conseguindo atingir a estabilidade financeira. Trabalhou, ainda, como jornalista. No entanto, o sucesso como autor teatral chegaria com sua primeira peça importante, “Mestre Olof”, de 1872, drama no qual expõe sua revolta contra as convenções sociais e todos os tipos de poder. A obra, porém, só foi reconhecida após alguns anos.
Como escritor, obteve êxito ao escrever – com a ajuda de sua primeira esposa – a novela “O Quarto Vermelho”, em 1879. Em 1886, termina sua autobiografia; e dois anos depois, vivendo na Dinamarca, finaliza um de suas principais trabalhos, “A Menina Julia” (“Miss Julie”), que seria encenado em 1889, com sua esposa no papel principal.
Logo, viria sua primeira separação, e com ela, vários de seus textos passaram a ganhar um caráter misógino, revelando rancor e desprezo contra as mulheres, especialmente em “O Pai” e na própria “Miss Julie”.
Morando em várias cidades da Europa Central com amigos, conhece sua futura esposa, Frieda Uhl, uma jovem austríaca com quem fica casado por apenas um ano. Era chegada a fase mais sombria do autor, conhecida como “inferno”, por conta de seu crescente interesse por ocultismo e alquimia, temas que apresentava, também, em suas obras.
Neste contexto, escreve as novelas “Inferno” e “Lendas”, mas logo retorna à Suécia. Lá, em 1898, termina “Para Damasco” e inicia um diário – “O Diário Oculto” – que é tomado até hoje como uma das principais fontes de pesquisa sobre sua vida e obra. Nele, narra um pouco de seu terceiro casamento, cujo divórcio resultou na criação da peça “O Sonho” (1901), sua obra prima expressionista.
Abandonando ex-esposa e diário, muda-se para um apartamento e entra em mais um período artístico produtivo. Dele resultaram as peças “Páscoa” e “A Dança da Morte”, sendo esta última um marco do simbolismo.
Seu último suspiro frente ao câncer se dá em maio de 1912. Em seu túmulo, foi inscrita a expressão latina “O Crux Ave Spes Única” (Salve Ó Cruz, Nossa única Esperança). Seu legado, entretanto, atravessou um século e meio e permanece vívido nas esferas literárias e teatrais, tendo, ainda, permeado diversas escolas, do expressionismo ao naturalismo.
Serviço
“Credores”
Quando: Até 19 de fevereiro. Quintas, sextas e sábados, às 21h30; domingos, às 20h
Onde: Viga Espaço Cênico
Rua Capote Valente, 1.323 (Próximo ao metrô Sumaré) – São Paulo
Tel.: (11) 3801-1843.
Ingressos: R$ 40