Um dos maiores mitos do teatro, sem dúvidas, é o de que Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido como Molière (1622-1673), morreu em pleno palco, enquanto atuava no papel principal de “O doente imaginário”, sua última comédia.
O dramaturgo, ator e encenador – um dos maiores nomes do teatro francês – realmente estava doente na ocasião da representação, no dia 17 de fevereiro de 1673, com uma tuberculose em estágio avançado. Era apenas a quarta sessão da peça, que nem fora apresentada à corte. Ainda em cena, teve um ataque de hemoptise e morreu poucas horas depois, em sua casa, que também ficava em Paris.
Contribuiu para a difusão dos boatos sobre sua morte no palco o fato de ter perdido bastante sangue pela boca durante o espetáculo. O público, certo de estar presenciando uma grande atuação, se esbaldava e aplaudia energicamente o ator em sua agonia. Com as cortinas já caídas, o artista foi levado para casa, onde morreu.
Qual foi a notícia que começou a se espalhar imediatamente? Que ele havia morrido no palco, óbvio. O boato não é verdadeiro, mas, convenhamos, foi por pouco. A romantização faz parte. Ainda mais para um legítimo comediante, que sempre fez do humor sua arma principal para satirizar os costumes e valores vigentes na sociedade burguesa de sua época.
Como se não bastasse, a morte de Molière também deu origem a uma forte superstição no teatro: a que afama a cor verde como sinal de mau agouro. A razão? O ator usava uma túnica dessa cor naquela noite. Enfim, muitos, até hoje, evitam usar verde no teatro. Há, ainda, quem diga que a cor que gera azar é o amarelo, e que era esta que coloria a roupa de Molière. Vai saber…
A trajetória do artista não foi tranquila nem após a morte: a cerimônia de enterro não pôde ser realizada. Isso porque a Igreja Católica não tinha, digamos assim, grande estima por ele, por motivos óbvios: suas constantes críticas e gozações.
Desesperada, Armande, sua mulher, implorou ao rei Luís XIV que fizesse uma sepultura digna. O monarca cedeu e pediu para o arcebispo abrir uma exceção. Assim, o corpo de Molière foi para o cemitério Saint-Joseph, num enterro noturno e praticamente clandestino.
Texto: Felipe Del