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Ponto | Antonio Ermírio de Moraes e o amor pelo teatro

Publicado em: 26/08/2014 |

Antonio Ermírio de Moraes morreu na madrugada do último domingo, aos 86 anos. Poucos sabem, mas além de ser um dos empresários mais bem-sucedidos do Brasil, Antonio mantinha uma grande paixão pelo teatro.

 

A aproximação das artes cênicas o levou, inclusive, a escrever três peças: “Brasil S. A.”, que trata sobre o mundo financeiro; “S.O.S Brasil”, em que aborda a saúde no País; e “Acorda Brasil”, sobre educação. Também foi amante de música erudita e autor de diversos livros, pelos quais ganhou uma cadeira na Academia Paulista de Letras.

 

As três obras teatrais de sua autoria focalizam problemas brasileiros e foram encenadas em várias cidades do Brasil. A primeira a nascer foi “Brasil S. A.”. A “gestação” começou em 1986, quando Antonio havia acabado de sair de uma campanha política como candidato a governador de São Paulo. Essa experiência política, segundo ele, foi decisiva para sua empreitada no teatro. 

 

Dois anos após a campanha, o texto, que conta a história de Lucas, um empresário batalhador que vê seus conflitos profissionais misturando-se aos familiares, começou a ganhar o papel e, em 1996, foi encenado por Marcos Caruso. No elenco, uma lista de artistas renomados: Irene Ravache, Rogério Fróes, Mayara Magri, Suzy Rêgo, Luís Guilherme, Jandir Ferrari, Rogério Márcico e Eugênia de Domênico.

 

“Surpreendi-me com a força que nasceu dentro de mim para expressar, na forma de teatro, os meus sentimentos mais profundos. Afinal, sou engenheiro. Um homem de empresa. Dedicado aos investimentos, à industria de base, aos complexos problemas de engenharia, a tudo o que tenderia a tornar as pessoas frias e indiferentes. Não foi o meu caso”, registrou em seu site.

 

A segunda peça mergulhou na área da saúde, com que Antonio estava envolvido desde 1962, quando assumiu a diretoria da Cruz Vermelha Brasileira, instituição que presidiu durante quatro anos. Também foi presidente, entre 1971 e 2008, da Real e Benemérita Associação Portuguesa de Beneficência de São Paulo. Os anos de experiência levaram à criação de “S.O.S Brasil”, que estreou em 1999.

 

“Acorda Brasil”, a terceira e última criação teatral de Antonio, tem números bastante consideráveis: foi vista por 26 mil pessoas. Escrevendo “sempre como dramaturgo amador e sem pretensões de invadir seara alheia”, o autor focou a crítica situação da educação no País. 

 

A peça levou cinco anos para ser finalizada e explora a utilização da música como meio de recuperação e formação de crianças e adolescentes. No processo de criação, teve a ajuda de Juca de Oliveira, que leu e releu as dezenas de versões e fez sugestões importantes. Dirigido por José Possi Neto, o espetáculo contou com um grande elenco, composto por Petrônio Gontijo, Arlete Salles, Norival Rizzo, Mila Moreira, Luíz Guilherme, Mylla Christie, Renato Caldas e Lavínia Lorenzon. A montagem estreou no dia 2 de maio de 2006, no Teatro do Shopping Frei Caneca, onde ficou em cartaz por quatro meses.

 

Cena de “Acorda, Brasil” (Foto: Divulgação)

 

Apesar dessas criações, que chegaram a milhares de pessoas e foram trabalhadas por grandes artistas, Antonio nunca se considerou artista: “Não me intitulo escritor. Muito menos dramaturgo”, escreveu em seu site. Sua trajetória, no entanto, revela um homem interessado no ser humano e capaz de pensar o outro para além dos números e das cifras.

 

Texto: Felipe Del

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