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Ponto | Nelson Rodrigues: A História de Sua História

Publicado em: 23/08/2011 |

Na Infância

Em 23 de agosto de 1912, em Pernambuco, nascia um menino. No entanto, não seria mais um no mundo; o futuro lhe reservava um importante papel na sociedade. Nelson Falcão Rodrigues, mais conhecido por Nelson Rodrigues, seria jornalista, dramaturgo e escritor. Sua história caminharia lado a lado com o teatro.

 

Quando tinha apenas quatro anos, sua família se mudou para o Rio de Janeiro, então capital federal. Dessa infância humilde, na Zona Norte da cidade carioca, surgiram as inspirações que comporiam boa parte de seu legado. Suas paixões se dividiam entre ler romances e assistir futebol. As duas influenciaram seu estilo literário.

 

Seu talento era nato. Aos oito anos, Nelson participou de um concurso de redação na escola em que estudava. O texto retratava uma história de adultério, na qual, a facadas, o marido traído matava a mulher. Quinto filho dos 14 que Maria Esther Falcão e Mário Rodrigues tiveram, Nelson tinha a leitura como refúgio das brigas constantes de seus pais.

Paralelamente às leituras, conheceu o Fluminense, time de futebol que nem ele nem seu irmão Mário Filho, que mais tarde seria um reconhecido jornalista esportivo, possuíam condições financeiras para ver jogar. A situação começou a mudar em 1922, quando seu pai passou a ter prestígio como jornalista do Correio da Manhã. A família se mudou para a Tijuca, onde a vida se tornaria mais confortável.

 

Em 1926, Nelson foi expulso da escola por motivos de rebeldia. À medida que adentrava o período de adolescência, foi se tornando uma pessoa melancólica e triste, entrando em um estado de depressão. Nessa época, o menino de 13 anos já começava sua carreira jornalística, no jornal de seu próprio pai, A Manhã.

 

 

O Começo de uma Carreira

Com boa capacidade de dramatizar pequenos fatos, o jornalista escrevia, especialmente, tragédias envolvendo casais de namorados. Mesmo não tendo terminado os estudos, Nelson se destacou na profissão e logo conseguiu uma coluna assinada na página principal do jornal. Seu primeiro artigo foi “A Tragédia de Pedra…”, publicado em 1928. “Gritos Bárbaros”, “O Elogio do Silêncio”, “A Felicidade” e “Palavras ao Mar” foram outros de seus escritos à época.

 

Aos 21 anos, Nelson adquiriu uma doença pulmonar que amedrontava a todos: tuberculose. Um dia, em 1940, já casado, o escritor acorda e descobre que não enxerga absolutamente nada. Os médicos disseram que era uma sequela da tuberculose e lhe receitam diversos antiinflamatórios para que ele volte a seu estado normal. Entretanto, 30% de sua visão foi perdida. 

 

O teatro começou a fazer parte de seus planos quando, em 1941, estava passando em frente ao Teatro Rival e ouviu alguém comentando que a peça “A Família Lerolero” estava rendendo um bom dinheiro. No ano seguinte, escreveu “A Mulher Sem Pecado”, que só foi encenada em 1942, pela companhia Comédia Brasileira, no Teatro Carlos Gomes. Apenas alguns críticos e seus amigos elogiaram o espetáculo.

 

 

Sucesso à Vista

Em 1943, portanto, Nelson começava a trilhar seu caminho de sucesso no tetro. Escreveu “Vestido de Noiva”, elogiado por muitos jornalistas e que teve sua montagem realizada pelo ator e diretor polonês Zbigniew Ziembinski. O autor não apareceu para a plateia aquele dia.

 

Em meio a esse sucesso, não parou de trabalhar como jornalista. Com novo emprego no jornal “O Cruzeiro”, passou a escrever folhetins. O nome que assinava cada capítulo da história “Meu Destino É Pecar”, no entanto, não era o seu, mas sim o de Suzana Flag, seu pseudônimo. O sucesso foi tanto que lhe rendeu a publicação de um livro da história. 

 

Em 1945, o grupo “Os Comediantes” encenou “Vestido de Noiva” e sua primeira obra “A Mulher Sem Pecado”, no Teatro Phoenix. No ano seguinte, Nelson escreveu “Álbum de Família”, que foi censurada e só foi apresentada 21 anos mais tarde. Ainda em 1948, estreia seu novo espetáculo “Anjo Negro”, que gerou, como sempre, comentários polêmicos. Outra obra sua é censurada: “Senhora dos Afogados”, que, em 1954, foi encenada por Bibi Ferreira. Para sair dessa fase, Nelson escreve “Doroteia”, uma das peças mais elogiadas do autor, que, mais tarde, seria interpretada pela atriz Dercy Gonçalves.

 

Em junho de 1951, o monólogo “Valsa nº6” é apresentado por sua irmã Dulce Rodrigues. Dois anos mais tarde, está nos palcos “A Falecida”, comédia classificada muitos anos depois, por Sábato Magaldi, como uma “tragédia carioca”. Após receber alta indenização do governo, em 1956, o escritor investe a maior parte do dinheiro no teatro.

 

“Perdoa-me por me Traíres” foi outra peça censurada. No mesmo ano (1957), escreveu “Viúva, Porém Honesta”, na qual um dos atores era Jece Valadão, seu cunhado na época. Entre 1959 e 1960, publicou mais dois livros: “Engraçadinha – Seus Amores e Seus Pecados dos Doze aos Dezoito” e “Engraçadinha – Depois dos Trinta”.

 

Com “Boca de Ouro”, Nelson se viu, mais uma vez, parado diante da censura. Ainda no final dos anos 60, o autor escreveu “Beijo no Asfalto” e convidou o casal de atores Fernanda Montenegro e Fernando Tôrres a subir aos palcos e apresentá-la.

 

Nelson foi autor, ainda, de algumas novelas como “A Morte Sem Espelho” (a primeira brasileira), “Sonho de Amor” e “O Desconhecido”. Em 1965, o escritor lançou “Toda Nudez Será Castigada”. O sucesso foi imediato. No final de 1973, no auge de seus 61 anos, escreveu “Anti-Nelson Rodrigues”. Após algumas cirurgias e complicações respiratórias que quase o levaram à morte, Nelson dá vida a sua última peça “A Serpente”, em 1979.

 

Um dos maiores escritores e dramaturgos de todos os tempos morreu em 21 de dezembro de 1980, deixando 17 peças e inúmeros escritos que instigaram e continuam provocando polêmicas e reflexões.

 

Texto: Jéssika Lopes

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