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Poeta e escritora Luciene Carvalho, da MT Escola de Teatro, dá entrevista exclusiva sobre sua participação em F.E.T.O (Estudos de Doroteia Nua Descendo a Escada), de Gerald Thomas

Publicado em: 23/08/2022 |

 

Até 28 de agosto está em cartaz no SESC Consolação a peça F.E.T.O (Estudos de Doroteia Nua Descendo a Escada), criada e dirigida por Gerald Thomas. Com uma dramaturgia livremente inspirada em Doroteia, de Nelson Rodrigues, o espetáculo realiza uma releitura da peça à luz da vida e obra desse consagrado dramaturgo brasileiro. Uma das fontes de inspiração e figuras centrais na concepção criativa do autor foi Luciene Carvalho, que é escritora, poeta, a primeira mulher negra a adentrar a Academia Mato-grossense de Letras (AML), e artista egressa de direção da MT Escola de Teatro. A obra da autora foi fundamental na construção do material desenvolvido por Gerald na peça, a qual constituiu enfim um trabalho colaborativo, nesse contexto, Luciene conferiu à equipe de comunicação da SP um depoimento exclusivo contando um pouco mais de como foi esse processo.

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A artista explica que o contato com Gerald foi inusitado, apesar de sempre ter sido muito fã do trabalho do diretor ela nunca tinha conversado com ele. Ela explica que foi ele que a encontrou, enquanto ainda estava elaborando e idealizando a peça, o artista conheceu a poeta por meio do documentário Quem Tem Medo de Luciene Carvalho?, de Juliana Curvo. O texto original, escrito por Nelson Rodrigues, conta a história de Doroteia, uma jovem que, impactada pela morte de seu filho, decide abandonar a prostituição e reencontrar familiares em busca de uma reconstituição moral. Na montagem atual, Gerald injeta nessa narrativa novas camadas que exploram o caráter fantástico e surrealista da obra, numa apresentação que transparece referências importantes do mundo artístico, como Iberê Camargo e Marcel Duchamp.

“A experiência estética de F.E.T.O é espetacular, um verdadeiro canto de amor ao teatro. Um canto de amor que se embebeda de referências, trazendo não apenas o trabalho de Nelson Rodrigues, mas também de outros artistas singulares”, Comenta Luciene.

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A escritora explica que colaborou com o processo criativo da montagem e, antes de sua concretização, conversou muito com o diretor a respeito das temáticas tratadas. Dessa maneira, ao longo da peça o público pode entrar um pouco em contato com a obra da escritora, que publicou livros como Aquelarre (2007), Insânia (2009), Ladra de Flores (2012) e Dona (2018). Em F.E.T.O, Gerald decidiu trazer inclusive alguns trechos nos quais a própria voz de Luciene é reproduzida ao público e ganha uma interpretação dublada pelas atrizes em cena.

“Acho que o Gerald é um gênio, uma pessoa eletrizante que repercute no ambiente. Achei que em F.E.T.O a minha vida foi ficcionalizada de forma muito inteligente. Para quem se permitir ser tocado, a peça causará muito impacto e uma verdadeira e palpável mutação interna”.

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Para Luciene, o espetáculo também é muito significativo por marcar os 100 anos da Semana de Arte Moderna. Ela confessa que sentiu na peça esse ar de continuidade e, contraditoriamente, ruptura com um trabalho que começou há muitos anos atrás com grandes expoentes artísticos paulistas como Anita Malfati, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, entre outros:

“Para mim F.E.T.O é um canto à antropofagia às avessas. Nessa montagem, Gerald, esse homem que passou tantos anos no exterior, nos devolveu o Brasil, a história do mundo, propondo uma celebração aos 100 anos de arte moderna.”

No entanto, a relação de Luciene com o teatro apesar de ter sido fortalecida por meio desse encontro não começou neste ano, há algum tempo a autora já estuda e desenvolve alguns trabalhos dentro desse universo. Seu interesse pela área teatral é tamanho que, durante a pandemia, ela fez parte da turma de direção da MT Escola de Teatro:

“Eu fui fruto da experiência única e rara de 2020 e 2021, me formei em 6 de abril de 2022 e acredito muito no que aconteceu! Eram tão poucos os recursos, mas mesmo assim os envolvidos eram extremamente comprometidos e mesmo com as dificuldades do isolamento o teatro insistiu em estar perto”.

Sobre sua vivência no cenário artístico teatral, a autora também agradeceu e pontuou a importância de trabalhos como o da MT Escola de teatro, que impulsionou e cultivou o amor pela arte mesmo no contexto inóspito da pandemia.

“Durante o tempo em que estudei na MT Escola de Teatro eu compreendi a falta de profissionalismo com que são tratados o trabalho de artistas tão potentes, valentes e profundos. Muito do teatro e das montagens desenvolvidas aqui no Mato Grosso não são entendidos, vistos ou valorados. No entanto, apesar dessa realidade desafiadora o campo do teatro se mostrou como esse algo que ao mesmo tempo que nos limitava, nos mostrava o infinito. Eu já sabia das competências, já sabia de um chamado novo e sou muito grata a escola por ter nos enchidos de coragem, eles foram gigantes, injetando na gente autoestima”.

Luciene conta ainda um pouco da sua relação com o meio artístico e como essa se deu. Ela revela que foi fruto de uma família que amava arte de forma intuitiva, nascida em Corumbá, no Mato Grosso, a escritora conta que muitos de seus familiares foram privados do acesso à educação, mas isso não impediu que a poetiza construísse uma relação próxima com a poesia:

“A arte me rasga, me rompe, me motiva, nada me encanta mais do que sua grandeza. É nobre o fazer de quem se compromete em sequestrar o humano para apresentar a grandeza!”.

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Além disso, Luciene explica a centralidade dos projetos MT e SP Escola de Teatro no desenvolvimento cultural brasileiro:

“A MT e a SP Escola de Teatro são instituições que o Brasil não pode abrir mão. É essencial que nós sejamos veículos que divulgação desses trabalhos. No que diz respeito a arte e cultura, é preciso adentrar matas, cerrados, pantanais e é necessário que seja feita uma grande aliança entre ambientalistas, intelectuais e artistas. É importante que o Brasil descubra a arte do Brasil e nesse sentido acredito que a cidade de São Paulo pode se colocar como uma bandeirante das artes do país no século 21. “




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