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Ponto | Tem Carnaval no Teatro

Publicado em: 12/02/2013 |





O musical “Orfeu”, em montagem de 2010, dirigida por Aderbal Freire Filho (Fotos: Divulgação)

E será que teatro dá samba? Dá, sim sinhô… A seção Ponto desta semana entra no clima de folia e recorda duas montagens que ganharam os palcos tendo como mote o que Caetano Veloso cantou como “o maior show da Terra”, o Carnaval: “Otelo da Mangueira” e “Orfeu da Conceição”.

A primeira é inspirada na tragédia “Otelo, o Mouro de Veneza”, de William Shakespeare, que se transformou, pelas mãos do autor e ator Gustavo Gasparani, no musical “Otelo da Mangueira”. A montagem estreou no Rio de Janeiro em 2006, ano em que também cumpriu temporada na capital paulista. Em cena, 13 atores, alguns deles da própria comunidade da Mangueira, sob a direção de Daniel Herz, contavam a história da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, tendo como pano de fundo o texto do bardo inglês.

Assim, guerras, generais e espadas da obra original cederam lugar ao morro dos traficantes de drogas, da violência e das escolas de samba dos anos 40. As armas e canhões foram trocados por cuícas, taróis e surdos da marcação. Contudo, permaneceram do enredo de Shakespeare, a vingança, a traição, a ambição, o ciúme, os amores e ódios.

Já “Orfeu da Conceição” é a adaptação, também em forma de musical, do mito grego de Orfeu, transposto para as favelas cariocas pelas mãos de Vinícius de Moraes. O maestro Tom Jobim musicou todo o espetáculo, que estreou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 1956, com cenários assinados por Oscar Niemeyer e encenado pelo Teatro Experimental do Negro. Foi a primeira vez em que um elenco só de atores negros ocupava o mais famoso teatro brasileiro. Sem dúvida, um fato memorável…

A história gira em torno de Orfeu da Conceição, um sambista que vive no morro, filho de um músico e de uma lavadeira, que se apaixona pela jovem e bela Eurídice. O amor entre os dois desperta o ciúme e o desejo de vingança em Mira, ex-namorada de Orfeu, que leva Aristeu, apaixonado por Eurídice, a matá-la. Na terça-feira, último dia de Carnaval, Orfeu desce o morro e vai ao Clube dos Maiorais do Inferno, depois da  morte de Eurídice, para tentar ver sua amada uma última vez. De volta à favela, solitário, o sambista é morto por Mira e pelas outras mulheres, instigadas por ela.

Em 1959, baseado na peça, foi lançado o filme “Orfeu Negro”, uma produção ítalo-franco-brasileira, que ganhou a Palma de Ouro, o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e o Globo de Ouro, em 1960. Em 1999, Cacá Diegues dirigiu um segundo filme baseado na peça, “Orfeu”, com música de Caetano Veloso e estrelado pelo cantor Toni Garrido. Já em 2010, passados 54 anos de sua primeira montagem no teatro, o musical voltou aos palcos com o título de “Orfeu”, com direção de Aderbal Freire Filho, direção musical de Jaques Morelenbaum e Jaime Alem e coreografia de Carlinhos de Jesus. No elenco, 16 atores negros, acompanhados de sete músicos.

 

Texto: Majô Levenstein

 

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