Camarim de ator é sempre como um universo paralelo, repleto de peculiaridades e envolto em um clima com um toque de sagrado. No espaço de uma das mais consagradas atrizes do Brasil, Irene Ravache, não poderia ser diferente.
Na década de 1980, por exemplo, ela, como a maioria de seus colegas de ofício, mantinha pendurados no espelho os bilhetes deixados por amigos, que ocupavam parte da superfície refletora e da moldura. Hoje, aos 70 anos, a artista já não sustenta mais a prática, por conta da grande rotatividade dos espaços teatrais.
Irene Ravache sendo entrevistada em seu camarim por Goulart de Andrade, em 1982
No entanto, há um costume que acompanha a atriz nos últimos anos. Em vez dos bilhetes – que, ainda importantes, agora ficam guardados em sua maleta – uma frase fica marcada em seu espelho.
Escrito em batom vermelho, “Amanheceu, simples e absurdo” é o pensamento que a inspira antes e após sair dos palcos.
Camarim atual da artista, no Teatro TUCA, com a peça “Meu Deus”
As palavras foram extraídas da música “Amanheceu”, de Jorge Vercilo. “Eu adoro essa frase. Acho sempre um absurdo o amanhecer”, ela revelou em entrevista à TV Gazeta.
Leia a letra inteira:
“Amanheceu
como num segundo
Amanheceu
apesar de tudo
Amanheceu
um raio no escuro
Amanheceu
simples e absurdo
Amanheceu
uma nova era
Amanheceu
renasceu da guerra
Amanheceu
um planeta mudo
Amanheceu
Era o fim da estrada
Era o fim do mundo ali
mas o sol brilhava
inacreditável em si
Não se imaginava
foi o fim de tudo, eu vi
mas o sol teimava
em raiar e resistir
E no mesmo dia
em que a ‘profecia do fim’
se revelaria,
eu te conheci assim…”