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O Terceiro Dia

Publicado em: 03/04/2012 |

O terceiro dia de uma etapa de investigações e experimentação. Assim foi o Território Cultural realizado no último sábado (31) pela SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, que contou com a abertura dos Experimentos dos aprendizes do Módulo Verde (período matutino).

 

Sob influência da obra “Bella Ciao”, de Luís Alberto de Abreu – material de trabalho que norteia o Módulo –, os participantes, que estavam reunidos em oito núcleos compostos por aprendizes de todos os Cursos Regulares da Instituição, tinham o desafio de criar e levar para a sala de ensaio textos dramatúrgicos com temáticas inerentes ao universo do Brás, bairro no qual uma das sedes da Escola está inserida. 

 

A programação do dia foi aberta com uma Mesa de Discussão, que teve como convidado o Prof. Dr. José Antonio Vasconcelos, do departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP), que falou da pesquisa histórica como fonte para o processo de criação teatral.

 

Dentre os assuntos abordados por Vasconcelos, destacaram-se reflexões comparativas sobre a universalidade da poesia e da história e a criação poética e historiográfica, levantando questões em torno das formas narrativas, as personagens e outros elementos das duas modalidades.

 

Terminada a conversa, era hora de visitar as salas e conhecer os trabalhos dos núcleos do Módulo Verde.

 

 

Núcleo 1

 

O ritmo compassado dos tambores e a baixa intensidade da luz marcavam um território misterioso na sala do núcleo 1. Uma lâmpada vermelha pendia no teto bem no centro do espaço. Uma sirene estridente, então, coloca fim à escuridão, revelando atores entregues a movimentos repetitivos, em sincronia com os toques da percussão.

 

Ganhando em intensidade, as batidas eram acompanhadas pelo aumento do vigor com que os atores se movimentavam. Ao alcançar o ápice da tensão, os sons cessam, os atores entram em inércia. Tem início uma espécie de duelo pela liderança da “tribo”. O vencedor, que herdaria um bastão, seria desejado pelas mulheres e, sob seus pés, todos deveriam se ajoelhar. 

 

Filipe Brancalião, formador de Atuação e responsável pela orientação do núcleo, explica que a proposta trazida pela Dramaturgia e Direção era pautada na relação de mercado humano, extraída de um trecho de “Bella Ciao”, que relata a chegada de imigrantes ao País. Ao extrair as personagens deste contexto, os integrantes atualizaram a cena, mas mantiveram como foco o conceito. 

 

“O que aconteceu foi uma experimentação entre várias possibilidades, no esforço de tentar levantar uma cena desse texto, que tem como eixo essência/aparência, liberdade/necessidade – termos sugeridos pela Direção – e o grande tema, que é o mercado humano”, comenta.

 

Michely Ascari, aprendiz de Iluminação que integra o grupo, comenta sobre o processo de criação: “Tínhamos uma ideia como ponto de partida e começamos a fazer muitos testes em cima dela. Algumas coisas não estavam no roteiro da Dramaturgia e foram incluídas nessa experiência. E é um processo, a cada repetição, percebemos alguns detalhes que precisamos melhorar”.

 

 

Núcleo 2

 

Improvisação. Essa era a palavra que movia o núcleo 2. Isso porque, a cada nova cena, os integrantes se reuniam para propor novas situações e personagens. Essas experimentações giravam, em sua maioria, em torno de um tema comum: explorar a figura do trabalhador que tem como última alternativa vender a força de trabalho, ainda que sob condições precárias, como ressalta Martin Eikmeier, formador de Sonoplastia e orientador do grupo.

 

Cena de teatro de sombras do núcleo 2 (Foto: Felipe Del)

 

“Outra questão relevante é como o mundo do trabalho afeta a vida pessoal dos indivíduos. Com essas proposições, eles fizeram exercícios de improviso. Por esta razão, as cenas nunca foram iguais. Então, foram aprimorando a forma como os elementos (cenografia, figurino, iluminação e sonoplastia) estavam sendo introduzidos na cena”, avalia.

 

A quarta improvisação do dia, por exemplo, começava com um casal e sua filha assistindo a um jogo de futebol em casa, quando aparecem agentes emitindo uma ação de despejo por conta das dívidas da residência. Sem condições de quitar as pendências, o marido se vê impotente ao acompanhar sua esposa sendo estuprada por um dos cobradores – momento apresentado com o recurso do teatro de sombras. Ao fim, os três membros da família se abraçam devastados e aos prantos.

 

Rachel Seixas, aprendiz de Técnicas de Palco, destaca que a ideia inicial partiu de uma passagem do livro em que a personagem Genaro procura emprego pelas cidades, mas recebe o “não” dos encarregados. Então, com os incrementos das improvisações, outras situações foram sendo propostas. “Uma observação importante é que nós deixamos a sala aberta, pois ainda não fechamos uma cena. Os cenógrafos e técnicos de palco ficaram colocando objetos no meio da representação pra ver como os atores lidam com isso”, afirma.

 

 

 

 

Veja mais:

 

Sinal Verde

O Texto Dramatúrgico a Partir do Universo do Brás por Ivam Cabral

O Anonimato é Verde

Opressão Metropolitana

Saudosa Maloca 

Opressão e Risos

 

 


 

Texto: Felipe Del

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