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Ponto | Os Atores da Sala de Estar

Publicado em: 26/02/2013 |

François Kahn, durante a encenação do monólogo “Moloc”, em agosto de 2012, na Sede Roosevelt da Escola
(Foto: SP Escola de Teatro/Arquivo)

 

Em vez de ir ao teatro, que tal o teatro ir até você e seus amigos? A ideia, que parece um tanto maluca, tem inspirado, já há algum tempo, o trabalho de companhias de grandes centros, como Rio de Janeiro, São Paulo e, especialmente, do exterior.

Em 2012, por exemplo, o francês François Kahn esteve aqui na SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, para ministrar palestras, oficinas e, também, para apresentar o espetáculo “Moloc”, que faz parte do repertório do que ele chama de seu Teatro de Câmara. Com ele, desde a década de 90, o ator viaja pela Itália, onde se apresenta em residências de pessoas que o contratam para encenar textos clássicos de autores como Proust e Kafka. O detalhe é que François faz sozinho todo o espetáculo: desde a produção até a iluminação, passando por figurinos e elementos de cena. “Viajo de trem e chego sozinho à casa da pessoa, com uma única maleta na mão, o que passa uma sensação de alguém desprotegido, pronto para ser acolhido pelo anfitrião”, conta.

Kahn ainda pontua algumas “regras” que, segundo ele, devem existir no Teatro de Câmara: “De maneira alguma o espectador deve ser forçado a perceber algo da cena. Não deve existir mentira nem manipulação entre o ator/narrador e a plateia. Ele não deve tocar no público, fazer com que ele tome parte da cena de modo autoritário; seu olhar deve fluir, sem se fixar em um único elemento na plateia. Isso pode constranger quem esta assistindo à apresentação. Também gosto de iluminar o público, com uma luz fraca, para ver e ser visto por ele”, afirma o francês.

Aqui em São Paulo, a Cia. Radiophônica de Theatro e Outras Cousas… leva a eventos reservados em casas, condomínios, sítios ou qualquer outro espaço, espetáculos de seu repertório, repleto de peças e performances, alguns incluindo dança e música ao vivo. Nenhuma estrutura especial é requerida para as apresentações. Iluminação e cenários são improvisados com o que estiver disponível e até a cozinha ou o banheiro podem servir de coxia. Entre a programação, estão: Saraus Temáticos, Contação de Histórias com Temas Adultos, além das peças “Memórias de Eva e Lilith”, “Vinícius, Feminino, Plural” e “Macunaíma”.

Em 2011, o Grupo Kunyn, com sede na capital paulista, costumava levar a peça “Dizer e Não Pedir Segredo”, dirigida por Luiz Fernando Marques, à sala de quem quisesse trazer o espetáculo para dentro de casa. No prólogo da montagem, os atores Ronaldo Serruya, Luiz Gustavo Jahjah e Daniel Viana liam três cartas, de diferentes períodos da história brasileira, que tratavam da homossexualidade – entre elas, um trecho da crônica “Carta Para Além dos Muros”, que Caio Fernando Abreu publicou no jornal O Estado de S.Paulo, em 1994, anunciando ser portador do vírus HIV.

Então, arraste o sofá, tome o lugar na sala de estar (se precisar, pegue uma cadeira da cozinha). Afinal, a peça vai começar!





Texto: Majô Levenstein


 

 

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