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Ponto | O negro em cena

Publicado em: 18/11/2014 |

No dia 20 de novembro de 1695, morria Zumbi dos Palmares, último líder do Quilombo dos Palmares, o maior quilombo que existiu durante o período colonial.

 

A data da morte do grande símbolo da resistência negra e da luta contra a escravidão foi adotada como Dia da Consciência Negra. Como de costume, a SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco dedica um espaço no portal para celebrar a Semana da Consciência Negra.

 

É impossível relacionar este tema ao teatro brasileiro sem falar sobre o Teatro Experimental do Negro (TEN). Fundado e dirigido por Abdias do Nascimento, em 1944, no Rio de Janeiro, o grupo tornou-se pioneiro em levar ao palco um elenco de atores negros e/ou mestiços, fazendo parte da formação do teatro moderno brasileiro, ao lado de grupos como o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), em São Paulo, e Os Comediantes, no Rio de Janeiro.

 

Duas cofundadoras do grupo: Arinda Serafim e Marina Gonçalves, ensaiando o papel da “velha nativa” em O imperador Jones (Foto: José Medeiros)

 

A proposta do grupo era a valorização do negro com um trabalho de cidadania, propiciando a conscientização social, além da alfabetização, na medida em que o elenco era recrutado no universo operário, entre as empregadas domésticas, favelados sem profissão e alguns funcionários públicos.

 

O início de seus trabalhos foi uma colaboração com o Teatro do Estudante do Brasil (TEB), na peça “Palmares”, de Stella Leonardos. Porém, ao investir num espetáculo próprio, deparou-se com a dificuldade de encontrar algum texto brasileiro que correspondesse aos seus objetivos, ou seja, com personagens negros. Dessa forma, Abdias do Nascimento recorreu a um texto de Eugene O’Neill, “O Imperador Jones”, que retrata a situação do negro após a abolição da escravatura. O espetáculo estreou em 1945, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com boa recepção da crítica e elogios ao ator Aguinaldo Camargo. 

 

Diante da ausência de novos autores, foi encenada outra peça de Eugene O’Neill, “Todos os filhos de Deus têm asas”, com a participação da atriz Ruth de Souza, que passa ser integrante da companhia. 

 

Na tentativa de criar uma dramaturgia brasileira que servisse aos seus objetivos, o Teatro Experimental do Negro (TEN) recebeu o texto “O filho pródigo”, de Lucio Cardoso, que chegou à cena em 1947, com cenários de Tomás Santa Rosa, e protagonizado por Ruth de Souza e Aguinaldo Camargo. Nesse mesmo ano, atuaram em “Terras do sem fim”, de Jorge Amado, adaptação de Graça Mello, com direção de Zigmunt Turkov, montagem em parceria com Os Comediantes. 

 

Em 1949, foi encenado o primeiro texto escrito especialmente para o grupo: “Filhos de santo”, de José de Morais Pinho, com elementos da cultura religiosa negra e alguma crítica social. Em 1950, foi a vez de “Aruanda”, de Joaquim Ribeiro, que conta a lenda do amor entre Rosa Mulata e o Deus Gangazuma.

 

Apesar de ter uma ideologia de conscientização, o grupo não chegou a ser um teatro popular nem popularizou sua plateia, na medida em que se apresentava quase sempre no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Para ir além do seu lado teatral, Abdias do Nascimento promoveu um concurso de beleza para negras e um concurso de artes plásticas com o tema Cristo Negro. Em 1945, realizou a Convenção Nacional do Negro e, em 1950, o 1º Congresso do Negro Brasileiro. Em 1955, promoveu a Semana do Negro. Editou, ainda, o jornal Quilombo. 

 

A existência do Teatro Experimental do Negro (TEN) incentivou a criação de outras companhias negras, como o Teatro Popular Brasileiro, de Solano Trindade, no Rio de Janeiro. Em São Paulo, Geraldo Campos de Oliveira, que fizera parte do grupo fundador, criou outro Teatro Experimental do Negro, que se manteve em atividade durante mais de 15 anos. 

 

Mesmo com o empenho de seu diretor artístico e elenco, o Teatro Experimental do Negro (TEN) não chegou a ter uma grande popularidade junto à população negra, mas serviu, até o encerramento de suas atividades, em 1961, para a criação de uma dramaturgia negra e o surgimento de novos atores e grupos negros.

 

Em 2014, 70 anos depois da criação do TEN, o grupo esteve em evidência na SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco. No dia 12 de abril, a Instituição promoveu uma mesa de discussão gratuita e aberto ao público, como homenagem ao centenário de Abdias Nascimento (1914-2011).

 

Mesa de discussão sobre o TEN (Foto: André Stefano)

 

Os convidados ao debate foram: o historiador, pesquisador e aprendiz de Dramaturgia da Escola, Christian Fernando dos Santos Moura; a escritora, mestre em Direito e em Ciências Sociais e doutora em Psicologia, Elisa Larkin do Nascimento; o ator e bailarino Haroldo Costa; e o bailarino e coreógrafo Rui Moreira. São eles que aparecem na foto da Click! desta semana, feita por André Stefano.

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