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“Padrões são mecanismos de controle sobre as minorias”, afirma a transfeminista Helena Vieira

Publicado em: 23/03/2018 |

A escritora e pesquisadora Helena Vieira durante palestra na sede Brás da SP Escola de Teatro. Foto: Bruno Galvíncio/SP Escola de Teatro

JONAS LÍRIO

Em mais um encontro que visa levantar reflexões sobre identidade e corpo, temas deste semestre em seus cursos regulares, a SP Escola de Teatro recebeu, nesta sexta-feira (23), a escritora e ativista transfeminista Helena Vieira. Na palestra, ela desenvolveu ideias relacionadas ao corpo como objeto de controle social. A plateia foi composta por aprendizes, formadores e coordenadores da Instituição.

A discussão vem do debate sobre corpos que desviam de padrões hegemônicos, tema que tem pautado a sociedade nos últimos anos. Em 2017, a novela “A Força do Querer”, em que Helena Vieira trabalhou como consultora, contou a história da personagem Ivana, que passou por um processo de transição ao se identificar como homem trans. Mesmo em meio à polêmica que dividiu o público e ativistas LGBT, a produção foi elogiada e terminou com a melhor média de audiência dos últimos cinco anos para a faixa horária do canal.

Apesar do destaque dado pelo folhetim escrito por Glória Perez, Helena Vieira acredita que a discussão sobre representatividade trans ainda tem muito o que avançar no Brasil.

No início do ano, a presença de jogadoras transexuais em competições femininas esquentou o debate sobre o que define um corpo como masculino ou feminino. Jogadoras de vôlei de times rivais reclamaram da participação de Tiffany Abreu, do time de Bauru, em jogos da Superliga, alegando que a atleta trans teria vantagem por ter se desenvolvido como homem.

Para a Helena, no entanto, a discussão deveria considerar que imposições sociais como a ideia de fragilidade da mulher servem para reforçar uma noção de que o corpo feminino é inferior – assim como seria o corpo negro e o de qualquer outra minoria identitária.

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“Padrões de gênero, raça e até classe social são mecanismos de controle sobre as minorias”, afirma a pesquisadora, que cursou Gestão Pública pela USP e hoje radicada em Fortaleza. Segundo ela, estes padrões foram definidos por uma parcela da sociedade ao longo de um processo histórico, passando a tratar como secundário tudo e todos que não se encaixam na definição de corpo “normal”.

“Nós precisamos encontrar qual é o fio condutor da opressão que vai da travesti espancada ao trabalhador precarizado. Qual é o ponto de união entre todas essas subalternidades?”, pergunta Helena. “Se nossas subalternidades não se transformarem em multidão, elas serão cada vez mais reapropriadas e nós seremos cada vez mais engolidos pela burrice da norma.”

Na próxima segunda-feira, Helena Vieira volta a conversar com os aprendizes da SP Escola de Teatro, no auditório da sede Brás. O evento, destinado aos estudantes do módulo azul, começa às 14h30 e vai até 15h30.

CORPOS DESVIANTES

Neste primeiro semestre de 2018, os estudantes dos cursos regulares da SP Escola de Teatro discutem em sala de aula temáticas relacionadas a corpos e identidades que desconstroem os padrões hegemônicos. Questões como gênero, sexualidade e etnias são abordadas em debates, encontros e palestras e servirão de base para os experimentos cênicos, atividades práticas desenvolvidas pelos aprendizes.

Na quinta-feira (22), os aprendizes do módulo azul assistiram a uma palestra do líder Yanomami Davi Kopenawa. Na conversa mediada pela atriz e pesquisadora Andreia Duarte, o xamã tocou em questões que movimentam a arte contemporânea, como apropriação cultural e sexualidade, e contou um pouco sobre os costumes do seu povo, a sétima maior tribo indígena do Brasil.




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