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Ponto | O Teatro Essencial de Denise Stoklos

Publicado em: 05/02/2013 |

Denise Stoklos, em cena de “Mary Stuart”, trabalho que lançou as bases de seu Teatro Essencial, em 1987 (Foto: Divulgação)
 

Neste semestre, o Módulo Azul aborda a Performatividade. Assim, no último sábado (2), a atriz, diretora e coreógrafa Denise Stoklos, nome que é referência no assunto, foi convidada para ministrar a aula inaugural na Sede Brás da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco (leia aqui a cobertura do evento). Em pauta, claro, seu Teatro Essencial, que ela criou em 1987, com a montagem “Mary Stuart”, concebida e realizada em Nova York.

Segundo a própria Denise, o Teatro Essencial é construído sobre as relações reflexivas, que se dão dentro de uma dimensão temporal específica e que atuam sobre atores, personagens, texto, contexto e público. Com ele, a artista acredita que seu teatro pode mudar o mundo – e assim o faz.

Mas será que o teatro pode mesmo transformar o universo? Alguns fazem pouco da questão, mas não dá para o espectador sair o mesmo depois de ver Denise em cena, tão solitária, tão essencial e tão corajosa. “O Teatro Essencial dá prioridade máxima à matéria viva que é o ator com seus recursos humanos: voz, corpo, inteligência e intuição. Evita-se utilizar recursos cenográficos e tecnológicos que deixem em segundo plano o trabalho de pesquisa do humano, que é muito delicado e requer sensibilidade, comprometimento verdadeiro e também muita coragem”, como explica sua criadora.

Político, o Teatro Essencial desafia o artista a assumir a responsabilidade integral por suas escolhas. Cada detalhe: o texto, a coreografia, a modulação da voz, a atitude do gesto. “Ele é Essencial porque trata só de acontecimentos que pertencem à natureza humana, não de comportamentos ocasionais, e Essencial porque usará apenas recursos que são básicos, de uso possível a qualquer um, que vem das expressões de corpo e das expressões do mental e das expressões do emocional. A particularização vai se dar na plateia: cada um vai ‘ler’ o que se passa no palco, de acordo com sua capacidade e com seu interesse, outra vez: mental, emocional, cultural e existencial”, escreve Denise, no texto que doou especialmente para a SP Escola de Teatro e no qual destrincha seu próprio método.

A seguir o Teatro Essencial pela voz de Denise Stoklos:
“O que me encanta no teatro é esta possibilidade de escolher. Assim, escolho para mim o Teatro Essencial. E o estabeleço como meu. Aquele teatro que tenha o mínimo possível de efeitos, o mínimo. E que contenha a máxima teatralidade em si próprio. Que na figura do humano no palco se realize uma alquimia única: aquela em que a realidade da representação (da reapresentação) é mais vibrante que o próprio tempo cronológico. Que critique esse tempo, que revele esse tempo. Que nesse fim de século o teatro possa reafirmar o sentido essencial como bem mais evidente que matéria descartável. Quero trocar a fantasia da composição teatral pela presença viva do ator. Acredito na relação de nova realidade que se faz na força da presença viva do ator, engajado na história com suas idiossincrasias, sem recursos do fabricado, limpidamente como água na fonte. Os valores do palco muitas vezes estão povoados de valores de bastidor, de camarim. Quero o palco nu. Os figurinos, cenários e discursos radiofônicos muitas vezes acoplam parasitárias imagens no ator. Não quero decoração. Quero no seco. Com raiva decreto o fim do excesso. A pirotecnia mente. Quero sinceridade.” (Manifesto do Teatro Essencial, 1987).

“A intuição é muito sábia. Ela mesma nos conta quando estamos errados. Ela é muito forte, e na nossa sociedade não é muito desenvolvida. A gente vive muito no pragmatismo, no racional, no conquistar, no competir. Tem que deixar fluir.” (Denise Stoklos, em entrevista para a revista “Abre Aspas”)

 “A sociedade precisa de duas coisas, mesmo: de pão e de circo. Nós todos precisamos do pão, que significa a matéria, e do circo, a poesia. Tanto quanto comer, a gente precisa do teatro. E o teatro é a maneira mais profunda de comunicação na arte, porque é de gente viva com gente viva. Aquela pessoa que está no palco, está envelhecendo ao mesmo tempo que a pessoa sentada na plateia. É como uma relação amorosa, como um ato sexual, onde duas pessoas estão em interação. É uma coisa sagrada. As pessoas saem de casa, deixam seus filhos, fecham seus livros, pra ver uma coisa que pertence a elas. E quando saírem daqui, elas saem melhor, mais sábias. Então, o teatro tem de apresentar vários prismas para que a pessoa cresça. Quando eu vou ao teatro, eu estou crescendo.” (Denise Stoklos, em entrevista para a revista “Abre Aspas”)

 

Texto: Majô Levenstein

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