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Sobre os Experimentos: núcleos 6, 3, 8 e 2

Publicado em: 29/06/2013 |

Por Alexandre Dal Farra*, especial para o portal da SP Escola de Teatro

Núcleo 6
Ao que me parece, neste experimento, de todos os que assisti, a dialética entre ler e presenciar é a mais adequada – e isso é conseguido a partir da relação com o espaço. Por exemplo, quando sou conduzido a atravessar o túnel à pé, entro em contato físico com um material arquitetônico que eu nunca vi daquele ponto de vista. Nisso há conceito, há ideia, mas há também experiência física. O material a ser lido é o mesmo que me causa uma série de sensações. Quando chegamos na parte de cima, temos na memória presente o que está embaixo. Nós nos encontramos com um totem pós-moderno que nos fala de dentro de uma espécie de cubo oracular do vazio, ou algo do tipo. Não me lembro do que o totem diz. O que é dito ali não parece ter muita importância, frente a todos os acontecimentos vivenciados. Um discurso que parece tentar guiar um pouco as sensações que vinham antes. Depois disso, o momento da lavagem, do retirar a sujeira que foi feita – um momento realmente interessante. Essa coisa de limpar a cena do crime é uma finalização que também gera o curto-circuito entre leitura dos significados e sensação presente que a ação concreta causa. Essa junção entre o elemento alegórico e o presente da cena é forte – e é performativo, no sentido da performance enquanto arte. Do happening, por exemplo.

 

Experimento do núcleo 6 (Foto: André Stefano)

Núcleo 3
Aqui o que salta à vista é a utilização da luz do dia, dos corpos e dos sons enquanto elementos puramente formais, que geram uma espécie de composição abstrata. Esses elementos têm uma tendência, ali, de se tornarem puras formas, luz, cor, som – sem nenhum tipo de conexão clara com o externo (aqui, o simbólico tende a dominar). Claro, essas conexões podem ser feitas, mas elas dependem totalmente do exercício de quem assiste – e sobretudo: elas não determinam o exercício, a obra quer se manter por si mesma. Há ali uma tentativa de criar um objeto artístico autônomo. Uma espécie de coreografia de corpos, luz, som, texto. Aliás, o texto, que fala sobre o nada, sobre o abismo, parece se somar a isso e não dar uma pista clara para que o material seja lido. Mas, o aspecto poético, do significante, parece ter sido  relativamente menos trabalhado no texto do que nos outros elementos – é quase como se o texto fosse nos dar uma chave de leitura. Mas isso não ocorre (e se ocorre para alguns, receio que limite, antes do que amplie, a experiência proposta). Essa coreografia ganha algo de etéreo que, sendo a 6ª obra que presenciei, me dificulta o contato com ela. Mas acho que aqui o meu cansaço dificultou a relação com o material. Fico pensando como seria ter visto essa obra em 1º lugar.

Núcleo 8

Aqui retorna um certo clima de ficção científica da década de 1970, do ponto de vista dos figurinos. Primeiramente, há um momento em que as atrizes penduram o ator e se lambuzam com comidas. Depois, em um segundo momento, elas convidam o público a participar das cenas grotescas que são propostas. Uma delas, a que mais chama a atenção, é uma espécie de personificação do superego feminino, que fica dando ordens ao público constantemente, e sente prazer em ser obedecida. O rapaz come merda, as outras duas moças estão falando algumas coisas de que não me lembro. Depois, no final, todos voltam ao centro, o rapaz tentando vestir uma camiseta do tamanho de um menino de oito anos. Essas foram as imagens e momentos que mais ficaram marcados para mim.

Nesse experimento, a sensação é que parece que há algo para ser lido. Mas esse algo não é claro em absoluto. No entanto, esse conceito, que está por trás, gera alguns programas que fazem com que os atores efetivamente realizem as ações propostas. A potência da cena está nesse aspecto não-representativo, onde os atores não interpretam nada, apenas realizam as ações a que se submeteram. Alguns atores, em certos momentos, ainda buscam um registro de representação, e isso tira a força do experimento.

 

Núcleo 8 (Foto: André Stefano)

Núcleo 2
Voltamos para a Praça Roosevelt, agora para uma quadrilha junina pós-moderna, em que as instruções são dadas por uma voz de GPS, ou algo do tipo. Na praça, os atores estão vestidos de vermelho e realizam ações que remetem, de forma distorcida, às manifestações recentes que tomaram conta do País. Aqui, novamente, preciso ler o que me é proposto. No entanto, ao chegarmos à cena principal do Experimento, em que uma moça diz que protesta contra tudo e mais um pouco, jogando papeizinhos pelo ar, parece-me que a sobreposição de elementos externos à cena gera tensão e jogo. Depois, quando são feitos varais com as roupas vermelhas e panos brancos ao fundo, abrindo um olhar sobre a cidade, há algo ali de um ponto de vista de certa forma inusitado, somado ao cansaço do dia inteiro, que esse final contemplativo gera, nos colocando de volta em contato com a cidade, no entanto, com um olhar levemente alterado pelos elementos que o Experimento insere nessa paisagem. Os elementos não chegam a transformar a paisagem em si, mas, como que sugerem um ponto de vista diverso para ela – uma espécie de visão em paralaxe, levemente distorcida por algo que é inserido ali pelos artistas.

*Alexandre Dal Farra é dramaturgo e diretor.

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