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Ponto | De Profundis: Do Amor ao Cárcere. Do Cárcere aos Palcos

Publicado em: 21/06/2011 |

Oscar Wilde, escritor e dramaturgo nascido em Dublin, no ano de 1854, encantou a sociedade londrina com suas obras ácidas e inteligentes. Sua primeira publicação, o romance “O Retrato de Dorian Gray”, de 1891, despertou grande polêmica devido ao seu conteúdo homoerótico e dividiu a crítica da época em resenhas de amor e de ódio pelo autor.

 

Apesar das crises com a imprensa, entretanto, o brilhantismo de Wilde, transformou suas obras “O Príncipe Feliz”, “O Crime de Lorde Arthur Savile” e “O Fantasma de Canterville”, em clássicos da literatura inglesa. Além disso, Wilde abalava os teatros da época com as peças “O Leque de Lady Windermere”, “Um Marido Ideal” e “A Importância de Ser Prudente”, um de seus maiores sucessos.

 

Esta série de publicações bem-sucedidas levou Wilde à conquista da fama. Entretanto, seu sucesso como escritor e dramaturgo veio acompanhado de grande exposição de suas atitudes, excêntricas demais para a época. Assim, a homossexualidade e conhecida atração por seus púpilos levou sua trajetória brilhante à literalmente um calabouço criativo.

 

“Não há nenhuma prisão, em nenhum mundo, na qual o amor não possa forçar a entrada.” Oscar Wilde

 

Oscar Wilde resistia a todas criticas e dificuldades menos a tentação, como dizia, e, no auge de sua carreira, passou a ter um relacionamento amoroso e tempestuoso, apesar de ser casado e pai de dois filhos, com seu pupilo Alfred Douglas, um jovem aristocrata, filho do Marquês de Queensberry. O casal passou a esbanjar dinheiro com jovens e jogo em um relacionamento instável: discutiam e frequentemente terminavam a relação, mas sempre se reconciliavam. 

 

Preocupado com a relação homossexual do filho, o Marquês de Queensberry ameaçou deserdar e extinguir toda e qualquer provisão de dinheiro a Alfred Douglas por ele não ter seguido uma carreira como advogado ou funcionário público e por ter deixado a faculdade sem se diplomar. 

 

Extremamente descontente com a orientação sexual de seu filho e sua relação com Wilde, Marquês de Queensberry manteve suas ameaças e, dirigindo-se a Alfred como “sua miserável criatura”, prometeu fazer um escândalo público caso o filho continuasse sua relação com o dramaturgo. 

 

Quando Francis Douglas, irmão mais velho de Alfred, morreu em um acidente, o Marquês de Queensberry embarca numa cruzada pelo “salvamento” do seu outro filho e, assim, começa uma perseguição a Oscar Wilde, que, publicamente o chama de sodomita.

 

Apoiodo por seu namorado e contra o conselho de amigos, Wilde enfrenta judicialmente o Marquês de Queensberry e o processa por difamação. Com dinheiro e muitas cartas na manga, o Marquês contrata vários michês como testemunha de sua defesa e apresenta documentos que comprovam a relação homossexual de seu filho com o escritor. 

 

O julgamento correu muito mal e Wilde, a conselho do seu advogado, retira a queixa contra o Marquês, que utiliza as provas recolhidas para acusar o dramaturgo de indecência grave com outros homens em atos homossexuais públicos e privados. Para reforçar sua acusação, apontou o verso “o amor que não ousa dizer o seu nome”, retirado do poema “Two Loves”, de Alfred Douglas, contra Wilde. 

 

Julgado como culpado em 25 de maio de 1895 e condenado a dois anos de trabalhos forçados na prisão de Reading Goal, Wilde passa a escrever uma longa e detalhada carta para Alfred Douglas, exilado na Europa. 

 

De Profundis

 

Sem nunca sofrer revisão, “De Profundis” foi escrita aos poucos por Oscar Wilde, durante seus dois anos de prisão. Ele recebia apenas uma folha de papel por dia para escrever no cárcere e, ao entardecer, seu manuscrito era retirado de suas mãos. Assim, o escritor se via forçado a guardar em sua mente em qual trecho havia interrompido seu texto, para, então, no amanhecer do dia, voltar a redigir a história dos altos e baixos de seu amor incompreendido pela sociedade conservadora do seu tempo.

 

Não autorizado a enviar a carta para Alfred Douglas, os manuscritos completos desta obra somente foram entregues ao seu dono no final de sua pena. Wilde, então, confiou o texto ao amigo jornalista Robert Ross, que fez duas cópias datilografadas da obra. Uma foi enviada a Douglas, que sempre negou seu recebimento e a outra ficou em seu poder.

 

Em 1905, quatro anos após a morte de Wilde, Ross publicou uma versão reduzida (cerca de um terço) da carta com o título “De Profundis”, nome que viria a ser utilizado em todas as edições posteriores. O original foi doado por Ross, em 1909, ao British Museum, com a condição expressa que não fosse apresentado integralmente ao público durante cinco décadas.

 

A segunda cópia foi utilizada por Vyvyan Holland, filho de Wilde, em 1949,  para a publicação da primeira versão completa e rigorosa da obra. Só no ano de 1960, o manuscrito foi tornado público e, no ano de 1962, após severa revisão, foi publicado no livro “The Letters os Oscar Wilde”.

 

Conhecido como um dos melhores auto-retratos já escritos por um poeta, que como ele próprio dizia, mais do que ninguém, conheceu o verdadeiro significado da palavra amor, “De Profundis” foi adaptado e ainda é encenado por diversos grupos de teatro no mundo.

 

Essa matéria faz parte do Especial Semana da Diversidade da SP Escola de TeatroConfira as outras matérias e sessões: a entrevista com o escritor Carlos Heea história das recepcionistas Brenda, Flávia e Laura e da secretária Janaína. Também um texto de Raquel Rocha, o Indica com Célia Forte e a matéria sobre a Parada Gay.

 

Foto capa: http://englishmatters4a.blogspot.com/2010_04_01_archive.html

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