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Ponto | O Boi e o Burro a Caminho de Belém

Publicado em: 20/12/2011 |

“Dizem que, ao chegar a época em que se comemora a Natividade do nosso Salvador, o pássaro matinal se põe a cantar a noite inteira: nenhum espírito então se atreve a adejar pelo espaço; as noites são saudáveis, os planetas se acalmam; as fadas não atuam, nem as feiticeiras usam o seu poder de encantamento. Como esse tempo é feliz e cheio de graça!”

(Shakespeare, “Hamlet”)

 

 

O ano vai chegando ao fim, a temporada teatral já se encerrou e o clima natalino vai tomando conta da rotina de todos. Porém, engana-se quem pensa que o teatro nunca participa deste momento. Existem algumas peças que retratam essa data e que ficam em cartaz justamente neste período. Uma das mais conhecidas, encenada há quase cinco décadas, é “O Boi e o Burro a Caminho de Belém”, texto de Maria Clara Machado.

 

Escrita em 1953, a peça é a estreia da autora escrevendo para o público infantil. O auto de natal, pensado, a princípio, para o teatro de bonecos, acabou adaptado para ser interpretado por atores. As melodias natalinas, sugeridas pela própria autora, marcam seu interesse em dar à música um papel de destaque em suas peças.

 

Montagem da peça em 1953 (Foto: Divulgação)

 

“O Boi e o Burro a Caminho de Belém” narra a história do nascimento de Jesus Cristo pelo ponto de vista do Boi e do Burro, duas personagens que estão presentes no tradicional presépio. Empregando uma linguagem simples, a dramaturga supõe como teria sido a separação do estábulo e como o nascimento do Filho de Deus fez com que o mundo se preparasse para recebê-lo.

 

Personagens reais e fictícios, como pastoras, reis magos, rainhas magas, anjos, o povo e a Estrela se misturam à frente dos dois animais, até que, com a chegada de Maria, José e do menino Jesus, a montagem de um presépio vivo se completa. 

 

A peça foi encenada pela primeira vez, em 1953, pela própria Maria Clara – com O Tablado, grupo fundado por ela em 1951 –, no Rio de Janeiro. Desse ano em diante, o espetáculo seria apresentado em 1954, 1957, 1959, sob a sua direção e basicamente com a mesma equipe.

 

Uma quinta versão da montagem foi realizada, então, em 1971, apresentada cerca de 20 vezes, para um público total de mais de 3.000 espectadores. O êxito se repetiria durante muitos anos: 1973, 1974, 1986, 1991 e 1992, sempre com direção de Maria Clara.

 

Em 2001, ano do falecimento da autora, “O Boi e o Burro no Caminho de Belém” foi encenado por Bernardo Jablonski, que já participava das montagens desde 1971, no elenco ou como assistente de produção e de direção.

 

Nestes últimos 10 anos, a tradição de montar este espetáculo prosseguiu e continua cada vez mais forte. Neste ano, por exemplo, foi e será encenada em vários estados do Brasil: no Rio Grande do Sul, pelos grupos Blackout e Só Alegria; no interior de São Paulo, pelo Teatro Flácius, com direção de Ary Oswaldo; dentre outros.

 

Ao que parece, o Natal no País, ou pelo menos no que diz respeito ao teatro brasileiro, não seria o mesmo sem essa peça, que já está enraizada na cultural teatral nacional e deve continuar espalhando, por um bom tempo, o espírito dessa época tão singular.

 

 

Texto: Felipe Del

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