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Maura Hayas

Publicado em: 03/06/2013 |

Maura Hayas é atriz e jornalista

 

Como surgiu o seu amor pelo teatro?
Não sei se surgiu ou se já veio de “fábrica”. Desde que tenho consciência, eu me lembro de brincar de ser outras pessoas, encenar situações. Para brincar de casinha, eu montava todo o cenário; criava um Dogville no galpão do meu vizinho e ali representava as historinhas da minha cabeça. Sempre houve muitas histórias na minha cabeça. Fiz minha primeira peça no colégio, aos nove anos. Meu papel era a Fada Primavera de uma montagem de A Bela Adormecida. Lembro as falas até hoje. Acho que ali o teatro já estava definitivamente em mim.

 

Lembra da primeira peça a que assistiu? Como foi?
Tirando os infantis, a primeira peça que ficou marcada na minha cabeça foi a montagem de “Hair” dirigida pelo Abujamra, que eu assisti no Teatro Jardel Filho, em 1987. Eu tinha 18 anos, ainda vivíamos um momento político difícil e eu queria revolucionar o mundo. O teatro era o meu caminho.

 

Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro.
“O Livro de Jó”, do Teatro da Vertigem, em 1995, foi um baque e, ao mesmo tempo, uma das experiências mais libertadoras que eu tive no teatro. Acompanhar os atores por aquele hospital, “viver” com eles aquela história mexeu muito comigo. Eu queria mesmo estar ali.

 

Um espetáculo que mudou a sua vida.
Todos os espetáculos mudam a minha vida de alguma maneira. Não dá pra sair impune, a menos que você não esteja lá, que os atores não estejam lá, que o texto não esteja lá. Se cada um estiver presente, o teatro sempre muda algo na gente. Mas se você me perguntar sobre montagens que ficaram gravadas em mim, que eu uso como referência, das quais eu me lembro, que me tocam, posso citar o mesmo “Livro de Jó”, do Teatro da Vertigem; “Um Circo de Rins e Fígados”, direção de Gerald Thomas, com Marco Nanini; “Os Solitários”, direção de Felipe Hirsch, também com Nanini e Marieta Severo; “Centro Nervoso”, peça de 2006, um texto maravilhoso do Fernando Bonassi, com direção dele mesmo. Mais recentemente, “Palácio do Fim”, com direção do José Wilker, trouxe um monólogo da Vera Holtz que me cortou inteira. Sai desconcertada do teatro. Durante muitos anos, na minha adolescência, nos anos 80, eu fui sócia da Companhia Estável de Repertório (CER), criada pelo Antônio Fagundes e que funcionava como uma espécie de clube de teatro. Assisti a muitas montagens naquela época, graças à CER: “Muro de Arrimo”, “Cyrano de Bergerac”, “Nostradamus”, “Fragmentos de um Discurso Amoroso”, “Macbeth”, “Rei Lear”. Muda a vida ver tudo isso tão jovem.

 

Você teve algum padrinho no teatro? Se sim, quem?
Não tive padrinho, tive sorte. Em 2007, fiz um teste para uma peça com o Abujamra, passei e acabei fazendo dois trabalhos sob a direção dele: “Tchekhov e a Humanidade”, em 2007, e “Os Possessos”, em 2008. Foi nesse segundo espetáculo que conheci Michelle Ferreira, autora e diretora de “Os Adultos Estão na Sala”,
Ramiro Silveira e Solange Akierman, que hoje fazem parte de A Má Companhia Provoca. Teatro é espaço de encontros.


Já saiu no meio de um espetáculo? Por quê?

Nunca saí. Já tive vontade, mas fiquei constrangida.

 

Teatro ou cinema? Por quê?
Os dois. Sou meio bicho de teatro, então, tenho uma tendência de frequentar mais teatro, fazer mais teatro. Mas eu amo cinema. Almodóvar, Tarantino, Woody Allen fazem o cinema no qual eu gostaria de estar. Morro de vontade de fazer um longa. Já fiz muitos curtas, mas nunca um longa.

 

Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê?
Adoraria ter participado de “Náufragos da Louca Esperança”, do Theatre Du Soleil. Foi uma aventura maluca: ri, chorei, queria estar lá junto com eles.


Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê?
Sim, vários. “Anatomia Frozen” vi três vezes; “Agreste”, duas. Ambas dirigidas pelo
Marcio Aurelio. “In on It”, com direção do Enrique Diaz, assisti duas vezes, mas veria quatro, cinco se pudesse. “Romeu e Julieta”, do Galpão, vi três vezes. Poesia.


Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? E estrangeiro? Explique.
Vou falar só dos contemporâneos. Entre os estrangeiros, gosto muito de Neil Labute e do Daniel McIvor. Dos brasileiros, Michelle Ferreira. Sou fã, não porque trabalhamos juntas, mas porque ela tem um texto valioso, original, com personalidade. A dramaturgia brasileira precisa disso, desse frescor, dessa coragem de escrever que ela tem de dizer o que tem de ser dito.

 

Qual companhia brasileira você mais admira?
Admiro companhias que criam suas próprias histórias, mas não ficam estagnadas, viciadas numa única linguagem/pesquisa. Teatro, para mim, tem a ver com olhar para o mundo e o mundo é mais vasto do que o nosso umbigo. Nesse sentido, o olhar da Cia. dos Atores, do Rio, me agrada muito.


Existe um artista ou grupo de teatro do qual você acompanhe todos os trabalhos?
Todos não, mas gosto de ver os trabalhos da
Cia. Razões Inversas, do Grupo XIX, da Cia. dos Atores (RJ), do Grupo Galpão (MG).


Qual gênero teatral você mais aprecia?
Se for bom teatro, não importa o gênero.


Em qual lugar da plateia você gosta de sentar? Por quê? Qual o pior lugar em que você já se sentou em um teatro?
Se a peça é intimista, gosto de ficar na frente, mas se é uma produção grande, com muitos detalhes de cenário, luz, elenco grande, etc, aí prefiro ficar mais no meio pra ter uma visão geral. No fundo nunca, porque eu sou baixinha e sempre tem uma cabeça grande na minha frente. A fila E é o limite.

 

Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?             
Tem de tudo. Texto ruim com bom encenador; texto bom, com encenador ruim; texto ruim com encenador ruim; texto bom com encenador bom. E aí tem o componente elenco. E depois de tudo tem também o ponto de vista da plateia, que pode achar que são ótimos o texto ruim e o encenador ruim e vice-versa. Então, dá pra imaginar que em teatro é tudo bem relativo.

 

Como seria, onde se passaria e com quem seria o espetáculo dos seus sonhos?
Não tenho o sonho de ser Medeia. Meu desejo é sempre fazer um projeto virar realidade no palco.
 
Cite um cenário surpreendente.

“Os Náufragos da Louca Esperança”.

Cite uma iluminação surpreendente.
“A Javanesa”, com um desenho de luz delicado e surpreendente do Marcio Aurelio.


Cite um ator que surpreendeu suas expectativas.

Vera Holtz, em “O Palácio do Fim”. Eu esperava ver o sotaque caipira, os trejeitos da TV. Vi uma atriz magnífica que deu vida a uma mãe como eu nunca havia visto.

 

O que não é teatro?
Stand up. É mais show do que teatro.


A ideia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?

Defina tudo…


Na era da tecnologia, qual é o futuro do teatro?

O bom teatro se faz com pouquíssimas diferenças desde a Grécia Antiga e acho que vai continuar sendo assim. Afinal, só é preciso ter o que dizer, alguém que fale e quem ouça. Isso não vai mudar nunca. O resto é perfumaria.


Em sua biblioteca não podem faltar quais peças de teatro?

Shakespeare – Teatro Completo, Nelson Rodrigues – Teatro Completo, Odisseia, Becket (“Esperando Godot”/ “Fim de Partida”).


Cite um diretor (a), um autor (a) e um ator/atriz que você admira.

Autor: Michelle Ferreira; Diretor: Enrique Diaz; Atriz: Juliana Galdino; Ator: Fernando Eiras.


Qual o papel da sua vida?

Ser atriz. Foi para isso que vim a este mundo.


Uma pergunta para William Shakespeare, Nelson Rodrigues, Bertolt Brecht ou algum outro autor ou personalidade teatral que você admire.
Sem perguntas, eles já deram todas as respostas.

 

O teatro está vivo?
Deixar de acreditar nisso tiraria todo o sentido das coisas. Da vida, inclusive. Está vivo, sim, o teatro é imortal.

 

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