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Ponto | A Arte sem Limites

Publicado em: 11/10/2011 |

A performance é uma forma de arte híbrida que incorpora uma série de elementos do teatro, das artes visuais e da música. Suas raízes datam das décadas de 60 e 70, com o desenvolvimento da arte pop (ou pop art), do minimalismo, da arte conceitual, e, também, com o advento de uma nova forma de pensar a arte – definida como contemporânea –, que quebrava paradigmas impostos pelas tendências modernas. Dessa maneira, com cada vez mais força, as obras começam a superar os limites entre modalidades e estabelecer uma relação entre arte e vida cotidiana, aspectos que também se constituem como elementos da performance.

 

Aprendizes da SP Escola de Teatro estudaram e apresentaram performances no primeiro semestre de 2011 (Foto: Rodrigo Meneghello)

 

O grupo Fluxus, criado no início da década de 60, foi responsável por uma grande série de experimentações neste campo. Um de seus fundadores, o lituano George Maciunas, realiza, entre 1961 e 1963, exibições que conferem certo destaque ao gênero. Nam June Paik e John Cage também são artistas que se aventuram em trabalhos que misturam performance, música, vídeo e televisão, tendo como proposta romper as barreiras entre a arte e a não-arte.

 

Ao longo dessas duas décadas, obras com poucas semelhanças entre si passaram a ser intituladas como performances, conferindo a esta forma de arte o que, até hoje, é um de seus principais traços: a dificuldade de delimitar as suas fronteiras. Enquanto a dupla Gilbert & George, por exemplo, trabalha com esculturas vivas e em fotografias que rivalizam com a pintura, o grupo Actionismus, de Viena, destaca o aspecto ritualístico da performance. 

 

Outros artistas se aventuraram em inovar esse gênero com experimentações que chocavam ainda mais, assim como promoviam uma conversa entre performance e a chamada body art. Bruce Nauman, Schwarzkogler e Vito Acconci são alguns dos que obtiveram êxito neste tipo de trabalho. As exibições de Acconci se tornaram símbolos desta integração. Em 1970, Acconci apresenta a performance “Seedbed”, na qual o artista se masturba ininterruptamente e, um ano mais tarde, cria “Trappings”, atuação na qual  passa inúmeras horas vestindo o seu pênis com roupas de boneca e conversando com ele.

 

No Brasil, o gênero começa a surgir na década de 50, Flávio de Carvalho um dos grandes nomes da geração modernista brasileira, artista múltiplo que atuou como arquiteto, engenheiro, cenógrafo, teatrólogo, pintor, desenhista, escritor, filósofo, performer, flashmobist, músico, entre outros. Conhecido por sua personalidade singular, Flávio de Carvalho foi  considerado como um poderoso animador do meio artístico paulista dos anos 30, destacado por suas audaciosas experiências.

 

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, em matéria que data de 1967, Flavio de Carvalho fez do escândalo uma ética experimental, saindo às ruas em trajes que as convenções sociais diziam ser impróprios, para observar, de perto, a reação das pessoas. Ele enfrentou uma procissão católica “de chapéu na cabeça” e quase foi destruído fisicamente pela ira da época, nunca recuava ou se amedrontava. Ideologicamente, esse artista foi eleito como o último representante da geração da “Semana de Arte Moderna”, unindo o escândalo, o “poema-piada” e o curto-circuito da significação escrita da poesia ou da prosa como o caminho mais curto para a implantação dos novos valores artísticos.

 

O Grupo Rex também realiza, no início dos anos 60, uma série de happenings – estilo por vezes encarado como sinônimo de performance, que mistura artes visuais e um teatro sem texto ou representação. As instalações do artista plástico Hélio Oiticica, das quais destacam-se os Parangolés, também figura entre as obras performáticas, dada sua execução e o seu “comportamento-corpo”, como definido pelo próprio criador. 

 

Nos anos 1970, ganham visibilidade as propostas do artista multimídia Hudinilson Jr., um dos pioneiros da arte Xerox no País. Na década seguinte, as eletro performances e os espetáculos multimídia, concebidos por Guto Lacaz, recebem atenção dentro da arte performática.

 

 

Texto: Felipe Del

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