A dramaturgia de Anton Tchecov, principalmente a peça “As três irmãs”, e a literatura de Julio Cortázar, em especial o conto “Casa tomada”, dialogam e se entrelaçam no espetáculo “Não vejo Moscou da janela do meu quarto”, que cumpre nova temporada na Sede Roosevelt da SP Escola de Teatro de 6 a 28 de setembro, com sessões aos sábados, às 21h30, e domingos, às 19h.
Com direção e dramaturgia de Silvana Garcia, a montagem – que tem iluminação de Beto Bruel (Prêmio Shell de Melhor Iluminador em 2001, 2005 e 2008) – foi criada durante a residência artística que a teórica, ensaísta e professora cumpre na Escola desde dezembro do ano passado. A peça estreou em junho.
(Foto: André Stefano)
Ambientada na década de 1950, “Não vejo Moscou da janela do meu quarto” traz a história de três irmãos que vivem o cotidiano confinados em uma casa que aos poucos vai sendo tomada por algo ou alguém que não se revela, ao mesmo tempo em que anseiam por uma viagem a Moscou, um lugar cada vez mais distante e desterritorializado.
De acordo com a diretora, “o processo de isolamento acompanha a deterioração de suas relações – provocando um deslocamento da ação para um registro de irrealidade, humor e suspensão poética”. A peça tem Maria Tuca Fanchin, Sol Faganello e Leonardo Devitto no elenco. Eles vivem os irmãos Irina, Macha e Andrei, que têm seus desejos de ir a Moscou freados por algo maior.
“Há nessas personagens um conformismo que as faz se adaptarem a todos os infortúnios. Ainda assim, alimentam a esperança e acreditam que haverá algo que valha a pena. Em Cortázar, os dois irmãos abandonam a casa e não podemos imaginar o que seria deles, porque só existem enquanto estão ali dentro. Pensei muito nisso e conclui que também para eles não há saída”, afirma Silvana Garcia.
Para criar a obra, Silvana “atualizou” o texto de Tchecov (escrito em 1900) para mais próximo da data em que Cortázar escreveu “Casa tomada” (1946) e, portanto, para mais perto do presente. Situou seu universo no fim da década de 1950, em meio ao conturbado e tenso período da Guerra Fria.
“Não acho que isso esteja tão distante de nossa atualidade. Mudaram os protagonistas, mas podemos ainda testemunhar na grande imprensa, diariamente, aqui e lá fora, indícios dessa mesma aversão ao que nos é estranho e diferente.” Elementos característicos da época, como a corrida espacial e os filmes de ficção científica também foram incorporados à temática da peça.
O projeto da montagem deriva da pesquisa que deu origem ao grupo lasnoias & cia., em 2005. Voltado à pesquisa de textos e dramaturgia contemporâneos, o coletivo inicialmente era vinculado à Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo, como núcleo de estudos e experimentação cênica, e logo em seguida profissionalizou-se. Seus dois primeiros trabalhos são: “Lesão cerebral” (2007) e “Há um crocodilo dentro de mim” (2009).
Em 2013, para abrir o processo ao público, foi criada uma performance chamada “Moscou, peça desmontagem”, apresentada durante a última Satyrianas. O projeto contou foi viabilizado por financiamento coletivo (pelo site www.catarse.me) e sem apoio de mecanismos de fomento à produção cultural.
“Gosto de dizer que, finalmente, me sinto madura para dirigir. Espero que possamos oferecer aos espectadores uma vivência poética, sensível e inteligente”, finaliza a diretora.
Ficha técnica
Concepção, dramaturgia e direção: Silvana Garcia
Criação: Maria Tuca Fanchin, Sol Faganello e Leonardo Devitto
Assistência de direção e de dramaturgia: Bruno Gavranic
Direção de arte e figurinos: Maria Tuca Fanchin
Cenografia: Ciro Schu
Iluminação: Beto Bruel
Pesquisa de trilha sonora: Maria Tuca Fanchin
Preparação corporal: Diogo Granato
Consultoria de voz: Mônica Montenegro
Preparação de canto: Andrea Kaiser
Apoio teórico: Elena Vássina
Filmagem em Moscou: Nikolay Erofeev
Edição de vídeo: Sol Faganello
Operação de luz: Danielle Meireles
Cenotécnica: Jimmy Wong, Yuri Cumme, Diego Gonçalves
Maquiagem: Juliana Rakosa
Cabelo: Sérgio G
Produção: Núcleo Corpo Rastreado
Assistência de produção: Jackie Dolstoy e Marina Gomes
Fotografia: Roberto Setton
Design gráfico: Marina Kanzian e Luca Bacchiocchi
Assessoria de imprensa: Arteplural
Serviço
“Não vejo Moscou da janela do meu quarto”
Quando: Sábados, às 21h30, e domingos, às 19h (de 6 a 28/9) *
Onde: SP Escola de Teatro – Sede Roosevelt
Praça Roosevelt, 210 – Centro
Tel.: (11) 3775-8600
Capacidade: 40 lugares
Classificação: 14 anos
Duração: 70 minutos
Ingresso: R$ 20
* No dia 20 de setembro não haverá apresentação
Texto: Felipe Del