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São Djalminha, (não) Olhai por Nós

Publicado em: 10/08/2012 |

Recorte um círculo de tecido, dobre um borda e a alinhave. Depois, puxe a linha até que as bordas se unam. Agora você tem um fuxico. Repita os passos até fazer muitos deles e costure-os entre si. Pronto! Você tem uma colorida colcha de fuxicos. Mistura do artesanato africano, indígena e português, o fuxico passou a fazer parte cultura nordestina. 

 

Foi assim que o dramaturgo recifense Newton Moreno “costurou” o texto da peça “Maria do Caritó”, protagonizada pela atriz Lilia Cabral e que mergulha no universo nordestino-teatral-mambembe. O espetáculo teve pré-estreia em setembro de 2010, em Campos de Goytacazes, no Rio, e estreou, no mesmo ano, no Teatro dos Quatro, na capital carioca. Hoje (10), entra em cartaz em São Paulo, no Teatro Faap.

 

O texto foi um pedido de Lilia para um reencontro de amigos. Em 1983, a atriz contracenava com Silvia Poggetti e Fernando Neves, na peça “Uma História de Amor ou o Gato Malhado e a Andorinha Sinhá” e, desde então, não trabalharam mais juntos. Lilia foi para o Rio de Janeiro e Silvia e Neves montaram a Cia. Os Fofos Encenam, em São Paulo. “Era uma vontade reagrupar essa família e agora a nossa história se cruzou novamente”, conta Lilia. Os três amigos ainda dividem o palco com Dani Barros, da recente “Estamira”, e Eduardo Reyes, que substituiu Leopoldo Pacheco da montagem carioca.

 

No enredo, Maria nasce de um parto complicado, a mãe morre e, com medo de que a menina sofra o mesmo destino, o pai a consagra como noiva a um santo, São Djalminha. Aos 50 anos, solteira e virgem, ela continua no “caritó” (prateleira onde as mulheres guardam alguns pertences, coisas sem uso, esquecidas). Religiosa e sonhadora, ela acredita que um dia vai se apaixonar e luta contra um pai autoritário para fugir da “solterice” eterna ao lado do santo Djalminha. “A personagem revela a religiosidade brasileira. E um sentimento universal, da beleza e poesia do amor, presente na vida.”, diz Lilia.

 

 Eduardo Reyes, Silvia Poggetti, Fernando Neves, Lilia Cabral, Dani Barros e Newton Moreno durante a coletiva de imprensa, no Teatro Faap (Foto: Arquivo SP Escola de Teatro)

 

Do desafio que é dirigir outros trabalhos e agora estar na peça como ator, Fernando Neves deixa claro que suou a camisa na nova empreitada: “Como diretor, você entrega e pronto. Como ator, é preciso se resolver no palco. Às vezes, me pergunto por que fiz teatro!”, brinca.

 

Para a composição da personagem, Lilia revelou que não costuma buscar nada em fontes externas. “Toda a inspiração veio do próprio texto do Newton. ‘Maria do Caritó’ é cheia de riquezas e complexidades. Sempre busco uma construção interna, para depois vestir o lado de fora. E a obra do Newton me dá isso.”

 

Com direção de João Fonseca e figurino de J.C. Serroni, coordenador do curso de Cenografia e Figurino e Técnicas de Palco da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, “Maria do Caritó” cumpre temporada até 16 de dezembro. Às sextas-feiras, tem ingresso popular a 30 R$. “Fico feliz por termos conseguido isso. Eu adoro o público que está presente nesses dias. São muitos estudantes e que se interessam pelo nosso trabalho. Não estão indo obrigados. Isso me deixa feliz. Teatro é pra sentir prazer”, finaliza Lilia.

 

 

Serviço:

“Maria do Caritó”

Quando: Sextas, às 21h30; sábados, às 21h; domingos, às 18h

Onde: Teatro Faap

Rua Alagoas, 903 – Higienópolis

Tel.: (11) 3662 – 7233

Ingresso: Sexta: R$ 30; sábado: R$ 80; domingo: R$ 70

 

 

Texto: Leandro Nunes
 

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