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Em palestra, líder indígena Davi Kopenawa fala sobre arte e denuncia exploração

Publicado em: 22/03/2018 |

A atriz e pesquisadora Andreia Duarte e o líder indígena Davi Kopenawa durante palestra na sede Brás da SP Escola de Teatro. Foto: Bruno Galvíncio/SP Escola de Teatro

JONAS LÍRIO

Um dos principais representantes da comunidade indígena brasileira, o líder Yanomami Davi Kopenawa conversou com aprendizes, formadores e coordenadores dos cursos regulares da SP Escola de Teatro, nesta quinta-feira (22). A palestra na sede Brás marca mais um encontro com reflexões relacionadas a identidade e corpo, temas deste semestre letivo na Instituição.

Na conversa mediada pela atriz e pesquisadora Andreia Duarte, o xamã tocou em questões que movimentam a arte contemporânea, como apropriação cultural e sexualidade, e contou um pouco sobre os costumes dos Yanomami, a sétima maior tribo indígena do Brasil, que vive na região Norte da Amazônia. O encontro faz parte das reflexões trabalhadas no módulo azul, que estuda performatividade.

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Para Kopenawa, a arte inspirada em povos indígenas produzida pelos napë – como ele se refere aos não-indígenas – tem importância por alcançar uma parcela maior da sociedade do que a arte feita por eles próprios. “É para lembrar que o índio ainda não morreu, continua aqui”, disse. Segundo ele, as produções do “homem branco” são uma forma de chamar atenção para erros das autoridades com relação aos povos tradicionais, historicamente massacradores no País. “É preciso aprender a respeitar a arte que nasceu da terra. Ela não é só nossa, porque somos todos um coração só”.

O xamã é um dos principais responsáveis pela demarcação de seu território, chegando a ser contemplado com o prêmio ambiental Global 500, da ONU, em 1988. “É bom conversar com essa geração, que são como novas árvores, porque as velhas já estão viciadas, não conseguem mais ouvir”, disse, se referindo aos estudantes da SP Escola de Teatro.

INVASÃO

No centro de uma perseguição de garimpeiros e empresários, o povo Yanomami luta para sobreviver. A região em que estão os indígenas é alvo de exploração ilegal do minério, que tem prejudicado e até ameaçado esta população. Porta-voz de denúncias contra este trabalho devastador, inclusive em fóruns mundiais, Davi Kopenawa reforçou as críticas ao garimpo, durante o encontro na SP Escola de Teatro.

O xamã afirmou que os exploradores voltaram a invadir o território Yanomami, levando consigo doenças que até então não haviam chegado lá e deixando um rastro de destruição pelo caminho. De acordo com um estudo publicado em 2016, feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), algumas aldeias chegam a ter 92% das pessoas contaminadas por mercúrio – substância utilizada no garimpo.

As questões urbanas que dizem respeito à especulação imobiliária e também à sexualidade, tão presentes nos debates contemporâneos, pontuaram parte da fala de Davi Kopenawa. Para ele, um dos maiores problemas da urbanização desenfreada de metrópoles como São Paulo é a devastação da natureza das cidades.

Davi Kopenawa em conversa com aprendizes e coordenadores da SP Escola de Teatro. Foto: Bruno Galvíncio/SP Escola de Teatro

CORPOS DESVIANTES

Neste primeiro semestre de 2018, os estudantes dos cursos regulares da SP Escola de Teatro discutem em sala de aula temáticas relacionadas a corpos e identidades que desconstroem os padrões hegemônicos. Questões como gênero, sexualidade e etnias são abordadas em debates, encontros e palestras e servirão de base para os experimentos cênicos, atividades práticas desenvolvidas pelos aprendizes.

Nesta sexta-feira, também no auditório da sede Brás, das 11h30 às 13h, são os aprendizes do módulo verde que assistem a uma palestra. A convidada é a pesquisadora e professora transexual Helena Vieira. Formada em Gestão Pública na USP e radicada em Fortaleza tem trabalhos ligados à militância LGBT e às lutas por direito de educação de qualidade e moradia digna.




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