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Ponto | Que Papelão!

Publicado em: 17/07/2012 |

A seção Ponto! desta semana é uma espécie de “vingadora” das caixas de papelão. Especialmente se você acha que o material, inventado pelos chineses, no século XV, serve apenas para embalar seus pertences na hora da mudança. 

 

Nada disso. Depois que o nova-iorquino Albert Jones incrementou a criação made in China, em 1871, inventando o papelão corrugado (com folhas de revestimento dos dois lados e, no meio, enchimento de papel ondulado), veio o também americano Robert Gair para, em 1890, confeccionar a primeira caixa de papelão ondulada, tal como a conhecemos hoje. E o que o teatro tem a ver com isso?

 

Muita coisa. Há peças, como “Rodriguianas: Tragédias para Rir”, que cumpre temporada até 2 de setembro, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, cujo cenário é totalmente feito com… papelão.

  

A montagem foi concebida em comemoração ao centenário de Nelson Rodrigues e leva ao palco a adaptação de oito contos do dramaturgo, jornalista e escritor. Encenada por Luís Artur Nunes, a peça traz os contos “O Pediatra”, “Romântica”, “As Gêmeas”, “A Esbofeteada”, “Despeito”, “Noiva da Morte”, “Flor de Laranjeira” e “Selvageria”, todos publicados no jornal Última Hora e na coluna “A Vida como Ela É”, nos anos 1950, no mesmo periódico.

 

Projeto do cenário de “Rodriguianas: Tragédias Para Rir” (Foto:Divulgação)

 

O cenário, assinado por Marcio Vinicius, é revestido de colagens de papelão. Ao fundo do palco, o cenógrafo, figurinista e aderecista posicionou algumas caricaturas de Nelson Rodrigues. Manequins esquartejados e máscaras folclóricas utilizadas em festas típicas brasileiras também tomam o espaço. Além de artístico, o cenário também tem cunho sustentável, já que foi feito com o reaproveitamento dos restos de matérias do ateliê de Marcio Vinicius.

 

 “Leonce e Lena”

E embora a iniciativa seja bastante original, não é inédita. Em agosto de 2006, a peça “Leonce e Lena”, dirigida por Gabriel Villela, também tinha cenário montado a partir de 3 mil placas de papelão. 

 

Cena de “Leonce e Lena” (Foto: João Caldas)

 

O texto, do alemão Georg Büchner, narra a história de amor entre o príncipe Leonce, do reino Pipi, e a princesa Lena, do reino Popô. Para concretizar a fragilidade humana das nobres personagens, o arquiteto, cenógrafo, figurinista e coordenador do curso de Cenografia e Figurino e Técnicas de Palco da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, J.C. Serroni, lançou mão das tais placas de papelão: 2 mil foram instaladas no palco do Sesc Avenida Paulista, no chão, no teto, e no figurino da Cia. Brancaleone de Teatro. O restante foi utilizado para criar 105 cadeiras para o público. Na montagem, havia, ainda, um espaço cheio de labirintos, onde o casal vivia seus encontros e desencontros amorosos.

 

 Texto: Leandro Nunes

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