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Ponto | Teatro Para o Povo

Publicado em: 13/09/2011 |

Muitas vezes o teatro foi, e continua sendo, associado às classes elitistas, como uma produção artística pouco acessível ao grande público. Entretanto, um gênero quis quebrar esses paradigmas e passou a se dedicar, exclusivamente, à classe de pessoas desfavorecidas. Assim, trouxe para o palco diversas representações, com base em temas como política e problemas sociais. Nascia, então, o chamado teatro popular.

 

Espetáculo “A Mais-Valia Vai Acabar, seu Edgar”, de Vianninha, montado em 1960 pelo CPC (Foto: Acervo Cedoc/Funarte)

 

As raízes desse gênero no Brasil remetem a década de 50, e têm sua concepção na própria vontade do público, que demonstrava grande interesse em ver questões sociais abordadas no palco. Para ilustrar os problemas da época, os dramaturgos que despontavam no cenário nacional encontraram, nos ambientes e nas personagens do campo e da periferia, a fórmula ideal para esse tipo de montagem.

 

Essa proposta teve continuidade com autores como Gianfrancesco Guarnieri, Jorge Andrade, Oduvaldo Vianna Filho, Paulo Pontes, Dias Gomes, Antônio Callado, Augusto Boal e Millôr Fernandes, que focalizam a exploração e a marginalização sofrida por essa classe social. A romantização da união entre esses desfavorecidos em torno de uma causa comum deu origem a várias peças que colocam em cena história de mártires, como Lampião, Antônio Conselheiro, Padre Cícero, Zumbi e Tiradentes.

 

Em seu desenvolvimento, o gênero dividia-se em duas vertentes: uma de teor regionalista, e outra ideológica. A primeira deu atenção especial ao nordeste, ao que passou a ser chamada de Escola do Recife, na qual o nacionalismo era exaltado como ferramenta na busca de uma reviravolta popular em direção à liberdade e ao poder. Ariano Suassuna, João Cabral de Melo Neto, Hermilo Borba Filho e Luiz Marinho são alguns dos nomes que se destacaram. Ainda que em diferentes estilos e retratando períodos históricos diversos, todos dedicaram-se ao drama e a luta vivenciada pelo povo nordestino. “Auto da Compadecida”, de Suassuna, é uma das mais famosas obras que incorporam o conteúdo do gênero.

 

Com a fundação do Centro Popular de Cultura da UNE – CPC, já na década de 60, é iniciada uma prática teatral baseada na revolução social, com o objetivo de introduzir o povo na forma crítica de enxergar a situação política do País. Ao contrário do regionalista, a religião não faz parte dos planos do teatro revolucionário, pois esta seria uma forma de dominação originada das classes dominantes. 

 

A linguagem e o formato adotados pelo CPC incomodaram, logicamente, a censura da ditadura militar, que coloca um fim à voz crítica do coletivo e interrompe seus projetos em 1964, mas não impede que seus dramaturgos migrem para o Grupo Opinião, que, ao lado do Teatro de Arena, se torna o responsável pelas encenações mais relevantes no sentido de abordar os problemas sociais do Brasil, ainda que sufocados pela pressão da ditadura.

 

Após anos de estagnação na cultura brasileira, e com o teatro de vanguarda e o teatro comercial em evidência na cena nacional, um movimento liderado por intelectuais e artistas se propõe a retomar uma produção teatral nacional-popular, se utilizando, para isso, de uma linguagem crítica e realista, como pode ser visto em “Gota d’Água”, de Paulo Pontes e Chico Buarque, de 1975, e “O Último Carro”, de João das Neves, de 1978.

 

Mais recentemente, alguns grupos que seguem os preceitos de um teatro popular são, da década de 90 em diante, os coletivos Folias d’Arte, a Companhia do Latão e a Companhia de Arte e Malas-Artes.

 

 

Texto: Felipe Del

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