Como delimitar e definir um gênero que carrega consigo, desde seu surgimento, justamente a marca do hibridismo, da transição entre os limites (até mesmo entre arte e não-arte) e do paradoxo? O escritor, pesquisador e performer Lucio Agra e a diretora e pesquisadora Beth Lopes, ambos convidados a acompanhar os Experimentos do Módulo Azul da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, parecem concordar que o essencial é fazer questionamentos em torno da performance para se chegar a algum lugar comum sobre ela.
Lucio Agra e Beth Lopes em palestra na Escola (Foto: Arquivo SP Escola de Teatro)
“A primeira coisa que podemos pensar sobre a performance e a performatividade é exatamente como se vive uma experiência estética artística. O que é essa experiência performativa? E qual é a diferença de se fazer no teatro – onde existe uma dramaturgia convencional, personagens, diretor e relações bem estabelecidas entre as áreas –, onde, em algum momento, essas formas vão se entrelaçando progressivamente?”, indaga Beth.
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Eu Performo, Tu Performas, Ele Performa
Apesar de não estar diretamente ligado ao teatro, e sim ter um “contato transversal” com ele, Lucio Agra afirma que sua principal busca é pelo “lugar” da performance. “Batalho há muitos anos por uma possibilidade de se pensar nesse lugar – um lugar de vários lugares ou de nenhum – que seria o da performance como linguagem, como forma de comunicação artística. Pode até ser pensado como algo que passa pelo teatro e vai além.”
Esta passa longe de ser a única questão que os estudiosos lançam acerca deste gênero. O próprio Agra comenta que, já há algum tempo, investiga o “tanto de coisas” que a performance poderia ser, mas, ao mesmo tempo, reconhece que muitas vezes não é possível distinguir os elementos que a caracterizariam.
Na hora de trabalhar a performatividade, o maior desafio, na opinião de Beth, é “como tornar concreta, crível e factível essa experiência que passa pela mediação e pela subjetividade de cada um, e como fazer isso chegar ao público concretamente”.
Agra complementa dizendo que no Brasil, onde a performance se manifesta há mais de cinco décadas, a modalidade é praticada constantemente. “Fazemos performance (no entendimento que se tem lá fora como sendo performance) 24 horas por dia. Somos um dos povos mais performáticos do planeta. Só temos que ver de que forma a gente lida com isso, como devoramos essa informação e, com isso, podemos fazer coisas interessantes”, finaliza.
Texto: Felipe Del