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Ponto | Dor de cabeça de gênio

Publicado em: 13/08/2013 |

Todos sabem que João Cabral de Melo Neto assina um dos textos brasileiros mais encenados nas últimas décadas, “Morte e vida severina”. Sua poética obra ganhou mais fama ainda depois de ter sido encenada, em 1965, numa montagem dirigida por Silnei Siqueira e musicada por Chico Buarque.

O que pouca gente sabe é que João Cabral de Melo Neto sofreu, por ininterruptos 50 anos (!) de fortes, terríveis e insuportáveis dores de cabeça. Mais precisamente, no lado esquerdo da cachola. O martírio era tanto, que ele aceitou o conselho de um parente e internou-se em um sanatório para tentar exterminar a enxaqueca, cuja causa médico nenhum conseguia diagnosticar. A experiência na internação foi traumática: “Durou cerca de seis meses. Mas, apesar disso, não produziu qualquer resultado positivo. Só deixou más lembranças”, brincava o autor.

E sabe a que Melo Neto atribuía tais dores crônicas? Ao fato de não ter sido jornalista. Mesmo depois de garantir sua cadeira na Academia Brasileira de Letras, o poeta e diplomata achava que foi após ter sido rejeitado por um jornal, aos 16 anos, que começou a enxaqueca.

O jeito era apelar para as aspirinas. João chegava a tomar 10 comprimidos por dia. Regularmente, pelo menos um a cada quatro horas – prática que não o deixava nem mesmo dormir uma noite inteira. Mesmo assim, era só gratidão ao “sol artificial”, que homenageou no inusitado poema “Num monumento à aspirina”: “Sol imune às leis de meteorologia / A toda hora em que se necessita dele / Levanta e vem (sempre num claro dia)”.

Como era de se esperar, os mais de 70 mil comprimidos ingeridos ao longo da vida lhe causaram úlcera. Por conta dela, teve de ser operado. Mas… de presente, como “efeito colateral”, finalmente, aos 66 anos, Melo Neto pôde comemorar: após a operação, livrou-se da enxaqueca.
 

Texto: Esther Chaya Levenstein

 

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