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Penso, logo fotografo

Publicado em: 27/05/2014 |

* por Bob Sousa, especial para o portal da SP Escola de Teatro


Já se disse que o analfabeto do futuro não será quem não sabe escrever,

e sim quem não sabe fotografar. 

(Walter Benjamin, na “Pequena história da fotografia”)


Por que a fotografia teatral é tão potente? Como ela pode representar um espetáculo teatral de forma tão bela?


Esse tema tão fascinante, que sempre motivou meu trabalho, agora passa a ser objeto da minha pesquisa.


A fotografia, assim como o teatro, opera na linguagem dos símbolos. Em seu estudo sobre a semiologia da arte do espetáculo, o pesquisador Tadeusz Kowzan delimitou os principais sistemas de signos de que uma encenação teatral faz uso. Dos 13 sistemas apresentados em sua pesquisa, nove deles são da categoria visual, ou seja, dialogam com imagem fotográfica. Partindo dessa ideia é possível imbricar uma série de relações entre a fotografia e o teatro, assunto que não pretendo aprofundar neste artigo.


O que me parece mais interessante trazer neste breve texto é a forma como esses símbolos podem ser “lidos” em uma fotografia.


“Ensaio.Hamlet”, da Cia dos Atores, no Sesc Belenzinho (Foto: Bob Sousa)

 

Na fotografia, como afirma Philippe Dubois, é preciso atravessar as camadas, procurar o negativo no positivo, a imagem latente no fundo do negativo, ir além, através. 


Uma foto não tem profundidade, não passa de uma superfície e sempre esconde outra, atrás dela, embaixo ou em torno dela. Não acreditar no que se vê. Despertar da consciência da imagem para a consciência do pensamento. É com esse exercício de leitura da imagem que podemos fazer uma relação entre o que vimos e o que continua impregnado na fotografia.


Problematizar as maneiras de ler a fotografia pode despertar o pensamento e o aprimoramento do olhar crítico para uma encenação teatral e, consequentemente, para a sociedade em que vivemos.


O teatrólogo alemão Bertolt Brecht (1898-1956) apresenta em sua obra o conceito de reflexão no qual é preciso pensar, raciocinar e, principalmente, estranhar aquilo que está dado como natural e que não pode mudar.


Segundo o professor Alexandre Mate, “o teatro transforma o indivíduo e os grupos, ajuda no processo de construção da chamada consciência crítica, promove revoluções interiores e pessoais ainda mais localizadas”.


Fotografar é sempre um ato de escolha, e para tomar essa decisão é preciso estar sempre de olhos bem abertos.


* Bob Sousa é fotógrafo de teatro e mestrando em Artes Cênicas no Instituto de Artes da Unesp sob a orientação do Prof. Dr. Alexandre Mate.

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