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Ponto | O Antigalã Brasileiro

Publicado em: 29/03/2011 |

De baixa estatura, narigudo e atarracado, o ator João Álvaro de Jesus Quental Ferreira ou, simplesmente, Procópio Ferreira, nunca foi um galã, mas, seus atributos físicos não o impediram de se tornar o artista brasileiro que mais atuou em espetáculos no País e na Europa.
 

Ferreira nasceu no Rio de Janeiro em 1898. Filho de portugueses, ingressou, em 1917, na Escola Dramática de sua cidade natal. Mal entrou para instituição e, pouco tempo depois, subiu ao palco pela primeira vez, fazendo o papel de um criado, no espetáculo “Amigo, Mulher e Marido”, encenado no Teatro Carlos Gomes , no Rio.
 

Em 1924, fundou a Companhia Procópio Ferreira, na qual trabalhou até meados dos anos 50, como produtor, diretor e ator principal. Considerado um dos mestres da atuação, trabalhou também com circo-teatro.
 

Do circo-teatro, Ferreira passou a se dedicar às comédias. E, a partir daí, em vários trabalhos, protagonizou espetáculos em que era o cômico inteligente que armava confusões e o feioso esperto que terminava com a moça bonita.
 

Ao longo dos 62 anos de carreira, atuou em 461 peças, algumas delas escritas especialmente para ele. Procópio Ferreira não se contentava, porém, em somente atuar e resolveu se tornar autor. Ao todo, assinou a autoria de nove peças, “Briga em Família”, “Arte de Ser Marido”, “Banho de Civilização”, “Convidado de Honra”, “A Grande Pantomima”, “Não Casarás”, “Presente do Céu”, “Boca do Inferno” e “Família do Antunes”.
 

Vanguardista, lançou o teatro de frases, com tiradas e expressões cortantes para substituir a tradicional comédia de costumes. Em televisão, participou de novelas como “A Grande Viagem”, “As Minas de Prata”, “Redenção”, “Dez Vidas” e “Divinas e Maravilhosas”, exibidas na Rede Tupi e na TV Excelsior.
 

Participou de cerca de 13 filmes, entre eles “Mistério do Rio”, “Coisas Nossas”, “Pureza”, “Berlim na Batucada” e “Comprador de Fazendas” e, publicou, baseado em sua própria experiência, quatro livros sobre interpretação.
 

O mestre, que deixou um grande legado para as artes cênicas e que sempre debochou da vida, descreveu com humor uma pseudo conversa que teria ocorrido no dia de seu nascimento.
 

“Nasci numa sexta-feira. “Oh! que bonito petiz”, exclama o pai aflito e logo vem a parteira: “Ora, deixemos de brincadeira, chamar isso de bonito, assim, com esse nariz?”, pergunta. “Há de ser cirurgião e formado em Paris”, um outro parente prossegue em sua imaginação. “Isso não, cem vezes não”, solta feroz, meu irmão: “De certo mata um doente assim, com esse nariz”.
 

O ator, recordista de atuações, faleceu na cidade em que nasceu, em 1979, vítima de enfisema pulmonar.
 
 
 

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