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Reflexões sobre ‘O Monte do Mau Conselho’

Publicado em: 07/06/2013 |

 

por Ivam Cabral*, especial para o portal da SP Escola de Teatro

No ano passado, passei as minhas férias entre o Egito e Israel lendo “O Monte do Mau Conselho” (Companhia das Letras, 280 págs.), de Amós Oz. Foi uma grande experiência. Não apenas porque estava exatamente no lugar do planeta onde se desenvolvem as tramas da obra, mas – e principalmente – porque mergulhava em um dos momentos da história recente da humanidade que mais me fascina: a década de 1940.

Três histórias compõem esta obra de Oz. Na primeira, que dá título ao livro, ficamos conhecendo o garoto Hilel Kipnis, obeso e asmático, filho de um pai sonhador e otimista e de uma mãe que permaneceu na Palestina por pura casualidade. Mas são as personagens secundárias que dão poesia à narrativa. Desde as vizinhas musicistas ao soturno Mítia, inquilino da família.

Na segunda história, “O Senhor Levy”, mais uma vez o narrador é um garoto, Uri, desta vez bravo e valente, que convive com seu pai, Efraim, eletricista e devaneador, e com as descobertas de sua, um tanto confusa, sexualidade.

Fecha a obra “Saudades”, uma série de cartas do doutor Nussbaum, médico condenado à morte por uma doença misteriosa jamais revelada ao leitor, endereçadas à sua amante, Mina, cujo paradeiro ele desconhece.

“O Monte do Mau Conselho” é um livro melancólico, porém esperançoso. E é na relação entre árabes e judeus, trabalhada o tempo todo entre as narrativas, que ficamos com a boa sensação de que, por meio do humano – e talvez apenas através dele – é que encontraríamos alguma saída para os conflitos entre os dois povos.

Por exemplo, em “O Senhor Levy” ficamos conhecendo, na relação de um pai com seu único filho, a visão de dois mundos completamente antagônicos. De um lado, o pai, poeta, “adorável como um ursinho de pelúcia”, que “descansava no verão numa espreguiçadeira no quintal, contando as horas e os dias”; e, de outro, Efraim, que aderiu à luta clandestina contra os britânicos e que só aparece em casa para dormir. Entre os dois mundos, os sonhos. Enquanto o pai fantasia fontes cristalinas e poços abundantes, o filho tem visões apocalípticas, onde as cidades ardem.

Talvez resida em Amós Oz uma boa saída para o futuro. Sua posição política – embora utópica num primeiro momento – prevê que possa haver uma espécie de “paz sem reconciliação”, onde Isarel e Palestina possam conviver em harmonia mantendo suas diferenças. Como em “O Senhor Levy”, onde o fogo do apocalipse e a poesia das águas transcorrem em equilíbrio.

*A coluna de Ivam Cabral é publicada às sextas-feiras. Clique aqui para ler outras colunas.

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