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Os Militantes do Riso

Publicado em: 09/11/2011 |

A sala 26 servindo de espaço teatral. Em seu exterior, longas filas assinalando a curiosidade e ansiedade do público para descobrir cada detalhe dos processos de trabalho que seriam compartilhados. Nesse cenário, teve início, ontem (8), a semana de apresentações de cenas resultadas do Experimento do Módulo Amarelo da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco.

 

Uma colcha de retalhos. Assim, o Grupo 5, responsável pela abertura dessa etapa, definia o produto de suas investigações cênicas. Isso porque ele era composto por uma série de recortes de cenas, “costuradas” em torno de assuntos comuns entre elas, como sexualidade e exploração do trabalho.

 

Na primeira metade da apresentação, o Grupo levantou temas relacionados ao universo sacralizado do ser humano, no qual predominam a crença e a superstição. Tudo começa com a reprodução de vozes relatando experiências e histórias diversas que ecoam pelo ambiente, até que as luzes se apagam, o som para e a iluminação se torna vermelha. 

 

Daí em diante, as cenas se seguem. A primeira traz uma mãe trabalhadora que tem um filho “diferente”, afinal, além de ter um indesejável rabo de gato, seu comportamento e modo de pensar não são como os de uma criança “comum”. Para descobrir o que acontece com o garoto, a matriarca leva-o até um padre e, depois, a uma macumbeira, pois crê que seu problema é espiritual, talve “coisa do demônio”. Embora não oferecam grande ajuda, não deixam a mulher escapar de suas contribuições financeiras. 

 

Na sequência, uma das cenas que despertou mais risos e repercussão foi a da persistente galinha de macumba, que, aos cacarejos, não sedia aos golpes da mulher de branco. Até que, para surpresa de todos, sentada em cima da ave, a mulher solta uma flatulência barulhenta, que finalmente elimina o animal.

 

 

Carolyn Ferreira e Cristiano Carvalho durante a cena da galinha (Foto: Renata Forato)

 

Entre brincadeiras e piadas, troca constante de personagens e uma forte participação da sonoplastia, marcando presença com batuques e cantos, esta primeira história acaba com uma canção entoada pelos cinco atores, que satirizam a situação de exploração à qual são submetidos. A segunda parte tem início após uma gravação sobre a diversidade de religiões no Brasil.

 

A outra metade da apresentação retrata o mundo profano, com suas questões mundanas: o capitalismo, o trabalho e as relações humanas. Para começar, uma mulher grávida se vê em um programa de televisão, chamado “Viva o Povo Brasileiro”. Na cena, o público se transforma na plateia do programa e é instigado a rir e aplaudir conforme os pedidos de uma das personagens.

 

Em uma sequência de perguntas que colocavam em evidência a situação de exploração pela qual o brasileiro é submetido – muitas vezes tendo conhecimento disso – a convidada do programa erra a última questão, e, na cena seguinte, se “transforma” em uma atendente de telemarketing, que também sofre com a exploração de seu trabalho. Em uma de suas pausas, a mulher tem uma surpresa: seu tão aguardado filho “normal” está a caminho. Então, ele nasce e, para seu assombro, emite um ruído nada convencional: Miau!

 

O aprendiz de Humor Cristiano Carvalho, que, entre outras personagens, interpretou a grávida e a galinha, fala sobre a utilização do humor como terreno para críticas sociais. “Acredito que em vez de falarmos de assuntos sérios pelo viés do drama ou da seriedade, transformamos cenas ou personagens e atingimos uma leveza, um estranhamento, um deslocamento que leva à comicidade. Ao ver um novo ponto de vista, a plateia se pergunta se suas atitudes são certas ou erradas. Acho que esse é o alvo do nosso trabalho: fazer as pessoas se questionarem e reverem seus conceitos com bom humor.”

 

Uma das maiores expectativas do Grupo dizia respeito à reação do público diante de suas piadas. Segundo Carvalho, o resultado obtido os agradou. “Plateia é uma coisa muito louca. Eles reagem de formas diferentes. Nas duas apresentações, as reações foram bem distintas em alguns momentos. Mas, na minha opinião, conseguimos atingir o que queríamos em alguns pontos. Vamos decidir se faremos alguma mudança no encontro de quinta-feira.”

 

Um dos espectadores que mais se divertiu com as cenas do Grupo foi Luís Pini Nader, Controller da SP Escola de Teatro. Depois de deixar seu ambiente de trabalho e enfrentar fila para gargalhar com passagens como a da morte da galinha, Nader, que já estudou teatro, afirma ter gostado do que viu. 

 

“Achei muito engraçado, muito bom. Adoro o lado cômico, e acho o humor um ótimo caminho para se fazer críticas. A sonoplastia, a iluminação e toda a parte técnica estavam voltadas para a proposta. Outras coisas interessantes, na minha opinião, foram os atores realizando a troca de figurinos, e as entrevistas que eles fizeram, que revelavam a questão multifacetada do brasileiro”, comenta Nader.

 

Ainda assim, o principal aspecto ressaltado por Nader foram as brincadeiras desenvolvidas pelos atores. “Dava para ver que eles estavam se divertindo fazendo as cenas. Estavam jogando o tempo todo, isso é trabalho de ator e me agradou muito”, finaliza.

 

O Grupo 5 se apresenta novamente no sábado (12), entre as 14h e as 15h30.

 

 

 

Texto: Felipe Del 

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