“Além disso, se os tubarões fossem homens, também acabaria a ideia de que os peixinhos são iguais entre si. Alguns deles se tornariam funcionários e seriam colocados acima dos outros. (…) Em suma, haveria uma civilização no mar se os tubarões fossem homens”, arrematava a plácida voz de Ingrid Koudela.
O texto escrito por Bertold Brecht, “Se os tubarões fossem homens”, foi o escolhido por Ingrid para dar início à discussão da 7ª mesa do Colóquio “O que é pedagogia do teatro?”, promovida ontem (25), na Sede Roosevelt da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco.
Com mediação da pesquisadora e escritora Ingrid Koudela, que também é curadora do Colóquio, a diretora e atriz Beth Lopes, a Prof.ª Dr.ª Christine Greiner e a Prof.ª Dr.ª Tania Brandão reuniram-se para discutir o tema “A performance e pedagogia do teatro”.
Da esq. p/ a dir.: Tania, Ingrid, Christine e Beth (Foto: André Stefano)
Após a introdução, Tânia foi a primeira a falar. Agradecendo pela oportunidade de conhecer a Escola, ela observou que falaria sobre “um assunto oportuno para a possibilidade de pensar o teatro brasileiro”.
Baseada em obras do filósofo espanhol José Ortega y Gasset e do historiador britânico Eric Hobsbawm, ela apresentou dois conceitos: o de “teatro em ruínas”, que seria o teatro feito durante a maior parte da História, e o “teatro em forma”, utilizado para se referir ao “teatro por excelência”.
Tânia aproveitou, ainda, para mostrar uma série de fotografias de espetáculos que construíram a tradição brasileira, iniciada, segundo ela, no século 19. Ao exibir as imagens, ia comentando sobre aspectos ligados à fisicalidade e materialidade das cenas e pontuando elementos importantes dos cenários e figurinos.
Na sequência, Christine começou a questionar o que seria performance como gênero artístico e citando como referência o 8º Encontro do Instituto Hemisférico de Performance e Política, promovido pelo Hemispheric Institute, da Universidade de Nova York, e realizado numa parceria entre o instituto americano, o Sesc e a SP Escola de Teatro, em janeiro deste ano.
O conceito de treinamento, um dos assuntos pesquisados por ela, teve grande espaço em sua fala: “O treinamento começa no processo de constituição, antes da visibilidade do movimento”. De acordo com ela, o que se costuma chamar de pré-movimento já faz parte do movimento em si.
Falando sobre a performatividade como operadora de desestabilização, Christine recitou uma frase de Walter Benjamin, que se aproxima desse sentido: “As citações nas minhas obras são como assaltantes de tocaia na rua que atacam com as armas o passante e o aliviam das suas convicções”.
Beth Lopes foi a última a assumir o microfone: “Essa discussão sobre performance tem tudo a ver com teatro. Cada vez mais nos mesclamos e contaminamos”, assumindo a dificuldade de definir o gênero.
A artista situou três possíveis campos dos quais a performance poderia ter se originado: o primeiro seria o das artes visuais e suas manifestações ao longo do século passado; a segunda abordagem volta-se ao performance studies, que, segundo ela, “retoma a ideia de ampliação do teatro para uma instituição social”, e a terceira é a origem estética que influenciou o gênero. “O teatro vai se tornando cada vez mais performático. A performance nada mais é do que o próprio teatro”.
Dito isso, Beth passou a colocar como a performance poderia ser importante numa formação artística mais complexa. “Performance é um ser único. Para ela, o que está em jogo é a ideia de corpo-vida e teatro-vida”, afirmou, antes de exibir o vídeo de uma experimentação coordenada por ela em Santo André.
Esta foi a última mesa do Colóquio neste semestre. O evento segue em agosto, no dia 27, às 19h, quando Chico Pelúcio e Marcio Abreu discutem o tema “A pedagogia no teatro de grupo I”. O encontro é gratuito e aberto ao público.
Serviço
Colóquio: “O que é a pedagogia do teatro?”
Mesa 8: “A pedagogia no teatro de grupo I”
Com Chico Pelúcio e Marcio Abreu
Quando: Dia 27 de agosto, das 19h às 21h
Onde: SP Escola de Teatro – Sede Roosevelt
Praça Roosevelt, 210 – Consolação
Tel.: (11) 3775-8600
Grátis
Texto: Felipe Del