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Ponto | Itália Fausta e a Modernização do Teatro Nacional

Publicado em: 16/08/2011 |

Já se passou mais de um século desde o nascimento e a ascensão de uma das intérpretes mais importantes para a modernização do teatro brasileiro, nas décadas de 40 e 50. Seu nome era Fausta Polloni, porém, ficou mais conhecida como Itália Fausta.

 

Nascida no ano de 1879, em São Paulo, Fausta estreou nos palcos quando criança, substituindo uma atriz em um espetáculo amador. Daí em diante, continuou atuando no teatro amador por vários anos, até o reconhecimento bater em sua porta. Em 1906, foi convidada a entrar para a Companhia Dramática Portuguesa, dos lusitanos Lucinda Simões e Cristiano de Souza, com quem excursionou pelo País durante um ano.

 

Sete anos mais tarde, em 1913, deixou o solo brasileiro com direção a Lisboa, Portugal, onde contracenou com grandes atores, como Eduardo Brazão e Augusto Rosa.

 

Mesmo com êxito no país europeu, o destino de Fausta parecia realmente estar em sua terra natal, mais precisamente no Rio de Janeiro. Retornando, participou de um projeto inovador idealizado por Alexandre Azevedo e Cristiano de Souza, o Teatro da Natureza. 

 

O espaço era um amplo anfiteatro ao ar livre, localizado no Campo de Santana, com capacidade para cerca de 13 mil pessoas. Mais uma vez, a atriz seria a protagonista da companhia, com um reconhecimento ainda maior que anteriormente. Nesta época, em 1916, assumiu o papel principal de espetáculos como “Bodas de Lia”, de Pedroso Rodrigues, “A Cavalaria Rusticana”, de Giovanni Verga, “Antígone” e “Édipo”, de Sófocles, e “O Mártir do Calvário”, de Eduardo Garrido.

 

No ano seguinte, Gomes Cardim, diretor do Conservatório Dramático de São Paulo, a convidou para estrelar “A Labareda”, de Henry Kistemaeckers, e, logo na sequência, “A Ré Misteriosa”, de Alexandre Bisson, papel que interpretou durante vários anos.

 

Novamente no Rio de Janeiro e com o mesmo grupo, a atriz atuou nas mesmas montagens – somadas a algumas novas criações, como “A Marcha Nupcial” e “A Virgem Louca”, de Bataille, e “Fedora”, de Victorien Sardou. Tamanha era sua relevância para o Conservatório Dramático de São Paulo, que, depois de sua entrada, este passou a se chamar Companhia Dramática Itália Fausta e, mais tarde, Companhia Itália Fausta.

 

Perseguindo a inovação e a mudança, Fausta cravou seu nome em mais uma experiência ousada. No final dos anos 20, enquanto grandes autores escreviam peças especialmente para ela, a intérprete contribuiu para a escolha de repertório e trabalho de criação do Teatro de Brinquedo, fundado em 1927, por Alvaro Moreyra e Eugênia Moreyra, que tinham como objetivo revolucionar completamente a concepção de um espetáculo. O movimento ficou marcado como uma das manifestações precoces da modernidade do teatro nacional.

 

A partir de 1932, com a morte de Gomes Cardim, sua participação na Companhia Itália Fausta passou a ser esporádica, pois se dedicava mais a convites feitos por outros grupos, como o de Jaime Costa. Seis anos mais tarde, surgiu uma grande oportunidade. Fausta dirigiria o espetáculo de lançamento do Teatro do Estudante do Brasil (TEB), o clássico “Romeu e Julieta”, de Shakespeare.

 

Desbravadora, Itália não era a única da família a apreciar o novo. Ao que parece, essa postura estava no sangue dos Polloni. Assim, reforçando essa característica, seu sobrinho, Sandro, funda, junto com a atriz Maria Della Costa, o Teatro Popular de Arte (TPA), que também pregava a modernização. Entre 1948 e 1949, pelo TPA, Fausta atua em “Estrada do Tabaco”, de Erskine Caldwell, dirigido por Ruggero Jacobbi; em “Anjo Negro”, de Nelson Rodrigues, dirigido por Ziembinski, e em várias outras montagens do coletivo.

 

Com sua extensa influência na história do teatro nacional e considerada a maior trágica do País em sua época, Itália Fausta morreu no Rio de Janeiro, em 1951, depois de acompanhar seu sobrinho em uma grande turnê pela região norte. Mesmo assim, os ecos de suas realizações foram ouvidos por anos e anos, e acompanharam a modernização do teatro brasileiro.

 

 

Texto: Felipe Del

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