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Ponto | O cruel tirano vestido de artista

Publicado em: 22/07/2014 |

“Que grande artista morre comigo!”

 

Reza a lenda que esta teria sido a última frase proferida por Nero Claudius Caesar Augustus Germanicus, o Imperador Nero, quando se suicidou, aos 30 anos, com a ajuda de seu escravo, Epafrodito, cravando um punhal na garganta.

 

Nero governou Roma de 54 a 68, até ser declarado inimigo do Estado pelo Senado e forçado a fugir da capital, fato que levou ao seu suicídio. Sua suposta despedida ilustra perfeitamente sua autoimagem: ele considerava a si próprio um artista inato e incrivelmente talentoso, dotado da capacidade de encantar o público com sua arte, tocando sua lira, como cantor ou como poeta.

 

A despeito da forma como Nero gostava de ser reconhecido – como homem sensível, culto e de veia artística inquestionável –, ele na verdade entrou para a história como um dos tiranos mais cruéis, autoritários e sórdidos.

 

Sua fama de vileza foi construída graças a atitudes como mandar matar a própria mãe – mulher também inescrupulosa e grande responsável por colocá-lo no poder – e duas esposas, além de ter perseguido os cristãos (os quais culpou pelo incêndio que devastou Roma no ano de 64 e fora atribuído a ele) e eliminado um sem-número de pessoas que se opunham a seus extravagantes propósitos. 

 

Nero também investiu pesado naquela que ficou conhecida como política do “pão e circo” para satisfazer o povo (vale lembrar que o hedonista Imperador era amante das artes e ordenou a construção de vários teatros e ginásios que recebiam encenações ao estilo grego). 

 

Assim, atrações como espetáculos grosseiros, recitais de poesia, combates entre gladiadores, execuções públicas e provas atléticas eram exibidos. Ao mesmo tempo, cereais eram distribuídos gratuitamente à população.

 

Em suas apresentações, uma condição se fazia superior a qualquer outra: todos deveriam aplaudi-lo. Quem ousaria contrariar o desejo de seu ego e sofrer com suas sanguinárias punições?

 

No entanto, nem todos os aplausos do mundo seriam suficientes para apagar ou reduzir o horror das atrocidades por ele cometidas. Se a crueldade genuína pudesse ser considerada uma arte, sem dúvida este seria um artista tão grande quanto imaginava ser.

 

Texto: Felipe Del

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